Moradora de um prédio em Curitiba se sente discriminada porque questiona gastos do condomínio| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Sofrer discriminação social dos vizinhos devido à renda soa como algo ultrapassado, mas é a realidade de muita gente como Luiza.A dona de casa, que pede para não ser identificada para não sofrer represálias, relata seu dia a dia no condomínio onde vive há seis anos com o marido e três filhos: ela diz que a família tem sido destratada pelos outros moradores e que, mesmo requisitando, não consegue ter acesso às contas do condomínio.

CARREGANDO :)

No prédio antigo, de poucos apartamentos, todos são proprietários há muitos anos e somente a família de Luiza tem o imóvel financiado. Aparentemente, os vizinhos têm renda mais alta do que a família da dona de casa.

"Meus filhos estudam em colégio público. Nós optamos por adquirir um apartamento usado e bem localizado em vez de comprar carro", explica. "Financiamos nosso apar­­­­tamento, mas acredito que isso não nos torna ´me­­nos moradores´, nem com menos direito do que os outros", afirma.

Publicidade

Questionamentos

Luiza sente que, nas reuniões de condomínio, suas opiniões e questionamentos são rechaçados ou ignorados. A dona de casa afirma que ouviu comentários preconceituosos mais de uma vez.

"Sempre que pergunto sobre algum gasto que não estava previsto, ou peço nota fiscal e recibos, falam que eu deveria estar morando em outro lugar, já que acho o condomínio caro", conta Luiza. "Consigo pagar a taxa, mas questiono as despesas que fogem à regra e que não estão bem explicadas".

Ela diz que o que a incomoda são as despesas eventuais e inesperadas do condomínio, que acabam aumentando o valor da taxa, com muitas variações mensais. "O cargo de síndico é ocupado sempre pelas mesmas pessoas", observa.

Desconfiança

Publicidade

Luiza afirma que, quando pede mais de um orçamento para obra ou reparo no prédio, se sente tratada com desconfiança. Quando falou sobre a contratação de uma empresa administradora para profissionalizar a gestão do condomínio, relembra, a sugestão foi rechaçada.

Julio Cesar Herold, ge­­ren­­­te de condomínios da Au­­xiliadora Predial, diz que focos de discriminação ou situação vexatória devem ser evitados e eliminados pelos síndicos.

No entanto, na vida em condomínio, que exige uma série de ajustes entre vizinhos, esse tipo de si­­tuação ainda é vista como normal, comenta. "In­­fe­­lizmente, vemos muitas situações como essa. Mas é papel do síndico evitar esse tipo de ocorrência, conversando com os envolvidos, sem alarde e sem expor ninguém".

Repercussão

Para que uma situação de­­sagradável no condomínio passe às vias judiciais, é preciso que gere grave repercussão psicológica no indivíduo, explica a advogada Vanessa Ponciano.

Publicidade

"Não basta um simples aborrecimento ou abalo para configurar o direito a indenizações. É preciso que se caracterize um vexame ou humilhação que fuja da normalidade, que gere grave repercussão psicológica no indivíduo. É assim que os tribunais têm decidido", observa a especialista em direito imobiliário.

Síndico tem que apresentar despesas

Quem mora em condomínio tem o direito de acompanhar as contas do prédio. "Se aparecem gastos excessivos, não comprovados nem aprovados, os condôminos devem se reunir e tomar medidas para que o síndico preste esclarecimentos e apresente modificações", explica Leonardo Oliveira, da Administradora Manager.

Por outro lado, é importante que síndicos e administradores respeitem os princípios individuais garantidos constitucionalmente. "O síndico jamais deve utilizar expedientes vexatórios ou constrangedores, como afixar um rol de inadimplentes com o nome dos devedores ou proibir a utilização de determinados serviços do condomínio", aponta o administrador. A pessoa prejudicada poderá tomar medidas judiciais contra o condomínio.

Antes de adquirir um imóvel, é fundamental que o comprador se informe sobre a vida do condomínio. Solicitar os documentos que regem o convívio, falar com o síndico sobre o dia a dia entre vizinhos e também conhecer as formas de rateio do condomínio são iniciativas recomendáveis.

Publicidade

"Dessa forma pode-se evitar surpresas desagradáveis, lembrando que é muito importante a participação dos condôminos em assembleia, principalmente quando os itens da pauta se referem à aprovação de alguma despesa", ressalta Oliveira. Depois de aprovadas, as despesas geram responsabilidades a todos os condôminos, independente de sua participação na assembleia, diz o administrador.

Despesas

Há dois tipos de despesas nos condomínios. As ordinárias são, normalmente, as despesas fixas, destinadas à manutenção e conservação do dia a dia do condomínio e das áreas comuns. Elas estão no orçamento e são aprovadas em assembleia geral ordinária.

As despesas extraordinárias visam suprir algo inesperado ou valorizar o condomínio, embelezando e tornando as áreas comuns mais agradáveis e seguras. Pintura de fachada, indenizações trabalhistas, reformas e ampliações, instalação de sistema de segurança, projetos de paisagismo e decoração e o fundo de obras entram nessa categoria.

Despesas dessa categoriadevem ser previamente aprovadas em assembleia extraordinária – com exceção das urgentes, que podem ser realizadas pelo síndico e posteriormente comunicadas e esclarecidas aos condôminos.

Publicidade