Correspondendo às projeções, a retração na oferta de novos apartamentos residenciais se manteve nos primeiros meses de 2016. Entre janeiro e fevereiro, o número de empreendimentos colocados à venda na capital caiu pela metade, passando dos dez para cinco no comparativo com os mesmos meses do ano passado.
A queda mais significativa, no entanto, refere-se ao volume de unidades lançadas, que recuou 62% no primeiro bimestre deste ano e somou 221 imóveis, ante os 580 apresentados ao mercado no igual período de 2015. Os dados são da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), em parceria com a Brain Bureau de Inteligência Corporativa.
INFOGRÁFICO: veja a evolução da oferta de imóveis em Curitiba.
O cenário político e econômico é apontado pelos especialistas como o principal fator de desestímulo ao investimento das empresas, fazendo com que elas sejam mais cautelosas na decisão pela incorporação. “Estamos no ápice da crise, então todo mundo está esperando para ver o que vai acontecer. A prudência, neste momento, faz sentido”, avalia Fábio Tadeu Araújo, diretor de pesquisa de mercado da Ademi-PR.
A saída de algumas das chamadas “grandes construtoras” – com atuação nacional – do mercado local é outro ponto que impactou o volume de lançamentos, como lembra Leonardo Pissetti, diretor de empreendimentos da Swell Construções e Incorporações. “Algumas empresas estão deixando o estado para explorar as praças onde têm sede. As construtoras locais, por sua vez, continuam desenvolvendo produtos dentro de suas capacidades”, acrescenta.
A análise dos empreendimentos lançados até fevereiro ilustra este movimento, uma vez que todos os imóveis colocados à venda no período são de construtoras curitibanas.
Padrão
Outro ponto que chama a atenção é a pulverização dos lançamentos entre os diferentes padrões de empreendimentos, fazendo com que haja oferta para quase todos os perfis de renda.
Neste sentido, destacam-se os imóveis dos padrões supereconômicos (com preços de até R$ 170 mil) e superluxos (com valores acima de R$ 2 milhões), que tiveram 64 e 24 unidades, respectivamente, lançadas nos dois primeiros meses de 2016 e que não haviam sido contemplados pelos lançamentos do mesmo período de 2015.
Estoque
A retração na oferta de novas unidades ajudou, ainda, a manter a tendência de queda do estoque de apartamentos residenciais novos disponíveis na capital, que era de 9,3 mil unidades em fevereiro. O número ficou 3% abaixo do acumulado em janeiro (9,6 mil unidades) e é 17% menor do que o registrado no mesmo mês de 2015, quando 11,2 mil unidades estavam à venda.
“É quase impossível não terminarmos o ano abaixo das oito mil unidades, o que é um número bem adequado para uma cidade como Curitiba”, projeta Araújo.
Cenário nacional aponta para crescimento da oferta
No âmbito nacional, o cenário que se apresentou no primeiro bimestre de 2016 foi um pouco diferente do vivenciado pelo mercado curitibano. No acumulado de 2016, até fevereiro, os lançamentos somaram 4,6 mil unidades em todo o país, volume 11% superior ao registrado no mesmo período de 2015.
O dado, levantado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ainda não pode ser entendido como um movimento de retomada do setor, na opinião do diretor da entidade, Luiz Fernando Moura. “É prematuro fazer esta interpretação, pois o mercado [imobiliário] tem um ciclo muito longo. Assim, algum lançamento pontual tem impacto em uma avaliação de curto prazo, da mesma forma que a falta dele reflete negativamente sobre este indicador”, avalia.
Estoque
Também ao contrário do que ocorre em Curitiba, o estoque de imóveis à venda no país cresceu 3,6% no primeiro bimestre deste ano no comparativo com o igual período de 2015, passando de 107,4 mil para 111,3 mil unidades.
Este movimento, aliado à queda da confiança do consumidor devido ao momento político e econômico que vive o país, deve incentivar a estabilidade dos preços. “O ambiente de juro alto, emprego e confiança em queda é muito perverso para o mercado imobiliário. Precisaríamos ter uma mudança nestes fatores para poder ver qual seria seu reflexo nos preços, mas ela ainda não veio”, comenta Eduardo Zylberstajn, economista da Fipe.
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