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Aviso na Grand Central Station incentiva os nova-iorquinos a terem um plano de tratamento para COVID-19, Nova York, EUA, 10 de janeiro de 2023.
Aviso na Grand Central Station incentiva os nova-iorquinos a terem um plano de tratamento para COVID-19, Nova York, EUA, 10 de janeiro de 2023.| Foto: EFE/EPA/SARAH YENESEL

Uma pesquisa da Gallup de 2018 descobriu que 62% dos americanos acreditam que a mídia é tendenciosa. Esse tipo de viés afetou a cobertura da pandemia de Covid-19? Eu lidero uma equipe de pesquisa no departamento de epidemiologia da Universidade da Califórnia em San Francisco. Em nosso relatório, o primeiro a analisar sistematicamente um jornal, encontramos evidências significativas de viés no New York Times, considerado por alguns como o jornal de referência, na cobertura da pandemia — tendendo a exagerar a ameaça representada pelo vírus.

Nosso estudo examinou todas as correções publicadas pelo New York Times para artigos relacionados à pandemia de Covid-19. Entre 2020 e 2024, o jornal emitiu 576 correções para 486 artigos. Naturalmente, em tempos de crise, diante de informações incertas e em constante evolução, os repórteres cometem erros. Às vezes, eles podem, por exemplo, relatar de forma exagerada ou insuficiente o número de crianças que morreram ou declarar incorretamente a eficácia de intervenções, como os lockdowns. Se as organizações de notícias não fossem tendenciosas, esperaríamos que tais erros ocorressem com uma frequência relativamente igual.

Mas não foi isso que encontramos. Em vez disso, os erros do jornal tendiam a exagerar os danos causados pelo vírus (ou a eficácia das intervenções). Correções foram feitas para tais erros quase duas vezes mais frequentemente do que para erros que minimizavam os danos. Cinquenta e cinco por cento dos erros exageraram o dano do vírus, enquanto apenas 24% subestimaram (os demais foram equívocos). Em outras palavras, quando o New York Times cometia erros, tendia a fazê-lo de uma maneira que fomentava falsamente o medo e incentivava restrições sociais prejudiciais.

Em outubro de 2021, uma correção particularmente notável dizia o seguinte — convidando a questionamentos sobre como tal erro extraordinário poderia ter sido publicado:

"Uma reportagem de quinta-feira(...) afirmou incorretamente o número de hospitalizações por Covid em crianças nos EUA. São mais de 63.000 de agosto de 2020 a outubro de 2021, e não 900.000 desde o início da pandemia.

Que bom que eles puderam corrigir isso.

Nem todos os repórteres foram igualmente culpados; alguns precisaram de mais correções do que outros. Uma em particular, Apoorva Mandavilli, foi responsável por 7% de todas as correções. Quando a “repórter de ciência e saúde global” cometia erros, ela tendia a exagerar o risco do vírus:

Essa mesma repórter é conhecida por relatar suas emoções em seus textos. Em 2021, ela tuitou o seguinte: “Algum dia vamos parar de falar sobre a teoria do vazamento em laboratório e talvez até admitir suas raízes racistas. Mas, infelizmente, esse dia ainda não chegou.” Até onde sei, o New York Times não realocou nenhum repórter da cobertura da Covid-19 por cometer erros — mesmo quando esses erros parecem ser subprodutos do preconceito subjacente do autor.

Nos últimos anos, o jornal tem enfrentado mais escrutínio sobre sua cobertura ideologicamente enviesada. O editor de opinião James Bennet, demitido por publicar um artigo de opinião do senador Tom Cotton no verão de 2020, escreveu um longo artigo na revista The Economist revelando como a ideologia progressista tomou conta a redação. Don McNeil foi demitido como repórter-chefe de ciência por comentários que ele fez anos antes. Vale notar que McNeil estava aberto à possibilidade da teoria do vazamento em laboratório, tendo publicado ensaios que reacenderam o interesse no assunto — em contraste com sua sucessora, Mandavilli.

De qualquer forma, as distorções do jornal estão alinhadas com seu viés político. Quando se tratava da Covid-19, os republicanos tendiam a ser mais céticos em relação às amplas intervenções governamentais e de saúde pública, como lockdowns, uso de máscaras por crianças e fechamento de escolas, e mais preocupados com as consequências negativas dessas medidas. O governador da Flórida, Ron DeSantis, reabriu as escolas do estado na primavera de 2020, contrariando o conselho de especialistas como Anthony Fauci, e se opôs ao uso de máscaras em crianças. Enquanto isso, os democratas passaram a apoiar políticas governamentais mais fortes, como a obrigatoriedade da aplicação de vacinas. O governo Biden impôs o uso de máscaras em crianças pequenas nos programas Head Start. A inclinação do New York Times nesses assuntos parece consistente com suas simpatias políticas tradicionais.

Deveria preocupar a todos que a mídia tradicional tenha mostrado um viés tão forte durante uma pandemia sem precedentes. Talvez nossa pesquisa possa estimular uma auditoria interna no Times para avaliar o papel do jornal em intensificar o medo e legitimar políticas sociais prejudiciais. No mínimo, os jornais deveriam implementar pesos e contrapesos mais substanciais para garantir uma cobertura mais equilibrada — e evitar promover o pânico indevidamente na próxima vez que uma crise surgir.

Vinay Prasad é hematologista-oncologista, professor associado de epidemiologia e bioestatística na Universidade da Califórnia em San Francisco, e autor de Malignant: How Bad Policy and Bad Evidence Harm People with Cancer [Maligno: Como políticas e evidências ruins prejudicam pessoas com câncer].

©2024 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: A Bias for Panic

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