A jornada do lutador Zion Clark é inspiradora. Nascido sem as pernas, ele foi entregue para adoção pelos pais, sofreu negligência e abuso, mas descobriu uma nova vida ao se dedicar aos esportes. Hoje, ele é um renomado lutador. A sua história é contada no curta-metragem “Zion”, que estreou em agosto na Netflix.
Zion nasceu em 29 de setembro de 1997 na cidade americana de Columbus, Ohio, sem as duas pernas. Não bastasse a limitação física da síndrome ocasionada pela chamada “regressão caudal” – má formação congênita que, no caso dele, impediu que o corpo se desenvolvesse da cintura para baixo durante a gestação – foi abandonado pelos pais biológicos. Viveu em sete ou oito orfanatos, segundo sua própria estimativa. Passou fome e apanhou muitas vezes, conforme recorda. “Não vou mentir, eu não era bonzinho. Com tudo isso, tive uma atitude ruim em relação a muitas coisas”, diz o atleta ao lembrar a própria infância.
O modelo que ajudou Zion a forjar sua própria história foi o também lutador Kyle Maynard, que superou a amputação congênita dos seus braços e pernas para se tornar o primeiro homem a subir de gatinhas o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia.
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O ídolo de Zion teve a história contada em um livro chamado “No Excuses” (Não tem desculpa, em tradução livre), e possivelmente tenha feito Zion se sentir privilegiado, com menos razões para dar desculpas. Afinal, o lutador ainda tinha seus dois braços, fortalecidos de maneira extrema pelo exercício de caminhar com o corpo apoiado sobre eles e poderia fazer pleno uso deles. A frase está tatuada de maneira ampla em suas costas.
Praticante do wrestling desde antes dos seis anos, teve uma primeira grande oportunidade graças ao esporte. Mudou-se de North Canton para Massillon, ambas no estado de Ohio, para começar a lutar competitivamente. Ele admite que não sabia bem o que estava fazendo no início. “Me disseram apenas para me agarrar nas pernas do adversário e tentar derrubá-lo. Não tinha técnica, mas era a coisa mais divertida do mundo!”, contou em entrevista à universidade de Kent State, onde atualmente estuda administração de empresas.
Durante toda a infância não teve vitórias como lutador. Mas elas começaram a aparecer na juventude. Com peso de 40 kg, foi incluído na categoria destinada a pesos-pena, de 50 kg. Acabou entre os oito estudantes-atletas mais bem colocados de wrestling no país e ostentava um registro de 15 vitórias em 33 combates em Massillon na época de sua formatura.
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Foi ao conhecer o técnico Gilbert Donahue que Zion acabou apresentado a uma nova técnica de lutar e a um novo significado para a palavra motivação. “Descobrimos quais técnicas faziam com que tivesse sucesso e quais seriam impossíveis de empregar. Exploramos seus pontos positivos e aprimoramos com rigor as mais viáveis para a sua condição. E foi assim que o estilo Zion nasceu", contou Donahue em entrevista à ESPN.
Motivação
O técnico ainda teve um papel motivacional sobre seu garoto. “Ele me pressionou além do limite da exaustão. Quando eu fraquejava, tinha as palavras certas para me levantar e me manter no jogo”, explicou o atleta. Sua receita é tentativa e erro e o mantra “não tem desculpa”.
No último ano antes da formatura, foi derrotado por um rival que estava em quarto lugar no ranking do estado de Ohio. Nesta luta, o rival de Zion pulou sobre ele e acabou acertando sua cabeça.
“Meu nariz sangrou, tive um corte no olho. Precisei receber um curativo para prosseguir. Disse ao técnico que não conseguia mais. Donahue respondeu ‘você chegou até aqui, precisa continuar dando tudo. Não venha com desculpas’, foi seu discurso”, relembrou Zion.
Outro esporte no qual o lutador vem se destacando é o das corridas em cadeira de roda. Usando um equipamento especial de três rodas, operado apenas com a força dos braços e do tronco, Clark mesmo assim consegue atingir uma velocidade incrível na pista, chegando a cerca de 32 km/h.
“A cadeira é bem difícil de controlar. Tentei desistir, mas meu técnico falou comigo e colocou minha cabeça no lugar”. E mais uma vez veio a superação: o lutador foi mais uma vez capaz de se superar e se tornar o atleta especial mais rápido de Ohio. Em 2016, venceu nas categorias de 100 metros e 400 metros, chegando ainda em 3º nos 800 metros.
Mas é no wrestling que Zion teve até o momento sua maior conquista. O fim de sua carreira como lutador secundarista foi ovacionado por uma multidão de algumas centenas de pessoas no ginásio de Massillon. Donahue o ergueu após uma derrota honrosa e o momento ficou para a posteridade como a possível cena de um filme. O filme, um curta-metragem de 11 minutos, pode ser visto por assinantes na Netflix.
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