Livro mostra edificação no Vêneto (à esq.) com a “loggia”, tipo de varanda que aparece também em Santa Felicidade, na Casa dos Arcos (à dir.)| Foto: Fotos: Reprodução do livro Arquitetura Italiana em Curitiba, de Fábio Batista e Ana Mazzarotto
Waldomiro Lass passa os dias restaurando a casa da família na Avenida Manoel Ribas
O aposentado Waldomiro Lass na cozinha aconchegante: casa centenária recebe sol por todas as janelas
Detalhe do interior da casa mostra a madeira bem conservada nas portas, janelas, piso e escada para o sótão
Seu Waldomiro nasceu na casa e mantém tudo arrumado: ele mesmo reforma, pinta, e restaura o imóvel
Características da arquitetura do Vêneto na casa em Curitiba: paredes grossas, feitas sem tijolos; formato do telhado e das janelas; cruz como enfeite e arquitetura simples
No sótão, onde construiu um banheiro, trocou piso e instalou novas janelas, seu Waldomiro guarda móveis antigos da família
Casa dos Gerânios, também na Avenida Manoel Ribas, é exemplo da arquitetura do Vêneto, mas está mal conservada e sujeita a enchentes dos rios Uvu e Cascatinha
Construída no final do século 19 pela família Boscardin, a imponente Casa dos Gerânios tinha um moinho funcionando no galpão anexo
O livro Arquitetura Italiana em Curitiba buscou exemplares no Vêneto, na Itália, como a casa da foto, similar a muitas encontradas na capital paranaense
Além de residências urbanas, o livro também traz imagens de casas rurais do Vêneto: lá, o galpão para animais costuma ficar próximo à casa central
A fachada da casa amarelinha na Avenida Manoel Ribas, ao lado do parque Barigui e cercada pelo gramado verde, chama atenção

Quem passa distraído pelas ruas pode não perceber as marcas da cultura europeia deixadas pelos imigrantes no cenário urbano de Curitiba. Estilos arquitetônicos aparecem, aqui e ali, em casas que resistem à ação do tempo – mas muitas dessas habitações estão abandonadas ou foram desfiguradas para se transformar em ponto comercial.

CARREGANDO :)

FOTOS: Veja slideshow da casa de Waldomiro Lass

VÍDEO: Casa centenária é pérola arquitetônica no meio da cidade

Publicidade

Mas há joias a garimpar no cenário urbano. Uma delas é a casa amarela com sótão, cercada por um imenso gramado, em plena avenida Manoel Ribas. Ela é uma das edificações catalogada na obra "Arquitetura Italiana em Curitiba".

O livro dos arquitetos Ana Mazzarotto e Fábio Domingos Batista, patrocinado pela Caixa Econômica Federal via lei municipal de incentivo à cultura, é resultado de dois anos de pesquisa. Os autores com­­pararam casas construídas por imigrantes italianos em Curitiba com exemplares do Vêneto, região ao norte da Itália de onde veio a maioria deles.

Os oriundi construíram, aqui, utilizando as mesmas técnicas usadas no país europeu, com poucas adaptações.

"Na Itália a paisagem urbana é tombada. As casas estão preservadas, dando um retrato de como era a vida quando os imigrantes vieram", explica Ana Mazzarotto.

Simetria e estilo

Publicidade

As casas italianas daqui têm a mesma simetria, distribuição de janelas e simplicidade de formas que as "irmãs" europeias. Outra similaridade é o telhado, com inclinação acentuada para aproveitar o espaço para sótão. As janelas têm folhas externas "cegas" e internas de vidro, com moldura de madeira em forma de guilhotina (ou de abrir para dentro), e costumam ser de tamanhos iguais. A exceção são as janelas mais próximas do telhado, que podem ser menores.

Simplicidade

Fotos: Reprodução do livro Arquitetura Italiana em Curitiba, de Fábio Batista e Ana Mazzarotto 

Os elementos decorativos são simples e quase inexistentes, resumindo-se à cimalha – um tipo de acabamento de telhado – e, em alguns casos, uma cruz vazada no alto da parede externa da construção.

