No longínquo fevereiro de 2020, quando o coronavírus ainda era uma “gripezinha” atormentando a China, mais de 190 000 pessoas, majoritariamente jovens, se aglomeraram em três dos mais importantes estádios do Brasil, em São Paulo e Brasília, para um dos maiores eventos missionários do mundo: o The Send.
De matriz americana (por lá, as edições contam com nomes do calibre de Kanye West e Jared Leto), o movimento tem uma premissa bastante literal: engajar e “enviar” cristãos “comprometidos a transformar universidades, escolas e nações”.
Além dos nomes tradicionais da música gospel nacional, a versão brasileira do The Send recebeu a cantora Priscilla Alcântara, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e o presidente Jair Bolsonaro.
Ocorre que, em tempos de “dilema das redes”, o engajamento do The Send extrapolou em muito as fronteiras dos estádios do Morumbi, Allianz Park e Mané Garrincha. Durante os três dias de evento, o termo ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter. E as discussões em nada se pareciam, por exemplo, com as que sucedem uma noite de Rock in Rio.
Termos como “avivamento”, “calvinismo”, “arminianismo”, “a Grande Comissão”, “predestinação”, entre outras expressões circunscritas à teologia evangélica apareciam nos comentários, entre críticas e elogios ao próprio evento e, claro, às figuras que apareciam por lá.
Não se tratava apenas de avaliar se a música era boa ou ruim, mas de responder às questões teológicas, culturais e políticas que rondam o The Send: é possível “produzir” avivamento (entendido como uma ação especial de Deus sobre a terra), como pretende o evento? Convém que chefes de Estado participem? Os jovens evangélicos devem, afinal, pregar sua religião para outros povos? Seriam todos eles uma “massa de manobra” política?
As discussões acaloradas que emergiram nas redes deram força a uma expressão corriqueira, que se consagrou como a “hashtag” de uma nova geração de jovens evangélicos que se utiliza principalmente do Twitter para trocar referências literárias, debater (eventualmente, bater-boca), conversar e expressar sua fé sem amarras: os webcrentes.
Quem são?
É muito difícil definir, com clareza, quem são os webcrentes: assim o dizem os próprios adeptos do termo. Tampouco é possível estabelecer, exatamente, quando a expressão foi cunhada. A criação, contudo, é atribuída à mercadóloga Sara Fabiane, de 22 anos, frequentadora da Igreja Batista da Lagoinha (a mesma da ministra Damares).
“Eu sempre gostei de K-pop (pop coreano) e, graças ao Twitter, encontrei outras meninas evangélicas que são fãs. Onde, além da internet, eu encontraria crente que ouve K-pop? Fiz muitos amigos nesse meio e a expressão ‘webcrente’ surgiu de uma comparação com ‘webamigo’. É só um jeito de nos encontrarmos na rede”, explica Sara, que cultiva um longo cabelo cor-de-rosa. “A gente não se encaixa no estereótipo do crente de saia”, explica.
Como qualquer movimento jovem, os webcrentes têm suas referências, seu time de influenciadores, artistas, pastores e acadêmicos que, via de regra, protagonizam os debates. Com mais de 120 000 seguidores, somando Instagram e Twitter, a goiana Bruna Santini, de 24 anos, é uma das mais proeminentes representantes do grupo.
Influenciadores cristãos
Twitter: 91,6 mil seguidores
Instagram: 33,8 mil seguidores
Quem é: Uma das influenciadoras mais populares do universo webcrente. Embaixadora da Thomas Nelson e criadora de um clube do livro.
Twitter: 32,2 mil seguidores
Instagram: 6 mil seguidores
Quem é: Conhecida como a criadora do termo “webcrente”, também é embaixadora da Thomas Nelson e fã de K-pop.
Twitter: 20,5 mil seguidores
Instagram: 56,3 mil seguidores
O que é: Podcast criado em 2011 pelo radialista Rodrigo Bibo. É muito ouvido e respeitado pelos webcrentes, que já chegaram a ser tema de um episódio especial.
Twitter: 117,1 mil seguidores
Instagram: 1,2 milhão de seguidores
O que é: Dos projetos referenciados pelos webcrentes, o Jesus Copy, do pastor Douglas Gonçalves é um dos mais representativos da rede. Define-se como um “Kingdom influencer” (influenciador do reino).
Twitter: 49,2 mil seguidores
Instagram: 160 mil seguidores
Quem é: Criador do maior canal de teologia reformada do Brasil, com mais de meio milhão de inscritos no YouTube.
