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A expressão "extremismo" é muito utilizada, nem sempre com propriedade.
A expressão “extremismo” é muito utilizada, nem sempre com propriedade.| Foto: Pixabay

Depois do “fascista”, a palavra da moda é “extremista”. Se o presidente americano Donald Trump insiste em construir um muro na fronteira com o México, ele é extremista. Se o vice primeiro-ministro italiano Matteo Salvini é alvo de manifestações LGBT, é por ser extremista. O presidente Conselho de Relações Internacionais do Hamas, Basem Naim, já chamou o presidente brasileiro Jair Bolsonaro de extremista. E, no início de maio, o Facebook baniu figuras de direita. Afinal de contas, o que significa, de fato, ser extremista? É o mesmo que ser racista, machista ou contrário a minorias de gênero?

Em poucas palavras, um extremista em política é uma pessoa que se apega a conceitos simplistas e se recusa a entender que a realidade pode ser muito mais complexa. “É alguém que tem certeza de que sabe mais do que os outros e não aceita dialogar com quem pensa diferente”, explica o professor George Alba, líder do Grupo de Pesquisa em Ciências Comportamentais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.

Certezas em excesso

Alba é coautor de uma pesquisa que avaliou o comportamento extremista com 381 eleitores de três cidades gaúchas – é o estudo A Relação entre Extremismo Político, Ilusão de Conhecimento e Crenças Conspiratórias e seus Impactos nos Eleitores de Três Municípios do Rio Grande do Sul. “As pessoas com pensamento extremista tendem a imaginar que sabem mais do que sabem. E têm uma tendência grande a acreditar em teorias da conspiração”, explica o professor.

Esse é um comportamento, diz ele, observado tanto em pessoas que se consideram de direita quanto de esquerda. “Um extremista de esquerda tende a acreditar que existe uma conspiração de direita, e um extremista de direita busca colocar a culpa sobre dificuldades políticas do atual governo na oposição de esquerda”.

Com o agravante de que, precisamente por ter certeza de que estão certos, os extremistas se envolvem mais em manifestações políticas. “Quem é neutro, questiona tudo, é mais focado na complexidade dos fatos, tende a se envolver menos em campanhas e partidos políticos. Os extremistas fazem muito mais barulho”, afirma George Alba.

Mas uma pessoa nasce extremista? “Quem vê o mundo como se fosse um lugar simples, em que poucas certezas explicam tudo, pensa assim o tempo todo. Mas existem momentos de tensão e conflito político que fazem com que o extremismo latente se torne efetivo”, diz o professor. “É o caso do Brasil neste momento”.

Predisposição pessoal

Para o cientista político alemão Uwe Backes, professor da Universidade Técnica de Dresden e especialista nas causas do extremismo político, cada extremista é um caso único. “O comportamento extremista é sempre resultado de uma interação complexa entre condições sociais, econômicas e culturais”, afirma.

“Ele se baseia, muitas vezes, em uma predisposição pessoal, que inclui problemas de frustração e problemas de identidade. E é fortalecido por um contexto que estimula a agressividade e a competitividade com grupos de ideologias diferentes. Participar de um grupo que se mobiliza contra outro dá um senso de pertencimento”.

O extremismo, diz Uwe Backes, pode ser mais forte em alguns lugares do que em outros, dependendo as condições. “Em muitos países da Europa, as crises financeiras e o aumento dos movimentos migratórios produziram conduções favoráveis para o surgimento de grupos extremistas em alguns países onde esses movimentos não eram fortes há duas décadas”, exemplifica.

Líderes como Bolsonaro, Trump e Salvini são extremistas? Para George Alba, na democracia, altos postos de poder não permitem que um político se comporte, na prática, como extremista. “Nos discursos, principalmente durante a campanha política, eles até podem oferecer soluções simples para problemas complexos. Mas, no dia-a-dia da articulação política, as negociações são muito mais suaves do que parecem”.

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