Referencial em mobília
Guia sobre o desejo dos brasileiros
Um estudo fotoetnográfico em 68 residências brasileiras, realizado por técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Social (Senai) de dez estados do país, mostra o que a população realmente quer em sua casa. O resultado está no livro Desejos & Rupturas Referenciais do Mobiliário, lançado este mês. O objetivo, explica o designer Demetrius Cruz, do Senai Rio de Janeiro, é mostrar que são os próprios consumidores que ditam as tendências.
O primeiro pensamento que ocorre ao entrar em antigos interiores residenciais é como eles são enormes, bem maiores que nossos apartamentos e casas. A sensação é reforçada não somente pela área em metros quadrados, mas pela disposição e dimensão de portas, assim como a presença mais tímida de objetos e móveis. "O mobiliário se restringe a poucas peças, de uso exclusivo para guarda dos pertences dos proprietários", afirma o arquiteto Key Imaguire Júnior, que, com a mulher, a arquiteta Marialba Gaspar, foi desafiado a pesquisar os interiores de casas paranaenses de classe média no século passado e revelar características deste universo tão particular, a pedido da arquiteta Francisca Cury, licenciada da Mostra Morar Mais por Menos, para exposição no evento em 2010. Em entrevista à Gazeta do Povo, Imaguire Júnior contou como foi realizar o estudo e o que mais se destacou nas visitas a casas de Curitiba e cidades próximas. Confira os principais trechos.
O que mais chamou a atenção neste estudo?
Existe uma certa homogeneidade quanto ao tipo de espaços, variando mais a escolha do mobiliário e equipamento pelo morador. Não há diferença notável entre as cidades. Mas verifiquei que em Curitiba não há uma casa preservada com seu equipamento original, como a Casa Lacerda, na Lapa, e a Casa de Sinhara, em Castro. Há casas preservadas, mas que foram refuncionalizadas. Um exemplo excepcional é a casa do arquiteto Frederico Kirchgassner, mantida intacta pelo filho, Arwed. Dada a condição de arquitetura pioneira do modernismo, temos uma oportunidade única de preservar uma casa de transição.
Qual a importância de as pessoas terem acesso a estes ambientes internos mais antigos?
O Patrimônio Cultural, seja em que escala for, importa não só para desenvolver uma consciência histórica, como para formar espírito crítico, a partir de paralelos entre antigo e contemporâneo. O que se chama de "bom gosto" é isso: ter padrões para avaliar e comparar.
Qual sua avaliação sobre os interiores atuais?
Dois fatores pesam mais: hábitos de consumo, no sentido de que as pessoas são convencidas a adquirir objetos segundo indução do marketing; e a evolução do design, que dá, segundo padrões de modernidade e funcionalidade, a conotação de moda, que é muito forte em um país de frágeis estruturas culturais, como é o Brasil.
O senhor poderia traçar um paralelo entre as maneiras de morar antigas e atuais a partir do que encontrou?
As diferenças saltam à vista. A maior é o quanto as pessoas antigas dispunham de espaço para viver. Os espaços atuais são feitos para uma vida comandada pela televisão. As casas antigas tinham uma grande sala aos fundos, junto da cozinha, onde se passava a maior parte do tempo, em ligação com o quintal. Este ambiente desapareceu, dando origem às salas íntimas ou de tevê, ligadas a um corredor.
Que diferenças percebeu entre a capital e as demais cidades?
Em relação a cidades pesquisadas, como Lapa e Castro, na capital estamos mais sujeitos ao bombardeio do marketing, à facilidade de importar, substituir, aceitar uma obsolescência apenas mercadológica. Da mesma forma, em cidades maiores esta tendência é mais forte do que aqui. Uma especificidade curitibana por exemplo, adaptação climática , se há, é muito discreta, pontual.
Há planos para continuar e aprofundar o estudo?
Sem dúvida, a necessidade de continuá-lo foi uma das primeiras evidências que tivemos. Falta quase tudo: os interiores da imigração, das casas de madeira, das "villas" da burguesia ervateira. A continuidade só depende das oportunidades de pesquisa.
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