O traçado sinuoso e o verde abundante, que formam uma espécie de refúgio em meio ao burburinho da cidade, não deixam dúvidas: a Rua Eduardo Sprada é um dos endereços mais charmosos de Curitiba. Tida como uma das principais vias do Campo Comprido, o endereço corta outros dois bairros e é um dos destinos preferidos de quem deseja morar bem, além de ser uma importante ligação para a região oeste na capital.
Filho do
Campo Comprido
Um curitibano que estudou Medicina Veterinária e chegou a ser prefeito de São Mateus do Sul. Este foi Eduardo Sprada, figura pública que dá nome a esta que é uma das mais tradicionais vias de ligação com a região oeste de Curitiba.
Nascido em 1909, na chácara de sua família, no bairro Campo Comprido, Sprada formou-se médico veterinário pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1934. Dez anos depois, entrou para o serviço público, trabalhando na Coletoria Federal de São Mateus do Sul. Nesta cidade, foi presidente do Hospital e da Associação Rural e elegeu-se prefeito no ano de 1950.
Quatro anos mais tarde, lançou-se candidato a deputado estadual, mas não chegou a concorrer às eleições em decorrência de sua morte, em junho de 1954, pouco antes de completar 45 anos.
Com 8,8 quilômetros de extensão, a via é uma continuação da Avenida Nossa Senhora Aparecida. Seu início é marcado pela ponte do Rio Barigui, depois da qual a rua é tomada pelos condomínios horizontais de alto padrão – a reportagem contou pelo menos 15 empreendimentos no trajeto – e pelas reservas verdes particulares. Dividindo a atenção com as poucas casas antigas que ainda sobrevivem, estes elementos dão um ar quase que particular à via.
“Se observarmos a situação cadastral da rua, percebemos que boa parte dos terrenos tem grandes testadas, com lotes também grandes, o que resultou nesta característica de ela concentrar vários condomínios”, explica Camila Muzzillo, arquiteta e urbanista do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Ela acrescenta que o zoneamento da rua, trecho divisor entre ZR1 e ZR2, também favorece a horizontalidade dos empreendimentos.
Para Tomás Herrera, diretor comercial e de marketing da CGL Condomínios Fechados – que já construiu um condomínio na Eduardo Sprada e tem outros dois lançamentos na região –, a proximidade com o Centro, aliada à paisagem arborizada e à baixa velocidade da via, atrai os moradores que desejam fazer um upgrade do imóvel e morar com mais tranquilidade. Segundo ele, o ticket médio dos imóveis em condomínio na via fica acima dos R$ 2 milhões.
“1001 Ruas
de Curitiba”
Organizado pela arquiteta Camila Muzzillo, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o livro “1001 Ruas de Curitiba” reúne as histórias de personalidades e desconhecidos que emprestam seus nomes aos endereços da cidade – grande parte delas desconhecidas, inclusive, por quem mora ou trabalha nas vias. Além das histórias, o livro também traz a identificação do bairro onde a rua está localizada. Editado pela Artes & Textos, o título pode ser encontrado nas livrarias do Paço da Liberdade e do Museu Oscar Niemeyer.
Outra cara
Conforme a Eduardo Sprada vai se afastando do Centro, seu cenário vai se modificando. Na altura do terminal Campo Comprido, praticamente na divisa deste bairro com a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), os condomínios de luxo dão lugar às habitações mais populares, com prédios de poucos andares, e ao comércio de bairro.
“Esta região, mais afastada da área central, foi loteada e recebeu a abertura de ruas para aproximar a habitação da zona industrial”, pontua Camila. Como consequência do maior adensamento populacional, ela também apresenta mais oferta de comércios e serviços, lembra Herrera.
Ainda seguindo em direção à região oeste, a Eduardo Sprada cruza o Contorno Sul e chega ao bairro Augusta, passando ao lado da Volvo e de outras empresas da região até morrer às margens da represa do Rio Passaúna, cuja ponte marca a divisa de Curitiba com o município vizinho de Campo Largo. Nele, a via renasce com a denominação de Rua Mato Grosso, uma lembrança aos seus tempos de Império. (Leia mais abaixo).
Caminho para o oeste
A rua que hoje conhecemos como Eduardo Sprada já foi, no passado, a Estrada do Mato Grosso, que ligava Curitiba à região dos Campos Gerais nos anos do Império. Segundo boletim da Casa Romário Martins, o historiador Júlio Moreira atribuiu o início do caminho aos catadores de ouro e à atividade agropecuária, na segunda metade do século 17.
Camila Muzzillo, arquiteta e urbanista do Ippuc, lembra que no século 18 a via foi utilizada para fazer a ligação dos tropeiros, que passavam a oeste de Curitiba rumo a Sorocaba, com o núcleo habitacional da capital.
Tal característica foi mantida nos séculos 19 e 20, nos quais o trajeto era utilizado como um caminho colonial, ligando o centro urbano à produção das colônias de imigrantes localizadas nos arredores da cidade. “Ele fazia a conexão, por exemplo, com as colônias de poloneses, que hoje estão em Araucária. Essa população trazia comidas e lenha em carroções para vender na feira”, conta Irã Taborda Dudeque, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR) e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Segundo ele, a própria sinuosidade da via é uma herança destes períodos, nos quais as curvas eram necessárias para que os cavalos conseguissem fugir da inclinação e vencer os terrenos acidentados da região.
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