Uma vez, quando eu era uma pequeno, fui a um jogo de beisebol para ver o jogador Hank Aaron. Ele já tinha feito 500 home runs e eu estava ansioso para vê-lo fazendo mais um. Fiquei desolado quando ele não conseguiu. "E ainda dizem que ele é um gênio", lembro de ter pensado. Com oito anos, só conseguia imaginar que eu poderia ter feito exatamente o que ele fez.
É claro que Hank sabia algo que eu, naquele momento, não sabia. A genialidade depende da média, não de cada uma das ações. Se cada vez que algo não der certo você imaginar que é uma fraude, você ficará louco.
O melhor jogador de bola que eu conheci quando eu era criança saiu do time porque ele não conseguia aguentar a gangorra de ser amado e odiado pelos colegas e pela torcida dependendo do resultado do último jogo. Em um momento, os outros membros tratavam ele como herói e seus pais estavam felizes. O próximo jogo tinha que ser igualmente incrível, ou as pessoas ficavam tristes e desapontadas. Ele seria evitado. A verdade é que nenhuma vitória dura. E isso é parte do jogo, mas esse menino não quis mais brincar e seguiu uma carreira onde a pressão é menos intensa.
Ainda assim, o problema de estar constantemente decidindo se somos bons ou terríveis no que fazemos, brincando com a crença que podemos ser gênios antes de se preocupar que seremos expostos como fraudes, é parte da vida.
Seu post é estúpido
Você pode ter uma experiência assim nas redes sociais em qualquer dia. Você pesquisa sobre um tema, desenvolve uma opinião sólida sobre o assunto e publica um texto sobre isso nas redes sociais. O resultado? Várias pessoas apontam sua ignorância apenas poucos minutos depois. Frequentemente esses críticos estão certos: há algo sobre o assunto que não sabíamos ou negligenciamos. Talvez não mude a nossa opinião final, mas certamente deveríamos saber disso antes de opinar sobre o tema.
Algumas pessoas ficam paralisadas pelo medo de errar e nunca dizem nada. Algumas pessoas são hábeis, mas não acreditam nisso realmente. Algumas são vítimas do que é chamado de Síndrome do Impostor, que é a crença que cada uma de suas realizações não depende de habilidade, mas sim de algum destes três fatores: são meramente uma questão de sorte, o resultado da ignorância de algum colega ou a capacidade de enganar um número suficiente de pessoas.
Na minha experiência, é mais comum que as pessoas se dividam entre a crença que elas são ótimas e terríveis no que fazem repetidamente, antes de acreditaram que estão, na realidade, em um ponto intermediário entre essas duas coisas.
Sou uma estrela ou uma fraude?
Um bom exemplo vem de um dos concorrentes do concurso de pianistas amadores Van Cliburn na década de 90. Ele disse: "Nunca antes me senti tão nervoso com uma apresentação e fico repetindo para mim mesmo que devo ser mais confiante, já passei das fases anteriores. Mas não consigo afastar o medo de ser uma fraude que teve apenas sorte de chegar até as finais enquanto os outros finalistas são profissionais, ainda que chamados de amadores. Eu sou ainda mais controlado por ser jornalista, o que não ajuda em nada. Psicologia reversa – não sou uma fraude, sou uma estrela – também não ajuda. Estrela, fraude – a minha única conclusão é que eu deveria me focar na música".
A reportagem foi publicada em 1999 e o trecho acima é um dos mais interessantes, na minha opinião. Ele mostra que a nossa busca para definir quem somos é baseada nas nossas habilidades e no que esperar da maneira com que outros nos tratam. Mas isso funciona, principalmente, na direção oposta. Nós pegamos informações do que as pessoas dizem sobre nós e inserimos isso na nossa autopercepção.
Assim como no beisebol, isso acontece durante toda a vida. Quando você faz algo incrível, todos lhe dão parabéns e falam sobre suas qualidades. Mas isso cria um novo problema: as expectativas aumentam. Isso é particularmente importante se você ganhou ou recebeu uma promoção ou um aumento: a partir de agora você tem que ser incrível, ou parecerá pouco merecedor do que ganhou.
Existe ainda outro problema em ser percebido como um gênio. Outros vão querer te destruir e revelar suas falhas. A inveja é a mais escondida e perigosa dos pecados mortais. Aqueles que são atingidos por ela ficam normalmente surpresos, porque esperavam que suas realizações fossem seguidas por elogios, não ressentimento ou esquemas nefastos. Mas a única maneira de evitar a inveja completamente é intolerável: nunca ser excelente.
Ignore todos
Uma solução é fazer o seu melhor e ignorar os estímulos externos. Michael Scott, do seriado The Office, está, mais uma vez, errado. Ele disse: "Não ouça seus críticos, só ouça seus fãs". Scott sendo Scott – arrogante, obtuso e inconsciente do absurdo que ele está dizendo.
Um padre amigo meu me deu um conselho melhor. Ele disse que eu deveria ouvir meus críticos, não meus fãs. Não ouvir os fãs é essencial para não se esconder atrás da percepção insustentável de que você é um gênio. E te deixa mais humilde. Mas a parte de ouvir seus críticos pode ser desmoralizante se você for longe demais – principalmente se você usa o Twitter.
