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Mulheres em ação em canteiro de obras no bairro do Ganchinho, em Curitiba: refeitório, banheiros e local de descanso exclusivo para as operárias, a fim de evitar assédio. “Segregação” só é possível em empreendimentos de grande porte | Fotos: Walter Alves/Gazeta do Povo
Mulheres em ação em canteiro de obras no bairro do Ganchinho, em Curitiba: refeitório, banheiros e local de descanso exclusivo para as operárias, a fim de evitar assédio. “Segregação” só é possível em empreendimentos de grande porte| Foto: Fotos: Walter Alves/Gazeta do Povo
  • Equipe da construtora AM5: as 60 trabalhadoras contratadas colecionam resultados positivos para a empresa

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam que a presença das mulheres na mão-de-obra utilizada na construção civil tem crescido nos últimos anos. Entre 2002 e 2008, a participação feminina nos postos de trabalho relacionados com a construção civil cresceu cerca de 40,9%, contra 34,5% dos homens. A estimativa é que, no Brasil, 12% de operários desse setor sejam mulheres. No Paraná, entre os 136 mil empregados, cerca de 6% são mulheres, de acordo com levantamento do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracon).Além de mostrar que elas estão presentes nos canteiros de obras, os números refletem o otimismo do setor, que, por meio de ações pú­­­­blicas e crédito facilitado, está aquecido. "O mercado está animado e isso incide diretamente na es­­cassez de mão-de-obra. Há postos de trabalho à disposição e as mulheres precisam do emprego", avalia Maira Mat­­­­tana, vice-diretora de responsabilidade social do Sindicato da Inústria da Construção Civil (Sinduscon), que engloba construtoras e incorporadoras.

Além da necessidade do setor, o cotidiano dos canteiros tem mostrado que homens e mulheres podem executar os mesmos serviços. "Se antes elas ficavam na limpeza e com serviços mais ‘leves’, como pintura e rejunte, agora participam de todas as etapas da obra", comenta Maira. Para ela, a mudança no cenário da construção civil ajudou a desmistificar as profissões ligadas ao chão de obra. "Antes, não passava pela cabeça de uma mulher que ela poderia ocupar uma dessas funções, mas acreditamos que essa fase de preconceito já passou", diz.

Motivação

De acordo com ela, todos os cursos de formação para mulheres feitos em parceria com o Sindus­­con-PR tiveram 100% de aproveitamento. "Os construtores não têm mais nenhum tipo de preconceito e já percebem que contratar mu­­lheres pode até ser mais vantajoso", comenta. "As mulheres são mais comprometidas com horário, faltam menos e estão dispostas a aprender", afirma Getúlio Gon­­çal­­ves Torres, mestre-de-obras de um canteiro onde um terço dos tra­­balhadores são mulheres. "Elas não possuem experiência na área, então aceitam, com mais facilidade, críticas ou sugestão de mudanças", diz.

"As mulheres compensam qualquer diferença ergonômica pela vontade de trabalhar. Elas estão animadas e motivadas", reitera Miguel Murad, proprietário da construtora AM5, que emprega cerca de 60 mulheres. De acordo com ele, a experiência da contratação de mulheres tem sido positiva. "A produtividade delas não é sempre a mesma que a do homem, mas, pelo ótimo desempenho, vale a pena contratá-las", comenta.

Cuidados

De acordo com ele, está nos planos da empresa poder especializar as mulheres ao ponto de programar uma obra, em terreno mais confinado, onde apenas mulheres trabalhem. No canteiro de obras do Parque Iguaçu – que terá mais de 1200 unidades residenciais – onde trabalham as 60 funcionárias da AM5, uma estrutura especial teve de ser construída. Refeitó­­rios, banheiros e local para descanso são exclusivos para as mulheres. "Tomamos esse cuidado de ‘segregar’ a obra para impossibilitar qualquer situação de assédio. Ainda estamos em uma sociedade machista, então as mu­­lheres também são orientadas a nunca andar sozinhas pela obra", diz Murad.

Segundo ele, o custo para instalação exclusiva não chega a criar ônus significativo, mas só é possível montar essa estrutura em grandes canteiros. "Aqui, a quantidade de funcionárias compensa o investimento. Mas em uma obra menor, como a de um prédio, por exemplo, preparar essa estrutura fica mais complicado", aponta. Por isso é que a capacitação de mulheres em todos os níveis, de servente a mestre-de-obras, vai possibilitar equipes exclusivamente femininas, para obras mais confinadas, de acordo com o engenheiro.

Trabalho é pesado, mas compensa

As trabalhadoras da construção civil mostram que é possível conviver em ambientes predominantemente masculinos, inclusive fazendo as mesmas funções. Carregar baldes de cimento e preparar a massa não fazia parte do cotidiano de algumas mulheres, que estavam acostumadas com panos e produtos de higiene. "Eu sempre trabalhei com limpeza, mas aqui vi uma oportunidade de evoluir, de aprender uma profissão", assegura Fabia­­na Alves de Assis, de 29 anos. Ela diz se sentir em uma escola. "Faz três meses que estou aqui e o que aprendo levo para casa. Estamos conseguindo começar a reformar alguns cômodos", conta.

Além do aprendizado, as mulheres da obra se sentem valorizadas por causa da remuneração. A maioria delas é oriunda de funções que envolviam serviços de limpeza e a remuneração girava em torno de R$ 500. Agora, recebem cerca de R$ 900 e estão animadas com a possibilidade de crescimento. "O serviço é mais cansativo, mas podemos até crescer na carreira e quem sabe chegar a mestre-de-obras", comemora Maria Lúcia de Novaes, de 38 anos.

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