179 anos depois da fundação de Curitiba, a cidade recebeu uma visita que se revelaria das mais importantes. Na época, é claro, ninguém deu bola para o jovem engenheiro e escritor inglês Thomas Plantagenet Bigg-Wither. Seria apenas e tão somente mais um "alienígena", como o próprio Thomas definiria, anos depois, os estrangeiros que habitavam o planalto.
Nosso herói, então anônimo, participou durante três anos de expedições pelo interior do Paraná. É dele, e aí o grande legado, o livro Novo Caminho no Brasil Meridional: a Província do Paraná, reeditado em 2001 pela Imprensa Oficial do Estado, dentro do projeto Brasil Diferente. Vale a pena ler para entender um pouco mais a nossa terra e nossa gente. Em 1872, conta-nos, "a cidade podia ter 9.500 habitantes, dos quais 1.500 eram imigrantes, especialmente alemães e franceses. Não ocupava grande extensão. As ruas seguiam as mesmas disposições peculiares às das cidades estrangeiras. No centro havia grande praça, com 200 jardas talvez de um lado, achando-se a igreja num dos cantos."
É dele ainda o relato: "O presidente da província também morava ali. Sua casa, chamada, por cortesia, de palácio, tinha três pavimentos, cômodos, mas de aparência simples". "Devo dizer algumas palavras a respeito da população alienígena de Curitiba, especialmente da alemã, que é a maior. Nos subúrbios da cidade, veremos hortas bem cultivadas. Quando um brasileiro passa por elas diz: É uma propriedade alemã! Se perguntarmos como ele pode saber, responderá logo: Sei, pela horta".
Uma revelação, nada surpreendente, aliás: "Os brasileiros desprezam esses homens que trabalham com a picareta e a pá e chamam-nos desdenhosamente de trabalhadores do Brasil. Já os franceses - há uma parte do subúrbio conhecida como quarteirão francês - não alcançam nenhum progresso e sem se amoldar absolutamente ao espírito e à vida do país adotivo.
Os ingleses, indo e vindo da colônia do Assungüi, formam uma população temida e detestada pelos brasileiros. Suas idas e vindas são sempre marcadas por algum distúrbio mais ou menos desagradável. Esses ingleses são todos uns bêbados, é o dito comum que corre sobre eles em Curitiba".
Quando iam embora, só faltavam cantar, evidentemente, "Tá chegando a hora", "Maringá, Maringá" e "Cidade Maravilhosa". Deram eles origem ao temido Caneco de Sangue, que existia na Visconde de Guarapuava?
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