Os artesãos da comunidade Zumbi dos Palmares, uma das mais pobres de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, são os novos parceiros do premiado designer Pedro Franco. Ele assumiu a direção de arte da fábrica paranaense de móveis Ronconi, com o objetivo de criar peças-conceito de mobiliário com mote social. O desafio é fazer com que o trabalho autoral, do designer e dos artesãos, deixe de ser peça única para ganhar escala e se tornar acessível ao mercado. O trabalho está em fase de estudos e as primeiras peças estarão à venda no segundo semestre de 2011.
Reconhecido mundialmente pelo que cria, aos 32 anos de idade e dez de carreira, desde a semana passada Franco participa de uma mostra exclusiva na São Paulo Fashion Week, principal evento de moda do Brasil, expondo mobiliários do espaço underground A Lot Of, que dirige em São Paulo, de criações feitas a mão, assinadas por designers brasileiros e estrangeiros.
"Sem dúvida o evento contribui para conscientizar sobre a importância de se consumir design assinado", diz Franco. Na avaliação dele, expor na SPFW é uma maneira de alcançar a popularização da moda assinada. "Ela tem grandes índices de consumo por estar presente na cultura do brasileiro nas mais diferentes classes."
Em entrevista à Gazeta do Povo, o designer fala sobre a carreira, a popularização do design e o Salão Internacional do Móvel de Milão, evento no qual expôs quatro vezes, dentro da mostra paralela Salão Satélite, que anualmente (em abril) dita as tendências do design de móveis ao mundo.
Como é o desafio de transformar peças únicas, para um público restrito, em produtos mais acessíveis?
O mercado de design está em crescimento, mas ainda falta conscientização. Fazer o produto chegar ao maior leque possível de consumidores não só é positivo à economia de escala como ao fomento do design. A intenção é promover um grande diálogo entre a peça e seu entorno, uma interação entre o usuário e o design. Desta forma, não há apenas a aquisição de um produto, mas sim de toda história que faz parte do desenvolvimento dele.
Qual o conceito dos móveis que serão produzidos por artesãos da região de Curitiba?
A coleção, denominada Artesania, procura explicitar o rico artesanato brasileiro. Porém, o processo tradicional passa por uma adequação, para gerar ineditismo, e mostra que o artesanato pode ser também protagonista de peças sofisticadas e diferenciadas. Trata-se de um contraponto ao cenário mundial, no qual predominam o desrespeito social pelo trabalhador e a pasteurização gerada pela invasão do mercado chinês.
Quando o público terá acesso a estes produtos?
A linha completa chega em julho. Cada peça terá até 50 cópias e custará 40% menos que uma peça exclusiva. Os móveis serão apresentados pela primeira vez em Curitiba, para valorizar a cidade natal da fabricante de móveis e seus artesãos. Além disso, Curitiba teve a Bienal Brasileira de Design (em setembro e outubro de 2010) e começa a ser um polo referência.
Você está convidado a participar do Salão de Milão este ano e em 2012. Quais as suas expectativas para o evento, em abril?
Milão é um grande atalho para a conquista de novos mercados. O volume de negócios da feira é praticamente o mesmo do total da exportação brasileira de móveis. Desta forma, a intenção é fazer as peças atingirem diversos países, de todos os continentes. As indústrias italianas têm como principal mercado a venda para outros países, somente 30% da produção é para o mercado local.
Como você avalia o design brasileiro em relação ao que é produzido pelo mundo?
O mercado de design brasileiro está em crescimento. Porém, temos um longo percurso para atingirmos o patamar italiano, onde o bom design é acessível e consumido por todos. O Brasil felizmente está com estima mais alta e não é mais apenas um adequador de tendência mundial, mas sim um contribuidor. As tendências externas não norteiam mais as criações e temos jovens talentos, como Estudio Haz, Wagner Archela e Sergio Mattos.
Confira algumas criações do designer Pedro Franco:
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