“Comecei a usar o Twitter no ano passado porque o Facebook virou só militância - o que é até engraçado de se dizer hoje em dia. Percebi que é um ambiente bacana para encontrar jovens que tinham dilemas iguais aos meus e que se interessam por teologia”, explica Santini.
Às primeiras notícias sobre o The Send que traziam menções aos webcrentes, a comunidade reagiu com desgosto. “Todo mundo entendeu como pejorativo, como se webcrente fosse cristão apenas na internet”, diz a influenciadora.
Santini e outros jovens decidiram abraçar a nomenclatura. “Coloquei na descrição do meu perfil no Twitter e comecei a defender de que, na verdade, reunir os jovens evangélicos através da hashtag #webcrente seria uma boa ideia”, conta. Até hoje, só no Instagram, a expressão já foi usada mais de 8700 vezes (considerando a variante no plural).
A presença cristã na internet, é claro, não é novidade. Adeptos ferrenhos das novas tecnologias da comunicação desde a década de 1960, quando surgiram as primeiras participações evangélicas na TV brasileira (lá fora, Billy Graham já dominava as telas nos anos 1950), os “crentes” protagonizaram movimentos que ganharam forma e vigor na internet, como o “Eu Escolhi Esperar”.
"A gente não se encaixa no estereótipo do crente de saia" - Sara Fabiane
Ocorre que o Twitter, com a velocidade típica das novas redes e suas cascatas de respostas, compartilhamentos e marcações, alavancou a presença evangélica a ponto de impactar transformações no mercado - e no dia a dia das igrejas.
“Quem está vendo de dentro tem a sensação de que é uma comunidade. Eu sempre insisto no Twitter que não é mais necessário ser um pastor ou alguém com títulos para compartilhar sua experiência, e isso abriu a porta para várias pessoas que estão ali e são cabeças pensantes. Às vezes, a comunidade webcrente faz mais barulho do que as personalidades cristãs que tem milhões de seguidores”, diz Santini.
Nas terras do Instagram também abundam influenciadores que, embora nem sempre afeitos à terminologia “webcrente”, fazem parte do círculo: versículos bíblicos, dicas de livros e reflexões de cunho cristão aparecem entre fotos de família, dicas de moda e lifetyle. Há até filtros destinados ao público - “Graça”, criado por Santini, e as brincadeiras “Eu Nunca/Eu Já” e “Que tipo de webcrente você é?”. No Tik Tok, vídeos com brincadeiras que remetem ao universo evangélico. Tudo dentro da ortodoxia cristã.
A própria Bruna, que é casada, é frequentemente questionada sobre a opção de ter vivido um namoro de “corte”: sem beijos até o casamento. “E olha que eu nem falo muito sobre isso”, alega a goiana, que lidera um clube do livro com mais de 2000 participantes e é embaixadora da editora Thomas Nelson, o braço cristão da gigante editorial Harper Collins.
Cosmovisão cristã
O mercado literário, aliás, é um dos que melhor se aproveita dos hábitos de consumo da geração webcrente. Nos últimos três anos, a Thomas Nelson Brasil viu seu faturamento aumentar em 76% - no esteio de publicações que outrora passariam longe do mainstream evangélico. “Cristianismo Puro e Simples” e “Cartas de um Diabo ao seu Aprendiz”, do britânico C. S. Lewis (que não são nada simples, diga-se de passagem) estão entre as cinco obras mais vendidas pela editora, fenômeno que o diretor editorial Samuel Coto credita, principalmente, ao engajamento da nova geração.
"Às vezes, a comunidade webcrente faz mais barulho do que as personalidades cristãs que tem milhões de seguidores" - Bruna Santini
“Eles estão passando da adolescência para a vida adulta e tornando-se consumidores em massa. Trata-se de um público um pouco elitizado e heavy user de leitura. São primordialmente reformados e incorporam a religião à identidade”, avalia Coto. “O consumo de leituras mais “densas”, de teor teológico, é parte desta nova personalidade. O mercado editorial cristão sempre foi marcado por best-sellers mais ‘rasos’; e agora emplaca títulos mais ‘cabeça’”, explica.
Entre os autores favoritos da geração - alguns alocados na própria Thomas Nelson, outros nas demais editoras do ramo -, estão o pastor britânico N. T. Wright e os americanos Tim Keller, R. C. Sproul, John Pipper, e Paul Washer, por exemplo. Como extensão da própria premissa protestante de valorização da Bíblia como única fonte de verdade, os jovens evangélicos ajudam a modificar a estética do livro mais vendido do mundo: basta uma zapeada nas principais livrarias para perceber que o modelo de Bíblia de capa preta ficou para trás.
