William Silva analisou bem os riscos antes de optar pelo financiamento da casa própria| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

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As condições atuais de financiamento surtiram efeitos no volume de créditos concedidos no começo de 2009. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Créditos Imobiliário (Abecip), em janeiro foram emprestados, com recursos do Sistema Brasileiro de Poupanças e Empréstimos, R$ 1,9 bilhão – 17% a mais em relação ao mesmo mês do ano passado. O Conselho Curador do FGTS não informou o volume já emprestado.

Os dados positivos dos financiamentos pela caderneta de popupança parecem manter o bom desempenho dos financiamentos imobiliários de 2008, quando o volume de empréstimos bateu recorde histórico. Foram financiados R$ 30 bilhões com recursos do SBPE e FGTS. Em dezembro, um dos meses de pior desempenho na indústria por conta da crise, o volume dos financiamentos foi 30% superior em relação ao mesmo mês de 2007.

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Medidas recentes adotadas pelo governo federal e pelos bancos para afastar o fantasma da crise econômica e manter o bom ritmo do crédito imobiliário no país têm gerado uma dúvida nos interessados na compra da casa própria: esse é um bom momento para encarar um financiamento imobiliário? No cenário atual, juros menores em algumas linhas e ampliação do teto para os imóveis financiados se tornaram ofertas tentadoras para os candidatos a compradores. Antes de fechar negócio, porém, analistas do mercado alertam: é preciso avaliar o futuro de suas finanças.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Miguel José Ribeiro de Oliveira, diz que, via de regra, as condições para se financiar um imóvel são semelhantes àquelas do primeiro semestre de 2008. "Passamos por um período turbulento de crise em que, nos meses finais do ano passado, os bancos elevaram as taxas de juros, restringiram o crédito e encurtam o prazo. Neste ano, a situação está voltando ao normal. Os juros são semelhantes aos cobrados antes da crise, os prazos voltaram a se alongar e o crédito está mais fácil de se obter."

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O retorno às condições anteriores torna o cenário "positivo para a compra, mas desde que o comprador tenha boas perspectivas econômicas", ressalta o analista. Para Oliveira, a grande preocupação não é com as condições oferecidas nos financiamentos, mas se o mutuário terá capacidade de pagá-lo. "Há incertezas no mercado, muitas dúvidas em relação à manutenção dos empregos em vários setores. Se o comprador achar que não corre risco de ficar desempregado, o financiamento neste momento é um bom negócio", avalia.

A posição é semelhante a do economista e consultor Mário Toschio Júnior, da L&S Consultoria. Ele considera que existe um esforço coletivo para que os financiamentos imobiliários no Brasil não recuem. "Tivemos um número recorde de crédito no ano passado. O déficit habitacional no Brasil ainda é elevado. Portanto, ainda há espaço e interesse na compra dos imóveis por financiamento", diz. "Dentro desses esforços, bancos e governo devem oferecer boas condições de compra nesse momento de crise, mas é o consumidor quem deve calcular se pode ou não aproveitá-las."

Mesmo trabalhando no setor automobilístico, um dos mais afetados pela crise, o analista de recursos humanos Willian Carlos da Silva resolveu apostar na compra da casa própria. Há duas semanas, assinou um financiamento de 300 meses (25 anos) para a aquisição de uma residência de R$ 78 mil. "Sei dos riscos de desemprego e avaliei bem a compra. Como os juros estavam em um bom patamar, resolvi fazer o financiamento. Dei uma entrada de 10% do valor do imóvel e isso baixou as parcelas. Assim, vou poder pagá-las mesmo se tiver a renda reduzida nos próximos anos", explica.

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Cenário

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Confira as condições atuais que o candidato a mutuário irá encontar:

Juros mais baixos: destinados às famílias com renda mensal de até R$ 4,9 mil mensais, os financiamentos com dinheiro do FGTS tiveram juros mínimos reduzidos a 5% ao ano. A alíquota é a menor do mercado. Até o ano passado, os juros mínimos eram de 6,17%. Caso o mutuário tenha conta no fundo (ou seja, trabalhe com carteira registrada) há mais de três anos, os juros caem para 4,5%. Além da Caixa Econômica Federal, os bancos Santander e Real ABN AMRO financiam com recursos provenientes do FGTS. O Banco do Brasil deverá oferecer a linha de financiamento até o segundo semestre.

Juros mantidos: nos financiamentos feitos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) não houve redução nos juros. Segundo pesquisa da reportagem com os principais bancos concessores de crédito no Paraná, as taxas continuam semelhantes às cobradas no primeiro semestre de 2008, antes da explosão da crise. Variam de 7% a 12% ao ano. "Mesmo sem redução, é motivo de comemoração, pois os valores não fugiram tanto do poder de compra do brasileiro", diz o economista Flávio Ferrarini, filiado ao Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR).

Teto estendido: o valor máximo dos imóveis financiados com recursos do SBPE e do FGTS subiu de R$ 350 mil para R$ 500 mil. Antes, imóveis acima de R$ 350 mil eram financiados apenas com recursos dos próprios bancos, que cobram, em geral, juros acima de 12% ao ano. "Essa medida amplia o leque de imóveis que podem ser adquiridos. Aumenta também o público atingido pelo juros menores e, consequentemente, deve ter seus reflexos na economia", destaca Jorge Hereda, vice-presidente de governo da Caixa Econômica.

Aumento da porcentagem financiável: mutuários que utilizam recursos do SBPE podem financiar até 90% do valor do bem – contra os 80% financiáveis anteriormente. Nos imóveis financiados com recursos do FGTS, continua sendo possível parcelar 100% de seu valor.

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