Os dias frios chegaram e, na outra ponta da queda das temperaturas, os proprietários dos imóveis estão tendo que se desdobrar para aquecer os ambientes sem superaquecer a conta de energia, que já subiu 51% em 2015 só no Paraná. Na hora de otimizar o consumo, soluções que vão da escolha dos aparelhos à instalação de modernos sistemas de aquecimento podem se transformar em aliadas para aliviar o bolso sem abrir mão do conforto.
Itens de decoração ajudam a aquecer os ambientes
Acertar nos itens de decoração é outra alternativa que pode tornar os ambientes mais quentes, além de bonitos. E as opções contemplam soluções que vão do piso ao teto. Para o chão, pisos em madeira e carpets são mais eficazes no que se refere ao conforto térmico, pois não roubam o calor do ambiente, como ocorre com os porcelanatos e mármores, explica a arquiteta Monica Raeder. “Para o revestimento das paredes, por sua vez, é possível trabalhar com a madeira, papel de parede e até com tecidos, que também ajudam a manter o calor dentro dos espaços”, conta.
Muito utilizado nos projetos que destacam a iluminação dos cômodos, o teto de gesso é outro aliado do aquecimento, pois forma uma bolsa de ar entre o forro e a laje, atuando como uma barreira natural. Esta propriedade pode ser otimizada com a instalação de uma camada de lã de vidro sobre o teto, como lembra a arquiteta.
Charmosas, as lareiras são outra opção para quem deseja investir um pouco mais e fazer delas uma fonte de calor, além de uma peça de decoração. Aliada à tapetes felpudos, cortinas volumosas de tecidos pesados e às mantas decorativas – grandes estrelas da estação – elas transformam os espaços de convívio em verdadeiros refúgios para se curtir a estação mais fria do ano.
Para quem usa aquecedores portáteis, a orientação de Luiz Amilton Pepplow, engenheiro eletricista e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), é optar pelos modelos a óleo, que prometem uma economia de cerca de 15%, segundo os fabricantes, em comparação aos que utilizam resistência incandescente. “Esses tipos de aquecedores servem ambientes de menor volume, como quartos e pequenas salas”, lembra o professor.
Em relação ao ar-condicionado, a dica é regular e manter o aparelho em torno dos 25°C (suficiente para garantir a sensação de conforto), pois alterar constantemente a temperatura pode fazer com que o consumo de energia aumente. “Manter os ambientes fechados, sem frestas em janelas e portas, contribui com o aquecimento, pois evita a troca de ar quente com o exterior”, acrescenta Pepplow. Nesta hora, vale contar com os sistemas modernos de esquadrias que, respondendo à norma de desempenho das edificações, contribuem para a vedação dos espaços.
No banho
Para reduzir o consumo de energia no chuveiro, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora desenvolveram um método baseado não apenas no aquecimento da água, mas também do ambiente de banho.
O estudo* propõe que ao entrar no box, o usuário feche a porta e ligue um sistema de aquecimento durante um minuto na temperatura de sua escolha. Com o ambiente aquecido, a temperatura da água requerida para o banho é mais baixa, resultando em menor consumo de energia pelo chuveiro. “A energia gasta para aquecer o ar [do ambiente] é menor do que a utilizada para esquentar a água, logo o balanço final é positivo. A economia obtida em relação ao banho convencional é de 30% nos dias frios”, explica, em nota, o professor Marco Alves, um dos idealizadores do projeto.
Calor da terra
Ainda pouco conhecida no país, a geotermia desponta como uma atraente alternativa para climatizar os ambientes. Alexandre da Silva Castagini, diretor comercial da Riscaldati, conta que o sistema é capaz de reduzir em até 85% o gasto de energia com aquecimento ao ter no solo 65% de sua fonte de calor.
Pelo sistema, o ar externo é levado para dentro da residência por meio de um duto enterrado a cerca de 2 m de profundidade, na qual a temperatura se mantém constante entre 16°C e 18°C. Dele, o ar segue para uma espécie de condensador onde “termina” de esquentar até a temperatura desejada pelo morador. “A difusão do ar para os cômodos é feita por dutos e grelhas, assim como no sistema de ar-condicionado. Cada ambiente tem termostato individual, no qual é possível regular a temperatura”, acrescenta Cassiano Garcia, sócio-diretor da Construtora Monreal.
Preocupação com conforto térmico começa no projeto
Os especialistas lembram que, diferente do que ocorre nos países do hemisfério norte, as construções brasileiras não são preparadas para o inverno – e nem para o verão –, necessitando de uma ajuda extra para se manterem climatizadas. Por isso, a preocupação com a performance térmica dos imóveis ainda na fase do projeto torna-se uma importante aliada para garantir o conforto e reduzir o consumo de energia de uma residência.
O arquiteto Frederico Carstens, diretor da Realiza Arquitetura, diz que o primeiro passo é pensar na orientação e implantação da construção no lote. Espaços de menor permanência de pessoas, como áreas de serviço e de circulação, podem ser orientados para o Sul, que recebe menos incidência de sol. “As faces Leste e Oeste são boas para receber os quartos, pois na primeira incide o sol da manhã, que atua como um higienizador natural, enquanto na segunda os raios do final da tarde, que aquecem o ambiente para a noite”, sugere.
Para a construção, apostar em paredes duplas de alvenaria, “preenchidas” com um bolsão de ar, é uma das opções para dificultar a troca de calor entre os ambientes interno e externo, como lembra a arquiteta Monica Raeder. Na cobertura, instalar duas camadas de telhas metálicas intercaladas com material termoacústico ou utilizar telhas de barro mais espessas, que retêm o calor por mais tempo, são algumas das alternativas para otimizar a “climatização” natural.
“Um projeto bem feito, do ponto de vista da implantação e da envoltória [construção], promove o conforto térmico de forma passiva, fazendo com que se consiga utilizar o mínimo possível os sistemas de aquecimento ativos, como aquecedores e ares-condicionados”, pontua Carstens.
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