"Os novos projetos [no Centro] têm como foco estudantes, casais sem filhos, solteiros e pessoas mais idosas que querem trocar casas e apartamentos maiores por unidades compactas. E também investidores interessados em alugar ou revender os imóveis futuramente."
Eduardo Quiza, diretor de incorporação da Invespark
Há algum tempo, quem circula pela região central de Curitiba testemunha uma transformação imobiliária como há muito não se via: junto aos sisudos edifícios de muitas décadas, nos últimos terrenos vagos ou em lugar de antigos prédios de um ou dois pavimentos, estão surgindo torres de trinta ou quarenta andares. Uma exuberante "cidade nova" de vidro, alumínio e rebuscados nomes em inglês, que atende e, principalmente, alimenta o desejo de morar ou trabalhar no Centro.
Nos últimos três anos, a região central de Curitiba (que além do Centro compreende também o São Francisco, Centro Cívico e Rebouças) foi redescoberta pelo mercado imobiliário, em especial no segmento habitacional. Os edifícios, em muitos casos complexos que somam apartamentos, conjuntos comerciais e estúdios (as antigas quitinetes), prometem oferecer aos seus ocupantes o que existe de mais moderno em comodidades, de redes wi-fi a serviços do tipo pay-per-use.
O processo se acelerou do início de 2010 para cá, segundo os dados da pesquisa Perfil Imobiliário. Construtoras e incorporadoras obtiveram a liberação para a construção de 4.181 unidades residenciais nos quatro bairros, uma média entre 2010 e os dez meses de 2011 de 2.090 unidades 280% mais que na média anual de 2003 a 2009 (745 unidades).
A participação da região central no total de novas construções residenciais também saltou de um período para outro, de 5% para 14%. Apenas no Centro, a Prefeitura liberou a construção de 2.699 unidades entre janeiro de 2010 e outubro de 2011, o que equivale a mais de dois terços de todas as liberações para a região.
Em relação às obras concluídas, os números também são incríveis: entre janeiro de 2010 e outubro deste ano foram entregues 1.389 unidades residenciais na região central, contra um total de 2.075 nos sete anos anteriores. Em outras palavras: em 22 meses, o mercado recebeu o equivalente a dois terços do que havia recebido nos 84 meses anteriores.
Razões
"A situação começou a mudar há cerca de oito anos, quando as construtoras responderam aos incentivos oferecidos pela Prefeitura de Curitiba para empreendimentos habitacionais na região", diz o presidente da imobiliária Cibraco e da Rede Imóveis (associação que reúne doze imobiliárias de Curitiba), Sidney Axelrud. Os incentivos dos quais Axelrud fala as são vantagens em relação ao potencial construtivo de quem investe na região. O potencial construtivo permite que uma empresa construa um prédio mais alto e com maior área em regiões determinadas pela Lei de Zoneamento e Uso do Solo Urbano em troca de um repasse em dinheiro a uma obra de interesse público, como a restauração de prédios históricos ou de valor cultural e social, a preservação de uma área verde ou o próprio investimento na reocupação residencial no Centro.
"Os novos projetos têm como foco estudantes, casais sem filhos, solteiros e pessoas mais idosas que querem trocar casas e apartamentos maiores por unidades compactas. E, também, investidores interessados em alugar ou revender os imóveis futuramente", explica Eduardo Quiza, diretor de incorporação da Invespark. A empresa foi pioneira em apostar no Centro ao lançar, em 2006, o Central Park Residence, edifício de apartamentos compactos e lojas localizado na Praça Osório.
Na avaliação do economista e diretor da Brain Bureau de Inteligência Corporativa Fábio Tadeu Araújo é possível que, em breve, os empreendedores ampliem o público-alvo de seus empreendimentos. "Por muito tempo, as construtoras e incorporadoras não lançaram apartamentos de dois ou três quartos na região, e existe uma boa demanda por imóveis novos desse padrão. De famílias, pessoas sozinhas ou casais interessados em ter mais espaço para, por exemplo, montar um escritório." Como exemplo de sucesso no segmento, ele cita o Soul Batel Soho, empreendimento da construtora Laguna na Rua Brigadeiro Franco. Lançado em março deste ano e com entrega prevista para outubro de 2014, o edifício, de 34 pavimentos, apartamentos de três quartos e 120 metros quadrados de área privativa, já vendeu 70% de todas as unidades. Preço? Entre R$ 660 mil e R$ 750 mil.
O valor do metro quadrado privativo na região central é hoje um dos mais caros de Curitiba: R$ 5.093, 7% acima da média da cidade, de R$ 4.744. Os preços médios dos apartamentos de dois e três dormitórios também estão maiores que na média geral, 15,4% e 11,8%, respectivamente. Dos 562 apartamentos à venda hoje na região, 42% estão entre os padrões standard (de R$ 250 mil a R$ 400 mil) e médio (de R$ 400 mil a R$ 600 mil), e apenas 2% são padrão econômico (entre R$ 150 mil e R$ 200 mil).
Moradia e investimento
A arquiteta e consultora de imóveis Vanessa "Duda" Akemy Pereira comprou um apartamento de 34 metros quadrados no Lifespace Sete de Setembro, empreendimento da Invespark na esquina das avenidas Sete de Setembro e Marechal Floriano Peixoto. Segundo ela, os fatores que mais influenciaram a aquisição foram o conceito do imóvel e a localização. "Minha rotina exige que eu more em um lugar mais moderno, e o fato de ser um apartamento compacto ajuda muito. Além disso, eu preciso me locomover rapidamente, o que fica mais fácil a partir do Centro." Para Vanessa, a configuração dos serviços oferecidos também é uma vantagem. "Para quem quase não para em casa os serviços de lavanderia e limpeza ajudam muito. Além disso, como funcionam no sistema pay-per-use, em que você paga pelos serviços que utiliza, acabam sendo acessíveis." Ela calcula que, como o edifício terá muitas unidades residenciais 262, entre apartamentos e estúdios, além de 17 conjuntos comerciais e quatro lojas , o impacto das facilidades sobre o valor do condomínio não será tão grande. O Lifespace Sete de Setembro deve ser entregue em 2014. Preço das unidades residenciais: a partir de R$ 204.700.
A investidora Luciane Passos Soresini comprou três estúdios e uma garagem no mesmo empreendimento, além de quatro estúdios no Lifespace Estação, em frente à Praça Eufrásio Correia. "Gosto de investir na aquisição dos imóveis ainda na planta, pois é quando eles têm os preços mais atraentes. Eles devem reunir características que atraiam os compradores, como localização estratégica, funcionalidade e lazer. Além disso, procuro trabalhar com incorporadoras de credibilidade, para ter mais segurança." Sua ideia, em um primeiro momento, é alugar os imóveis. Ela não descarta, contudo, a possibilidade de venda. "Tudo vai depender da evolução do mercado imobiliário na região."
Luciane acredita que a região central deve se valorizar nos próximos anos. "Os investimentos na revitalização da área são visíveis. Também há a questão do perfil dos interessados, de estudantes, solteiros ou famílias de tamanho reduzido."