
Para crianças e adolescentes ter um irmão significa companhia para brincadeiras, brigas e, em alguns casos, ter alguém para dividir o quarto. Compartilhar o cômodo da casa com o irmão tem suas vantagens e desvantagens. Carolina Vieira Casemiro, de 11 anos, reparte o quarto com Giovana, sua irmã de sete anos. Luciane Aparecida Vieira, mãe das meninas, afirma que deixá-las no mesmo espaço foi a saída encontrada diante da falta de espaço na casa. "Procuramos compensá-las oferecendo uma boa estrutura às duas". Cada uma tem o seu lado, seu lugar no guarda-roupa, é tudo dividido por igual. O quarto é o ambiente delas.
Devido a diferença de idade entre as irmãs, a decoração do quarto foi pensada respeitando algumas características das meninas. O espelho foi projetado para ficar no meio do quarto, para o uso comum, mas é quase propriedade da pré-adolescente Carolina, a mais vaidosa.
A parede do quarto foi pintada em tons de lilás, diz Luciana, que trabalha com tintas. "A cor era tendência na época em que montei o quarto, há dois anos". Nas paredes do cômodo há seis prateleiras, quatro delas Giovana usa para guardar brinquedos, bichinhos de pelúcia e bonecas. As outras duas são usadas por Carolina, que guarda livros, maquiagens e bolsas. "Temos gostos diferentes. Eu gosto de brincar de bonecas, a Carol não. Ela prefere ficar se maquiando", diz Giovana.
O quarto tem uma mesa de estudos de uso comum das irmãs, mas Carolina prefere estudar no quarto da mãe. "Gosto do silêncio e, às vezes, a Giovana entra no quarto e me desconcentro", diz. A caçula se justifica: "A Carol é muito exigente. Eu consigo estudar no nosso quarto".
Luciana ressalta que cada uma da filhas tem gostos e necessidades diferentes. "Acredito que isso seja normal da idade. Uma delas é criança e gosta de brinquedos e a outra está na fase de gostar de batons e maquiagem", comenta.
Situações como essas ganham uma maior atenção dos profissionais de decoração, que estão cada vez mais preocupados em desenvolver projetos voltados para o gosto individual das crianças no mesmo espaço. "Atender as necessidades de cada irmão, principalmente quando há personalidades distintas, é um desafio, mas nada que um bom projeto não resolva", avalia a designer Margit Soares.
Para amenizar as diferenças e valorizar as peculiaridades de cada irmão, o arquiteto precisa ser um mediador e ouvir pais e filhos. "No processo de criação levo em consideração o que ouvi, criando um espaço aconchegante e que atenda as necessidades do dia a dia, acrescentando novas ideias e tendências para melhorar o ambiente", afirma Margit.
A arquiteta Luiza Bohrer salienta a importância de os profissionais ouvirem os filhos dos clientes: "Em qualquer idade, a opinião da criança é sempre importante para o sucesso do projeto. O arquiteto deve escutar e considerar o que é pedido, mas precisa usar a sua experiência para propor e até mesmo alertar para a inconveniência de alguns desejos", opina.
A maior dificuldade, argumenta Luiza, é quando os irmãos têm personalidades diferentes. "Uma criança mais introspectiva vai gostar de cores mais suaves; outra mais esportista vai querer referências ao esporte que pratica. E o quarto deve atender e funcionar para os dois. A saída é identificar aspectos que sinalizem bem essa individualidade, criando harmonia entre esses elementos no contexto do ambiente, que pode ter uma base neutra e destacar exatamente essas diferenças", explica.
Mas personalizar não basta. O desafio ao desenvolver um projeto para irmãos é também otimizar os espaços, diz a arquiteta Carla Basiches. "O quarto tem várias funções, tais como: local de brincar, estudar, assistir tevê, jogar video game".
Com tamanhos cada vez menores e mais recheados por aparatos tecnológicos, cabe aos arquitetos o dever de tornar os quartos multifuncionais. "A dimensão reduziu, mas os quartos estão cada vez mais equipados. Parece uma contradição. Os equipamentos compactos, como tevê de LCD, ganharam a vez e auxiliam a dar lugar para tudo", diz Luiza.