O padre ecoa Santo Agostinho: "É fácil pensar sobre grandeza, aproveitar as honras, ouvir os elogios. Lidar com abusos, ouvir pacientemente reprimendas, rezar pelos insolentes, isso é compartilhar do cálice do Senhor, isso é compartilhar da mesa do Senhor".
Uma outra solução me parece equilibrada. E se todos são gênios em alguns momentos e fraudes em outros? E se todos nós formos uma mistura dos dois? Isso me parece ser uma resposta consistente com a observação de F.A. Hayek que a genialidade verdadeira é tanto individual quanto social. São características mutuamente dependentes e intimamente relacionadas. Da mesma forma, a percepção de que somos fraudes nada mais é do que a percepção de que a personalidade humana é imperfeita na frente da incerteza do tempo. Os dois são verdadeiros.
Ninguém se importa
No assunto de gênios, temos um hábito ruim de acreditar que a grandeza é personificada em uma pessoa, uma mente, uma vida. Mas Thomas Carlyle estava errado: nenhum homem é tão grande para ter o direito de governar seus companheiros.
Também não achamos gênios únicos na história das inovações, por exemplo. Apesar da reputação dos irmãos Wright, de Alexander Graham Bell e Eli Whitney, existe uma disputa em andamento sobre quem seria o primeiro homem a voar, o primeiro a inventar o telefone ou se o gim realmente melhorou depois que Whitney inventou sua máquina.
Historiadores ainda estão por descobrir invenções que sejam produto exclusivo de uma única mente. O que encontramos repetidamente é o fenômeno da descoberta múltipla, com várias pessoas competindo pelo título de primeira. É o motivo pelo qual cada vez mais o Prêmio Nobel é dado para um time de pesquisadores. Parece mais certo dizer que a genialidade está no ar e é percebida por diferentes pessoas em lugares diferentes, mesmo quando elas não têm contato umas com as outras.
Existem grandes perigos em atribuir o título de gênio para uma pessoa. Basta lembrar de 2008, quando houve uma caça para descobrir quem "previu a crise financeira" e então seguir suas escolhas de investimento. Deveríamos ter feito o oposto: descobrir as pessoas que previram a crise e ignorar qualquer coisa que elas tenham dito depois. Elas estavam quase todas erradas sobre o que aconteceria na decorrência da crise. É difícil distinguir uma previsão perfeita de um relógio quebrado que mostra a hora certa duas vezes por dia.
Eu me lembro de ter predito quase perfeitamente a data na qual a Bitcoin atingiria o preço de US$ 1.000. Uma pessoa me chamou e disse: "Não faça isso novamente. Você pode predizer uma data ou um preço, mas nunca os dois". É claro que logo a Bitcoin caiu para US$ 350. Não, eu não previ isso. Eu era um gênio ou uma fraude? Talvez, como todo mundo, eu tive uma intuição e não fui capaz de repeti-la com sucesso.
Toda certeza é fraudulenta
Qualquer um que quiser definir a genialidade como uma previsão perfeita sobre o futuro ficará decepcionado. Ninguém criou uma maneira de saber o que vai acontecer na trajetória do tempo. Continuamos procurando os profetas e pagamos quantias consideráveis a eles quando eles têm algum crédito científico. Mas dê tempo ao tempo: mesmo os maiores sabichões se tornarão mortais em algum momento.
Hayek nos mostrou que a genialidade individual não é necessária. As maiores formas de inteligência não vivem em indivíduos, mas em processos sociais ou em instituições que não são concebíveis por uma única mente humana. O resultado é uma ordem que nenhuma pessoa pode compreender ou descrever com precisão. Esse é o centro da defesa da liberdade: precisamos que o processo seja adaptável para se tornar mais inteligente e refletir uma variedade de inteligências que emergem da ação humana.
Onde isso nos deixa como indivíduos? Tudo que podemos esperar fazer é precisamente o que o pianista disse: "eu deveria me focar na música". Quero dizer que o melhor que podemos fazer é focar no que estamos fazendo. Você terá momentos de genialidade e momentos de fracasso, boas e más performances. Saber disso não é um complexo ou uma síndrome: é uma questão da vida.
Os músicos mais bem-sucedidos que eu conheço não são os melhores, mas sim os que trabalharam muito para chegar onde chegaram. Os "talentos naturais" raramente florescem, porque eles não precisam se esforçar. Ao mesmo tempo, aparentes faltas de habilidade se tornam habilidades porque temos motivação para superá-las.
Você sabe o que eu pessoalmente vejo como a melhor maneira para evitar essa gangorra emocional entre as duas pontas exageradas do espectro psicológico?
Seja feliz e melhore a si e ao mundo ao redor de você diariamente da forma que puder. Pare de se comparar com as imagens que os outros dão das suas vidas nas redes sociais. Seja rápido e empolgado para reconhecer a genialidade que encontra nos outros. Somos todos feitos do mesmo material e temos a mesma capacidade para alcançar o sucesso e o fracasso. Trabalhando juntos, podemos não criar o mundo perfeito, mas podemos deixá-lo melhor e mais bonito.
E isso já é o suficiente.
Conteúdo publicado originalmente no site da Foundation for Economic Education
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