Nesse esteio, o projeto JesusCopy, que conta com mais de 1,2 milhões de seguidores no Instagram, é outro dos grandes sucessos do meio. Com uma versão minimalista de Cristo com fones de ouvido como logo, o grupo liderado pelo pastor Douglas Gonçalves, formado em psicologia e com experiência em design gráfico (daí o toque cool da marca), é um dos mais representativos da cultura webcrente.
“Nós sempre nos preocupamos muito com a estética porque queríamos que o jovem tivesse prazer de andar com a Bíblia. Acreditamos que a beleza prega”, afirma Gonçalves. No portal, planners, cadernos de estudo, camisetas e outros acessórios também ganham ares descolados; tudo para demarcar, aos moldes da nova geração, as lentes pelas quais estes jovens afirmam enxergar o mundo: uma cosmovisão cristã. “Por muito tempo, o cristianismo foi colocado como pertencente apenas à vida privada. Essa comunidade veste a camisa, conectando a religião à personalidade”, explica o pastor.
Por conta desta forma de ver o mundo, nenhum assunto escapa aos perfis de Twitter, Instagram e grupos de WhatsApp webcrentes: rotina de trabalho, estudos, notícias, vida de oração, amizade, casamento, cultura pop, sexo. Da menção à “cristofobia” pelo presidente Jair Bolsonaro aos trajes de batismo do casal Justin e Hailey Bieber, tudo vira debate.
Polêmicas contemporâneas
Ganham espaço, é claro, temas espinhosos com os protestos do Black Lives Matter, o preconceito contra o público LGBT e a participação feminina na igreja. “É uma comunidade de jovens que está entre seus 17 e 28 anos e está formando sua consciência política em plena polarização, tentando conciliar a fé com os desafios contemporâneos”, explica o cientista político Igor Sabino, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para Sabino, parte da produção editorial voltada para temas quentes como racismo, machismo e homofobia, é reflexo da pressão webcrente, como é o caso do recente lançamento nacional de “Garota Gay, Deus Bom” (Gay Girl, Good God), da ativista americana Jackie Perry Hill, uma jovem reformada que, após anos de relacionamentos homossexuais, casou-se com um homem.
“Ela desafia o mainstream evangélico americano por não defender ‘terapias reparativas’ e dizer que sua história não deve servir como padrão. Fala também sobre racismo e sobre os abusos que sofreu por ser mulher”, explica Sabino. Textos de Keller e Piper sobre racismo estrutural também surgiram em meio às polêmicas do BLM.
"Nós sempre nos preocupamos muito com a estética porque queríamos que o jovem tivesse prazer de andar com a Bíblia. Acreditamos que a beleza prega" - Pastor Douglas Gonçalves
O podcaster Rodrigo Bibo, criador do Bibotalk, um dos mais antigos e populares podcasts voltados para o público evangélico avalia que a voz das redes faz diferença. “Não sou pautado por eles, mas eu os ouço”, conta Bibo, que já produziu um episódio especial justamente sobre webcrentes. “A moçada discute os trending topics da semana com uma cosmovisão cristã. Tempos atrás levantaram a hashtag #teologiadasminas e fizemos um episódio sobre ministério feminino”, diz o apresentador.
Nem sempre dá para agradar a gregos e troianos. “Quando aconteceu o caso George Floyd, falamos sobre racismo e teve gente cobrando a participação de um negro; mas nós entendemos que o problema é teológico. Além disso, quando eu trouxe militantes da causa racial, reclamaram que o programa era de esquerda”, conta Rodrigo Bibo. “A comunidade webcrente não é homogênea e, se você não estiver seguro do que fala e ceder a toda pressão, vai acabar ficando louco”, avalia.
A saraivada de assuntos, debates, polêmicas e críticas chegou a gerar rusgas na relação de alguns líderes tradicionais com os jovens webcrentes. Santini, por exemplo, já foi acusada de liderar “um bando de rebeldes” e recebeu ligações de pastores interessados em melhorar sua relação com a turma.
Falar de comportamento cristão, política ou teologia, afinal, não é mais função exclusiva de quem sobe ao púlpito. “Quando mais novo, nunca fui incentivado a estudar a fé. Hoje, com tanta informação disponível, o jovem tem embasamento para pensar que ouviu tal coisa na igreja, mas na internet alguém falou diferente”, diz Bibo.