A maioria dos pais, que procuram por projetos de quartos para irmãos, é bem definida, segundo Margit. "As solicitações mais comuns são para quartos de bebês gêmeos ou de crianças de até cinco anos". No entanto, essa demanda tende a mudar. "A maioria das famílias está optando em unir os irmãos e ganhar um quarto para outra função, como quarto de tevê, de brinquedos ou escritório", comenta Carla, que teve a tarefa de desenvolver o quarto das próprias filhas trigêmeas.
Aprendizado
Para a psicóloga Patrícia Serejo compartilhar o quarto com irmão é um aprendizado para a vida. "Ter a oportunidade de dividir o quarto é um bom treino para o convívio social na escola, nas festas e nas viagens". Para que a experiência seja sadia, a psicóloga dá uma dica aos pais. " O ideal é incentivar a vivência dos irmãos sem competitividade e sem ciúmes. Evidenciando a cada filho suas próprias qualidades, sem comparações. Valorizar as atividades feitas em família e os benefícios de ter um irmão. Cabe aos pais ensinar que há bens comuns e bens individuais nestes o outro não mexe ou usa sem a permissão do dono. Isso pode ser feito com armários e escrivaninhas de cada um", analisa.
Irmãos gêmeos
O quarto dos gêmeos George Augusto e Anna Carolina, de três anos, foi planejado com o tema: brincadeira de criança. A decoração foi feita pela arquiteta Varínia Schwartz que fala sobre a importância de conhecer a personalidade das crianças na hora de decorar o quarto. "No caso dos gêmeos, que eram ainda bebês, optei pelo mobiliário todo branco, compondo os acessórios e enxoval com tons em bege para criar um contraste sutil, que emana tranqüilidade e alegria". A pintura do quarto foi feita em tons pastéis. Na parede, há um ladrilho de madeira branca, de cerca de um metro, que serve como suporte para vários desenhos personalizados, feitos em MDF, que vão desde uma menina segurando um ursinho até um menino com um estilingue na mão. O quarto ao lado foi aproveitado para criar uma brinquedoteca, com espaço para estudo, video game e outras diversões.
Mesmo com duas suítes vagas na casa, o casal Alvelino e Maurita Pscheidt optou por colocar seus filhos no mesmo quarto. O casal explica que foi uma estratégia para as crianças crescerem em bom convívio. Para os pais, a escolha deu certo. "Hoje, os dois são muito amigos. Se chamar a atenção de um deles, o outro defende. No quarto, cada um respeita o espaço do outro", conta Maurita.
Evite ciúmes
O maior problema na hora de dividir o quarto com o irmão mais novo é o ciúme, segundo a psicopedagoga Raquel Caruso. "Esse sentimento, que pode ser percebido antes mesmo da chegada do novo membro da família, durante a gravidez, é mais acentuado em crianças com menos de cinco anos, que ainda são muito dependentes dos pais" .
Este é o caso de Virgínia e Gustavo Machado. Há seis meses, o casal se mudou para um novo apartamento, de dois quartos, que era sob medida para eles e o filho Eduardo, de quatro anos. Virgínia está grávida de cinco meses, de uma menina, e já pensa na melhor maneira de dividir o quarto para a chegada da filha.
"Hoje, o quarto está todo decorado com brinquedos e cores de menino. Com a chegada do bebê, vamos ter de pintar novamente o quarto e dar um toque feminino. Os dois vão ter o mesmo espaço. A cama do Eduardo permanecerá no mesmo lugar e vamos colocar um berço do outro lado", diz Machado.
O espaço pode continuar lúdico, porém é importante pensar em soluções que atendam as necessidades específicas da bebê, como: local para amamentação, troca de fraldas e banho, aconselha a arquiteta Varínia Schwartz. "Além desses espaços, não podemos esquecer do irmão mais velho, que deve ter espaço para guardar seus brinquedos".