Os pesquisadores também compararam a igreja principal e o cemitério de Santa Felicidade com as estruturas erguidas na Itália. "Foram projetados por padres italianos que eram vigários na época da imigração", comenta Ana. A igreja daqui repete a estrutura da italiana, com a torre do sino separada do corpo principal.

Publicidade

Um fato marcante da época foi a construção do Panteão, no cemitério. Capelas mortuárias das famílias que patrocinaram a obra do cemitério estão no local. "São as famílias mais tradicionais de Santa Felicidade", conta a autora. Os elementos decorativos demonstram a habilidade dos imigrantes construtores.

Henry Milléo/Gazeta do Povo

Construção centenária é preservada pelo herdeiro

A frente dá para uma das avenidas mais movimentadas de Curitiba. O rio Barigui passa no quintal. A vizinhança do imenso terreno é "tudo gente da família", diz o aposentado Waldomiro Lass, de 81 anos. Desde que nasceu, ele vive na moradia construída por seu pai, na Avenida Manoel Ribas, ao lado do parque Barigui.

Publicidade

A casinha é uma pérola encravada na cidade. O estilo "casa de chácara" e a pintura amarela, em contraste com o verde vivo do gramado, atraem olhares. Seu Waldomiro não se furta a abrir as portas da residência e mostrar cada detalhe da propriedade.

Família alemã

Valdomiro Lass não é descendente de italianos – o pai era alemão e a mãe, polonesa – mas a construção segue os padrões das casas do Vêneto, conforme aponta a pesquisa dos arquitetos Ana Mazzarotto e Fábio Domingos Batista. Mais de cem anos se passaram desde que a casa foi construída. O aposentado, que não se casou nem teve filhos, não sabe dizer por que o pai, imigrante alemão, ergueu uma casa italiana.

Há muitos anos, seu Waldomiro, que é contador e já trabalhou em construções, passa os dias reformando, pintando, consertando, restaurando e ajeitando tudo que o terreno abriga: a residência principal, o galpão, uma casa anexa que ele construiu para a sobrinha, a casinha dos cachorros, o gramado e o que mais for preciso.

Reformas

Publicidade

O imóvel passou por várias reformas, todas feitas por ele, mas não perdeu o estilo arquitetônico nem as características originais. As grossas paredes não são de tijolos. Foram feitas com pedra, cal e areia – segundo seu Waldomiro, são muito resistentes e mantém a casa aquecida mesmo nos dias mais frios, quando o fogão a lenha é aceso.

Entre as várias modificações, ele aponta uma das principais: seu Waldomiro construiu banheiros, pois a latrina era externa. As folhas de vidro das janelas foram trocadas, assim como as esquadrias de madeira, o forro e o antigo piso (de tábuas para tacos).

O sótão também ganhou banheiro e um quarto com amplas janelas, ocupado por um sobrinho. Atualmente, seu Waldomiro está restaurando as janelas do sótão. "Sempre reformo alguma coisa, mas a casa está em boas condições", explica.

Ele prefere não falar sobre o futuro da propriedade – diz que, após sua morte, os sobrinhos decidirão – mas garante que, enquanto estiver ali, não vende a casa. "Muita gente já procurou, mas digo que não", finaliza.

Casa de Waldomiro Lass

Publicidade
(function(d, s, id) { var js, fjs = d.getElementsByTagName(s)[0]; if (d.getElementById(id)) {return;} js = d.createElement(s); js.id = id; js.src = "//connect.facebook.net/pt_BR/all.js#appId=254792324559375&xfbml=1"; fjs.parentNode.insertBefore(js, fjs); }(document, 'script', 'facebook-jssdk'));

Vida e Cidadania | 2:43

A casa amarela, na Avenida Manoel Ribas, ao lado do parque Barigui, tem mais de cem anos. Foi construída pelo pai do aposentado Waldomiro Lass, de 81 anos, que apesar de não ser descendente de italianos, seguiu os padrões das obras de Vêneto, na Itália. A obra foi retratada em um livro dos arquitetos Ana Mazzarotto e Fábio Domingos Batista.

Publicidade