O trânsito nos grandes centros urbanos tem piorado consideravelmente, com engarrafamentos cada vez maiores, resultando no aumento dos tempos de deslocamentos. Nos últimos 10 anos, a frota veicular brasileira dobrou, de acordo com dados do Denatran, enquanto a população cresceu 12,3% no mesmo período, conforme pesquisas do IBGE, de 2010.
Segundo Scaringella (2001), em São Paulo, 25% da frota circulando já paralisaria a cidade. Em Curitiba, somos 1.172.939 (2012) votantes, com 1.350.462 (2014) veículos nas ruas. Praticamente há um carro para cada indivíduo maior de 18 anos. Se alinhássemos as principais vias de circulação de Curitiba (coletoras, setoriais e prioritárias) e enfileirássemos simultaneamente todos os carros em circulação, utilizando todas as faixas destas vias, faltaria espaço para aproximadamente 350 mil veículos.
Os urbanistas sabem que as intervenções na cidade que envolvem desapropriações de áreas privadas são onerosas e de difícil negociação. Prova disso é o nosso sistema trinário (estrutural + via bairro/centro + via centro/bairro) que, pelo plano original, de 1965, deveria ocorrer em via única de dez pistas, mas que precisou ser fragmentada com quarteirões, em função do custo das desapropriações. É necessário pensar em alternativas que possibilitem a utilização das vias como elas são.
Um fator a ser considerado são as atuais dimensões dos veículos, com condutor e passageiro lado a lado. O modelo é herança do período das bigas romanas, que influenciou as carroças de tração animal. Esse tamanho moldou nossos atuais espaços, com grandes áreas para fluxos veiculares e menores trechos para pedestres.
A partir disso, propomos um exercício. O mercado tem automóveis cuja largura coincide com o espaço do condutor (0,85X2,50m), quase a metade da medida média dos modelos populares. Com eles, passaríamos a ter carros menores, com capacidade para 1 ou 2 passageiros, que permitiriam deslocamentos individuais e desafogariam as vias urbanas. Essa nova configuração ocupa menos da metade das principais vias de circulação da cidade. Entre os benefícios, teríamos a possibilidade de redistribuição dos espaços públicos com calçadas mais generosas e dotadas de mobiliário urbano; implantação de ciclovias e faixas preferenciais de transporte público, sendo que a adaptação do modelo tradicional para o novo se daria com a reserva de uma pista lenta. Esse é um convite à iniciativa privada a contribuir com a melhoria da qualidade de vida nas nossas cidades.
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