Método construtivo
Novos métodos podem contribuir para sustentabilidade
"Além da indústria dos materiais, outro problema para que a construção civil tenha o estigma de poluidora são os métodos construtivos usados no país, que são antigos e estão obsoletos", indica o professor da USP José Goldemberg. Para ele, a inovação na forma de construir também vai contribuir para a evolução na indústria que é base para a construção.
Mais que empilhar tijolos e uni-los com cimento, as empresas que lidam com a construção buscam formas mais baratas e menos incertas para construir. Alvenaria estrutural e por meio de blocos estão entre elas. O sistema woodframe, em que paredes e lajes são produzidas sob medida nas fábricas também são considerados "verdes".
"Industrializar o processo construtivo acaba sendo mais econômico e menos poluidor. Numa obra onde esse sistema é usado, há redução de 80% da emissão de carbono e 85% dos resíduos de obras", defende Caio Bonatto, diretor da Tecverde, empresa que produz paredes. "Usar sistemas é ter a garantia de preço e prazo", acrescenta.
A utilização de novas formas de construir esbarra na cultura, de acordo com Bonatto. "As empresas estão trazendo a tecnologia e agora precisamos adequa-la à norma e ao cotidiano das pessoas. Esse processo ainda está iniciando no país, mas ainda vamos precisar vender, além da tecnologia, o padrão estético e a segurança que as pessoas vão sentir nessa construção", explica.
O sistema de woodframe utiliza uma série de camadas de placas de madeira, de concreto, em uma armação de madeira para a fabricação de paredes e coberturas dos imóveis. No Brasil, já existem construções de até quatro pavimentos que usam o sistema.
50%
foi o aumento na produção global de cimento entre 1990 e 2005. Nesse período, as emissões de carbono das indústrias produtoras cresceram bem menos: 38%. Sinal de que a cadeia da construção está preocupada com o seu relacionamento com o meio ambiente.
Além de construções que captem e usem água da chuva, aproveitem a energia solar e se preocupem com conforto térmico e acústico, os materiais utilizados como base para as edificações também tem passado por processo de incluir processos tem sustentabilidade em sua cadeia. A preocupação é com a imagem da indústria e estudos e relatórios são apresentados para desfazer a fama de poluidores.
"Cada setor industrial e cada fabricante precisa primeiro entender os problemas ambientais sociais e econômicos mais urgentes e traçar uma estratégia de curto e longo prazo: sustentabilidade é processo. E quanto antes uma empresa iniciar, mais benefícios trará para a sociedade e para o próprio negocio", indica o conselheiro do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS), Vanderley John.
De acordo com ele, as empresas devem incluir em suas agendas iniciativas como inventário sobre emissão de carbono e água na cadeia de valor, além de estratégias consistentes para diminuir os gastos e até para identificar a informalidade no setor e entre seus fornecedores. "Setores com alta taxa de informalidade, seja social, como o trabalho escravo, ausência de licenças ambientais, sonegação fiscal, não vão conseguir avançar para a sustentabilidade sem resolver este passivo", explica John.
A cadeia de materiais é um problema para a sustentabilidade da construção civil, de acordo com o professor de eletrônica e energia da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg. Para ele, é possível ver, nos últimos anos, uma tentativa de melhoria dos processos a fim de gerar mais economia e menos poluição. "Vemos as construções mais limpas, com menos sobra de material e a indústria mudando seus processos, como a siderurgia, que substituição o carvão mineral na produção", diz.
Entre os problemas da captação de materiais para a produção dos materiais, os especialistas citam a informalidade. "Alguns materiais extrativos, como a areia a madeira, tem, como questão central, o fato de destruirmos o ambiente sem controle. E depois que o material chega à cidade é quase impossível dizer se é de origem legal ou não", diz o conselheiro do CBCS.
Segundo John, nestes materiais o que tem mudado é a consciência de alguns consumidores. "O setor da cerâmica vermelha tem uma informalidade muito elevada, com desrespeito sistemático as normas técnicas, mas também em outras dimensões, como as fiscais e ambientais. São pequenas empresas familiares, com baixa eficiência energética. Isto vem melhorando lentamente, pois não existe uma organização setorial forte dada a pulverização. As lideranças tem atualizado sua agenda, e tentam inclusive usar a questão ambiental a seu favor, o que considerando a informalidade vigente, é no mínimo inadequada", afirma.
No entanto, a perspectiva com relação a esse setor é positiva. "As construtoras ficaram maiores e neste momento começam a reforçar a sua visão tecnológica, vão demandar tecnologias inovadoras. A norma de desempenho é um divisor. A questão da sustentabilidade começa a penetrar no inconsciente coletivo, e na agenda dos governantes", defende John.
Demanda e reflexos
O bom momento da construção civil pode refletir na indústria e no uso de tecnologias mais inovadoras e verdes tanto de forma positiva quanto de forma negativa. "A alta atividade industrial. Por um lado, se a demanda é alta, qualquer coisa é vendida, pois falta produto. Por outro lado, a demanda em alta pode viabilizar novos investimentos, usando já tecnologias mais modernas e ecoeficientes", opina o conselheiro.
Cimento e tijolo mais verdes
As indústrias do cimento e da cerâmica correm atrás de números e relatórios que possam beneficiar a sua imagem diante de consumidores que exigem produtos que sejam amigáveis com o meio ambiente e levem em conta a sustentabilidade.
O setor cimenteiro apresentou, durante a Rio+20, um estudo sobre a coeficiência da indústria, endossando os avanços alcançados nos últimos anos com o uso de novas tecnologias. De acordo com o documento, de 1990 a 2005, a produção de cimento aumentou 50%, mas a emissão de carbono variou apenas 38%, resultado da redução das emissões específicas (CO2/ton cimento) do setor, que caíram 8%. Levantamento realizado pelo Cement Sustainability Initiative (CSI), considerando mais de 900 unidades fabris de 46 grupos industriais atuantes no mundo todo, identificou o Brasil como aquele com a menor emissão específica de carbono.
"O parque industrial está sempre se atualizando e investindo em novas tecnologias. É isso que permite que as empresas poluam menos. Procuramos incentivar o uso de equipamentos de última geração, que sejam mais eficientes", explica Mario Willian Esper, gerente de relações institucionais da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
A Associação Nacional da Indústria da Cerâmica (Anicer) encomendou um estudo que avalia o ciclo de vida do produto, a fim de mostrar a produção e eficiência de telhas e tijolos com relação a outros produtos. O documento mostra que, apesar de requerer três vezes mais energia, a fabricação de produtos cerâmicos utiliza fontes de energia renovável, como cavaco de madeira e biomassa, descartado por outras indústrias.
"O estudo serviu para que possamos mostrar como a produção cerâmica pode ser sustentável e para nos ajudar a desfazer a imagem de poluidora", comenta o presidente da entidade, Luís Lima. Ele indica que ouve uma evolução nos últimos 15 anos. "Antes, muitas empresas usavam o subproduto do refino do óleo diesel para queima dos fornos. Hoje isso não existe mais, e as empresas passaram a usar madeira de reflorestamento e resíduos do agronegócio, como palha de soja, sabugo de milho e casca de arroz, para manter os fornos", conta. De acordo com ele, a Anicer está defendendo que a indústria possa utilizar resíduos das podas de árvores dos grandes centros urbanos. "Queremos mostrar que, além de sermos sustentáveis, ainda estamos limpando o resíduo de outras indústrias, usando os conceitos de simbiose industrial e logística reversa", explica.