Viver em núcleos urbanos densamente habitados é a realidade para a maioria dos brasileiros. Cerca de 55% da população do país está em cidades grandes e médias são 300 municípios que, juntos, concentram 112 milhões de pessoas, de acordo com estimativa recente do IBGE.
Todos esses cidadãos convivem com problemas parecidos. Cidades médias, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes, e grandes, com mais de 500 mil, enfrentam desafios de gestão, urbanismo, meio ambiente, saneamento e mobilidade, e Curitiba não foge à regra.
Para entender a origem de questões que afetam o dia a dia dos moradores das cidades, o livro Introdução à Gestão do Meio Urbano, que acaba de ter a segunda edição lançada, é uma boa pedida, mesmo para leigos no assunto.
Que cidade queremos para o futuro? As autoras, Yumi Yamawaki e Luciane Salvi, perguntam ao leitor ao discorrer sobre as recentes mudanças no modo de vida urbano. Um breve cenário explica as transformações das cidades desde meados de 1880, passando pelo período industrial até os dias de hoje, na transição para um período que estudiosos batizam de "informacional".
Imagem
Em época de discussões sobre as obras para a Copa de 2014 e o risco de Curitiba não receber os jogos, é pertinente a análise das autoras ao observar que a recente onda de "construção da imagem" das metrópoles e municípios para o mundo acaba deixando em segundo plano as necessidades da população.
A obra aborda oito temas que as autoras consideram importantes para o enfrentamento dos problemas atuais de gestão do meio urbano: patrimônio histórico, cultural e natural; mobilidade urbana; segurança pública; educação, saúde, meio ambiente, saneamento e habitação. Cada capítulo traz o respaldo de estudiosos das respectivas áreas. No entanto, lembram as autoras, cada tema é complexo e mereceria um estudo específico em separado.
Adensamento
O Brasil convive com o adensamento populacional em áreas urbanas há pouco tempo. O processo se inicia a partir da década de 1950, passa pelos anos de regime autoritário e chega à industrialização dos anos 80 e 90.
Enquanto os países desenvolvidos já estavam preocupados com danos ambientais às grandes cidades, o Brasil passava pelo êxodo rural e explosão demográfica de centros urbanos, desestruturados fisicamente e sem gestão capacitada. Surgem questões sociais e ambientais que seguem até hoje e se agravam saneamento, gestão de resíduos e ocupações irregulares, entre outros problemas, se somam ao adensamento das metrópoles, aumento das periferias e desigualdade social.
Anos 2000
As autoras e professoras Yumi arquiteta e urbanista, com doutorado e mestrado em Gestão Urbano e Luciane bióloga, arquiteta e também mestre em Gestão Urbana apontam a aprovação do Estatuto da Cidade e a implantação de projetos como o de urbanização de favelas, no início dos anos 2000, como um período marcante.
"O Brasil assumia políticas que concordavam com as tendências mundiais, como a globalização cultural e econômica, a descentralização do poder (municipalização), a importação de estratégias de citymarketing para tornar as cidades mais competitivas e a promoção de intervenções urbanas dentro desses preceitos (requalificações urbanas)", explicam.
Redemocratização
Enquanto outros países viveram fases historicamente diferentes, o Brasil conviveu com diversos desafios quase que ao mesmo tempo: a industrialização, seus consequentes problemas sociais e a globalização econômica, gerando particularidades de demandas e respostas, junto com o restabelecimento do regime democrático, solicitando regulamentações e a nova Constituição Federal.
A pouca experiência em gestão municipal no país, principalmente no que se refere à participação popular, explica muitos dos problemas enfrentados hoje pelas cidades.
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