| Foto:

O número de corretores de imóveis autuados por trabalharem ilegalmente no Paraná cresceu nos últimos dois anos e deve ser ainda maior em 2010, segundo o Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (Creci-PR). A estimativa é de que neste ano cerca de 400 pessoas sejam advertidas, contra 357 em 2009 e 306 em 2008. A lei que regulamenta a profissão dos corretores de imóveis (6.530/1978) é clara: o exercício da profissão é permitido ao possuidor do título de Técnico em Transações Imobiliárias e o exercício da profissão sem o registro profissional no Creci configura contravenções relativas à organização do trabalho (artigo 41 do Código Civil), cuja pena é de prisão simples, de 15 dias a três meses de detenção ou pagamento de multa.

CARREGANDO :)

Segundo o coordenador de fiscalização do Creci-PR, Edson Gonçal­­­ves da Silva, é importante ressaltar que os conselhos fazem a apuração administrativa, mas quem pune é a Justiça. "Quem faz a instrução é a Justiça Civil, que elabora um termo de contravenção e encaminha para o Juizado Especial Criminal, que chama a pessoa para depor e aplica a pena".

O advogado especialista em Direito Imobiliário, Orlando Anzoategui, explica que a pessoa pode sofrer tanto punição cível (caso o corretor prejudique o comprador financeiramente) quanto criminal, quando a pessoa responde por crimes de falsidade ideológica e até mesmo estelionato, se forem tiradas vantagens monetárias. "Se aquela pessoa que trabalhava ilegalmente causar algum dano para o comprador, ele pode ter de pagar uma multa em dinheiro para quem prejudicou", salienta o advogado. Penas alternativas também são comuns quando o réu não é reincidente. "Ocorre uma substituição da contravenção, desde que a pessoa preste serviços comunitários ou pague cestas básicas", diz Silva.

Publicidade

Para descobrir quem atua ilegalmente, os conselhos regionais contam com uma média de seis agentes para fazer intervenções nas cidades e nos bairros das capitais – no Pa­­raná são oito e pretende-se chegar a dez até o ano que vem. No país, 25 estados contam com conselhos regionais, com exceção de Roraima e Amapá. "Cada regional tem a sua equipe, que durante o ano faz um planejamento para fiscalização de cidades e de bairros nas capitais. Ela é frequente", explica o diretor de fiscalização do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis), Claudemir Neves.

Além disso, o Cofeci investiga anúncios de imóveis, realiza intervenções federais nos estados – uma fiscalização em abril do ano passado no Paraná, com 15 agentes, autuou 286 corretores clandestinos – e conta com a denúncia da população por meio dos conselhos regionais (veja serviço). "Não há necessidade de se identificar, mas é importante que a pessoa passe informações corretas, com nome da pessoa e imobiliária. Também descobrimos casos quando pessoas ligam para saber dos antecedentes do corretor e não há registro", esclarece o coordenador de fiscalização do Creci-PR.

No âmbito nacional, em 2008, 8.949 pessoas foram autuadas, enquanto no ano passado foram 9.049. "O que observamos é que este aumento foi inversamente proporcional aos novos profissionais registrados, 11,5% maior em 2009, com quase 20 mil inscritos em todo o país. Entendemos que as fiscalizações nos estados estão surtindo efeito", diz Neves.

Os conselhos regionais são autorizados a conceder um registro temporário (de estagiário) enquanto a pessoa termina o curso técnico ou até mesmo o superior em Gestão Imobiliária, mas apenas sob a supervisão de um corretor credenciado ou do dono da imobiliária, que pode responder por eventual imperícia do corretor. No Paraná, o Creci costuma conceder um prazo de 60 a 90 dias para pessoas que estão trabalhando sem o registro, já que algumas entram na profissão mas a abandonam em poucos meses.

Para o consumidor, o fato de comprar ou alugar um imóvel com um profissional sem registro também pode trazer riscos, já que, em um eventual problema com o local (como penhora ou irregularidades na escritura), o contraventor pode se isentar da resolução, ao contrário do corretor credenciado, que tem a obrigação de responder pelo fato. "Muitos estão no mercado sem autorização, querem apenas pegar a sua comissão sem se responsabilizar por nada", critica Neves, do Cofeci.

Publicidade

Imobiliárias

Para Claudemir Neves, do Cofeci, as imobiliárias têm a obrigação de contratar profissionais qualificados ou encaminharem o futuro corretor automaticamente para o curso técnico. Quem descumpre a norma é autuado por apoiar a contravenção. "Ambos têm um código de ética e sabem claramente o que se pode e o que não de pode fazer". A empresa responde administrativamente pelo caso e a multa por corretor autuado que trabalhe para a imobiliária é de duas a dez anuidades (no valor de R$ 850 cada). "Acredito que as empresas estão mais conscientes de que precisam de profissionais qualificados e têm noção do prejuízo das punições", diz o presidente do Creci-PR, Alfredo Canezin.

O vice-presidente do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), Luiz Antônio Laurentino, afirma que o ideal é não contratar profissionais desqualificados, mas o aquecimento do mercado acabou agravando o problema. "A demanda tem sido grande. Muitas construtoras vieram para o Paraná e a cada ano mais imobiliárias são abertas. Muitas empresas preferem um profissional que não tenha conhecimento no mercado para moldá-lo da sua maneira, mas acabam não cobrando que faça o curso técnico. Com isso, a imobiliária acoberta o exercício ilegal". Laurentino critica a liberação de carteirinhas para estagiários. "Muitos não são acompanhados e o responsável responde por um erro. O risco é maior", frisa.

Serviço:

No Paraná, as denúncias de corretores de imóveis sem o devido registro devem ser feitas no setor de fiscalização do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (Creci-PR), pelo telefone (41) 3262-5505.

Publicidade