Os custos da construção civil vêm subindo menos que a inflação geral neste ano. Em outubro, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 9,93% nos últimos 12 meses, o Índice Nacional da Construção Civil medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) alcançou 7,57% e o índice do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegou a 6,03% no mesmo período.
“A inflação das famílias está em alta, então a renda está em queda, o que cria um ambiente de insegurança que faz diminuir a demanda por imóveis”, explica a coordenadora de projetos da construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), Ana Castelo.
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Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), José Eugênio Gizzi, a baixa demanda provoca uma retração no setor, que se reflete em todos os fatores que compõem os índices de inflação da construção civil: mão de obra, serviços, materiais e equipamentos.
Materiais e equipamentos foram os mais afetados. “Há itens cujos preços tiveram reajustes maiores, como esquadrias de alumínio e tubos de PVC. Mas os itens que mais pesam no custo de uma construção tiveram índices menores e até negativos”, explica Ana. Entre eles estão o aço, cujo preço baixou 0,28% nos últimos 12 meses, e o cimento, que está custando 2,37% menos do que no mesmo período do ano passado.
R$ 1.203,03
foi o valor do Custo Unitário Básico da Construção Civil, em outubro. O índice ajuda a balizar o mercado, mas não considera outros custos como valor do terreno.
Mão de obra
Item com maior peso na composição dos índices, a mão de obra também acaba puxando a inflação para cima, principalmente devido as correções anuais de salários. Ainda assim, com o mercado enfraquecido, os reajustes têm sido mínimos e há demissões no setor. “Durante seis anos, até 2013, demos mais de 50% de aumento real nos salários da construção civil, porque naquela época havia grande competição entre setores pela mão de obra. Hoje ela não existe mais e as reposições salariais têm sido equivalentes à inflação”, diz o Gizzi.
Segundo ele, os serviços, que incluem taxas de licenciamento e gastos com projetos, também estão em baixa, contribuindo para a inflação menor. O que pesa no índice da construção civil são os tributos e os chamados custos administrados –água, energia elétrica, combustíveis –, além da depreciação do real.
Alívio pontual
Apesar de proporcionar um alívio para o setor, a redução de custos com mão de obra, serviços, materiais e equipamentos não vai ajudar a mudar o comportamento do mercado. “Ela não é suficiente para induzir um crescimento, porque a questão é a demanda”, resume a pesquisadora da FGV.
A melhora depende de um cenário macroeconômico de maior estabilidade, o que, segundo o presidente do Sinduscon, depende da redução da pressão inflacionária por meio do ajuste fiscal, do “bom encaminhamento” da crise política e da diminuição da taxa de juros. “O investidor precisa de uma melhora no humor da economia para tirar o pé do freio”, diz Gizzi, que se mantém otimista. “Sabemos que existe um crescimento demográfico e que o déficit habitacional ainda é muito grande. Isso precisa ser resolvido e vai estar em qualquer agenda de governo. Precisamos olhar para frente”, diz.
aço e cimento
ficaram mais baratos no acumulado dos últimos 12 meses. Bastante utilizados nas obras civis, o custo menor tem pouco peso na inflação do setor.
Em Curitiba, valores de imóveis novos cresceram 4,9%
Apesar do momento ser considerado negativo para a construção civil, o preço dos imóveis em Curitiba continua avançando. Em agosto de 2015, o valor médio pago pelo metro quadrado foi de R$ 6.363,92, um crescimento de aproximadamente 4,9% em relação ao preço médio registrado um ano antes.
O aumento é impulsionado pela inflação. Além de o índice geral estar alto, o preço do imóvel sofre pressão da baixa demanda, em movimento semelhante ao que ocorre com a inflação do setor. “O motivo fundamental é a situação econômica nacional. Com a queda no emprego, por exemplo, afetando a renda, temos uma menor intensidade da demanda”, resume o sócio-diretor da Brain Bureau de Inteligência Corporativa, Marcos Kahtalian.
Segundo ele, o que evita com que aconteça uma queda mais acentuada nos preços é a própria inflação da construção civil. Mesmo mais baixa que a inflação geral, o índice força uma atualização nos custos de construção de imóveis, repassada ao consumidor.
O cenário deve permanecer sob a mesma tendência até o fim do ano. Mas o mercado prevê uma recuperação de preços em 2016. Os valores devem voltar a acompanhar a inflação, cuja projeção até agora é de 6,47%. “O setor espera que no ano que vem o cenário comece a melhorar”, diz Kahtalian. Ainda assim, a recuperação deverá ser mais intensa no final do ano.
Custo Unitário Básico da Construção Civil
Divulgado mensalmente pelos Sindicatos da Indústria da Construção Civil, o Custo Unitário Básico da Construção Civil (CUB) apresenta os custos para a construção por metro quadrado em cada estado do país e é utilizado como mecanismo de reajuste de preços em contratos de compra de apartamentos em construção.
Ainda assim, segundo o presidente em exercício da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi/PR), Jefferson Gomes da Cunha, o indicador não está diretamente relacionado ao preço do metro quadrado da construção, porque não abrange gastos com aquisição de terreno, obras e serviços complementares e projetos, entre outros.
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