Nesse contexto, nenhum pastor está à salvo: se, por um lado, grandes lideranças pentecostais e neopentecostais como Silas Malafaia, Edir Macedo, Robson Rodovalho e R. R. Soares passam longe dessa geração, por outro, os reformados que hoje inspiram a juventude webcrente também lidam com o escrutínio constante.
À frente do canal Dois Dedos de Teologia, que conta com mais de meio milhão de inscritos, o pastor Yago Martins, de 28 anos, é um dos expoentes evangélicos na internet que, embora reconheça os benefícios da democratização da informação (ele mesmo é o autor de mais de 500 vídeos que abordam de complexas teorias teológicas a sucessos da cultura pop), ressalta os revezes do ambiente.
“A facilidade do acesso ao conhecimento dá espaço para gente que nunca passou pelo esforço moral e pessoal de buscar esse conteúdo nos livros. São várias cabeças vazias, cheias de informação. O debate tem um verniz intelectualizado, mas não é”, diz Martins, para quem a “bolha” webcrente sofre dos vícios modernos da distorção e do cancelamento.
“Outro dia respondi no Instagram que sexo e comida ajudariam uma moça a agradar o marido. No Twitter, repercutiam como se eu tivesse dito que mulher só serve para isso, até o ponto em que me acusaram de defender estupro”, narra.
Apesar das polêmicas, Martins continua a repercutir e interagir no meio webcrente que - garantem os participantes e observadores - tem alguma tolerância a divergências. Além do cearense Martins, pastores como o Douglas Gonçalves, o casal gaúcho Ângelo e Carol Bazzo, o catarinense Filipe Falcão, o paulista Jonas Madureira, o mineiro Guilherme de Carvalho (colunista da Gazeta do Povo) e o carioca Antônio Carlos Costa estão entre os que, vira e mexe, são ouvidos, retuitados e referenciados pelo grupo, ainda que resguardem diferentes posicionamentos ideológicos.
Direita ou esquerda?
A emergência dos webcrentes com seus novos hábitos de consumo, novas posturas e novos líderes está inserida no contexto do que se conhece por “movimento calvinista reformado”, como explica Igor Sabino. “Este movimento, surgido nos Estados Unidos entre os anos 2000 e 2010, buscava combater os excessos das igrejas pentecostais e neopentecostais, e angariou o apoio de muitos jovens ao se colocar como uma ‘elite intelectual’”, descreve o cientista político.
Ocorre que, em tempos de polarização, nenhum ambiente escapa ao problema. “Desde a eleição de Jair Bolsonaro, as diferenças marcantes entre os pentecostais e os reformados diminuíram. O pessoal que antes falava mal do Silas Malafaia, por exemplo, não fala mais, porque tem a mesma agenda política. A nova geração está notando este descompasso e está cobrando seus pastores: ser ortodoxo não significa, necessariamente, ser de direita”, afirma.
Se já é difícil “mapear” a comunidade webcrente, classificá-la como “de esquerda” ou “de direita” é uma façanha. “Os webcrentes são profundamente ortodoxos na essência. Este crente contemporâneo não rejeita o debate moderado, então sempre haverá conflito se um pastor fizer o antigo combo de reacionarismo e fé”, avalia Eric Balbinus, ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) e criador da página Metanoia.
“O crente tende a ser mais conservador, mas o progressismo está ganhando espaço. Eu sou um cara de direita que sei que tenho que tomar muito cuidado com o que digo porque a galera pode se ofender”, admite Martins, para quem, assim como Balbinus, a maior parte dos influenciadores webcrentes se enquadra entre o centro e a esquerda. “A maioria defende pautas sociais a partir de forças do governo, defende redistribuição de renda, entre outras medidas; mas aceita dialogar com quem tem uma produção teológica respeitável”, completa.
À frente da ONG Rio de Paz, que luta principalmente contra a violência urbana no Rio de Janeiro, o pastor Antônio Carlos Costa é alvo de críticas por posturas consideradas de esquerda por alguns evangélicos e já foi alvo de ataques por conta de seu trabalho social. Ainda assim, é apontado pelos influenciadores como uma liderança relevante no meio. “Eu gosto da produção do Antônio e do Yago e percebo que muitos webcrentes sentem o mesmo. Essa é, aliás, uma vantagem dessa geração: ela não fecha mais com pacotes completos”, avalia Rodrigo Bibo.
Para Antônio, a crise de representação que assola a igreja evangélica jovem está longe de ser compreendida pela academia, pela mídia e pelos próprios evangélicos. “É uma igreja difícil de ser compreendida pelos setores de esquerda e de direita que vivem tentando arrastá-la para a briga política. E o problema começa no púlpito, quando os jovens recorrem a pastores que não têm humildade para dizer ‘não sei’”, avalia o carioca.
Embora o mercado e algumas lideranças estejam, de fato, se adaptando às demandas dos webcrentes, alguns pastores - principalmente ligados ao bolsonarismo - ainda resistem. “Se os líderes reformados não encararem de frente as perguntas sobre política, sobre cuidado com os pobres, sobre discriminação, se não pararem de associar a fé reformada a um conservadorismo à la Donald Trump, essa geração vai abraçar a esquerda radical”, alerta Sabino, em referência ao relativismo evangélico.
“Muitas vezes os que defendem as pautas identitárias romperam com valores inegociáveis do cristianismo ao identificá-lo com o marxismo, e perderam o interesse pela evangelização; por outro lado, há os que se recusam a compreender que Cristo tem algo a dizer sobre os sofrimentos dessas minorias que historicamente são alvo de preconceito. ”, diz Costa que, contudo, se diz muito mais preocupado com a predileção dos jovens pela militância virtual, ao invés do engajamento com pautas reais, bem como a capacidade de manter uma unidade apesar das diferenças. “A igreja deveria estar apresentando para o Brasil uma alternativa para a polarização”, avalia.
Índice de Popularidade Digital
“Há uma distância muito grande entre a galera que está no Twitter e o eleitorado que se informa por correntes de WhatsApp. Pode haver crescimento de alguns líderes, mas repare que os webcrentes mais populares quase não falam de política. Isso não é nada perto dos famosos que estão colados ao bolsonarismo”, avalia Sabino, para quem a comunidade webcrente está longe de representar uma mudança no cenário evangélico nacional.
Uma pesquisa exclusiva feita pela consultoria Quaest com base em uma lista de perfis ligados à comunidade webcrente demonstra, contudo, que embora em números absolutos perfis como os de Silas Malafaia e Edir Macedo superem em muito a maioria dos influenciadores webcrentes, outros indicadores ajudam a dar peso à comunidade.
O Índice de Popularidade Digital da Quaest mede fama, engajamento, mobilização e valência dos perfis. O indicador fama é medido pelo número absoluto de seguidores, enquanto engajamento considera o número de reações e comentários pelo número de posts nas redes sociais. Mobilização mensura o total de compartilhamentos de conteúdo e valência a proporção de reações positivas por reações negativas em cada postagem. Cada um destes itens recebe uma nota de 0 a 3.
O projeto Jesus Copy, por exemplo, teve uma nota geral de IPD superior ao de Edir Macedo entre maio e junho deste ano; enquanto o podcast Bibotalk está à frente do pastor Robson Rodovalho, outro figurão do neopentecostalismo.
Além disso, embora o líder da Igreja Universal mobilize seus seguidores 0,46 ponto a mais do que o projeto do pastor Douglas Gonçalves, o Jesus Copy possui mais interações positivas: são 1,41 ponto de valência, contra 1,05 de Macedo. As redes do Jesus Copy e do Bibotalk também superam, em valência, os perfis de Macedo e Malafaia (este, o campeão de fama).
“A igreja deveria estar apresentando para o Brasil uma alternativa para a polarização” - Antonio Carlos Costa
Quando se trata de engajamento, alguns webcrentes não estão distantes do líder da Universal e Rodovalho (com 1,05 e 1,01 ponto, respectivamente). Os influenciadores Yago Martins, Bruna Santini e Lívia Bember (1,05; 1,03 e 1,08 ponto) estão no páreo, capacidade similar de engajar seus seguidores no ambiente virtual.
Silas Malafaia, o líder da Assembleia de Deus, é o campeão absoluto em mobilização virtual. Seus outros índices, entretanto, são superados por uma personalidade que, embora presente no palco do The Send, não poupa críticas ao presidente Jair Bolsonaro e emerge como uma das maiores influenciadores evangélicas na internet (ainda que não seja adepta do termo webcrente): a cantora Priscilla Alcântara.
Entre excessos, faltas, erros e acertos, a nova geração de evangélicos triunfa ao não se deixar homogeneizar. Da plateia do The Send, em fevereiro, Sara Fabiane apreciou a fala da ministra Damares Alves sobre adoção infantil (“um ponto que a gente precisa mesmo olhar”), mas faz coro aos que criticam premissa do evento de “promoção do avivamento” e do marketing político que se agarra ao palco. “O Bolsonaro se converteu pela vigésima vez. Daqui a dois meses, ele se converte de novo”.
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