Responsável por 70% do crédito imobiliário no país, a Caixa busca formas de driblar a escassez de recursos para financia-mento de imóveis.| Foto: Marcelo Elias/Arquivo Gazeta do Povo

O mercado imobiliário vive momentos de apreensão. As recentes notícias que apontam para um período de restrição do crédito, puxado pela fuga recorde da poupança, fizeram o setor buscar auxílio junto ao governo federal, que estuda medidas para estimular o segmento. Algumas das hipóteses em discussão referem-se à liberação de parte dos depósitos compulsórios e à elevação do teto para financiamento de imóveis com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

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Medidas

Negativa desde janeiro, a captação líquida da poupança levou os bancos públicos a anunciarem medidas que impactaram o crédito imobiliário no último mês. Relembre:

Taxas de juros

16 de abril

Pela segunda vez no ano, a Caixa subiu as taxas de juros para os financiamentos contratados com recursos da poupança. O reajuste, de 0,3 ponto porcentual, passou a valer para os contratos assinados a partir de 13 de abril.

Novas regras

04 de maio

Passam a valer as novas regras da Caixa para o financiamento. O limite do crédito para imóveis novos passou a ser de 80% do valor total do bem. Para os usados, o teto caiu de 80% para 50% do valor do imóvel pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Usados acima de R$ 750 mil, enquadrados no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), tiveram o limite de financiamento reduzido de 70% para 40% do valor do bem.

Banco do brasil

07 de maio

Depois da Caixa, foi a vez do BB mudar as regras para o financiamento. A taxa de juros máxima do banco será elevada de 9,9% ao ano mais a TR para 10,4% ao ano mais a variação da TR. O prazo máximo para pagamento passará de 360 meses para 420 meses. A entrada foi mantida em 20%. As medidas valem a partir desta segunda-feira (18).

Socorro

Nesta semana

Governo federal estuda alternativas para aliviar o crédito imobiliário. As solicitações do setor envolvem a liberação dos depósitos compulsórios e de aumento do teto, para R$ 300 mil, dos contratos com recursos do FGTS.

“Fila de espera”

Nesta semana

A Caixa Econômica teria criado “uma fila de espera” para atender novos pedidos de financiamento imobiliário com recursos da caderneta. O banco nega, no entanto, que haja suspensão na concessão do crédito, mas diz ter realizado ajustes nas cotas.

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O governo, contudo, não teria recebido bem a sugestão do setor de liberar os compulsórios para o financiamento imobiliário. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), José Eugenio Gizzi, diz que esta probabilidade tende para “zero”.

O pedido de ampliação do teto de R$ 190 mil para R$ 300 mil dos imóveis contratados com recursos do FGTS, por sua vez, é apontado como uma das soluções mais prováveis. “Outra proposta seria cobrar das instituições privadas que seja cumprida a exigência de se aplicar 65% dos recursos da poupança no Sistema Financeiro de Habitação [SFH]. Assim, mais recursos estariam disponíveis”, aponta Gizzi, afirmando que algumas instituições usam parte destes recursos para outros fins.

O estopim da crise é a escassez na arrecadação da caderneta de poupança, principal fonte de recursos para os financiamentos contratados pelo SFH, válido para imóveis de até R$ 750 mil. Desde o início do ano até abril, os saques superaram a captação da caderneta em um volume que já soma R$ 29,1 bilhões.

Otimismo

A construção civil está otimista quanto a uma postura positiva do governo federal para estimular o setor. O presidente do Sinduscon-PR diz que é visível a preocupação do governo em encontrar uma solução e que ele tem consciência do tamanho deste segmento, assim como de seu impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e a geração de empregos, com reflexos sobre toda a economia.

“Qualquer medida que o governo tome dentro dessas linhas irá ajudar. Se adotar todas elas, podemos até ficar em um patamar melhor do que antes. A demanda existe, o que falta é a garantia de crédito a preço justo”, avalia.

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O economista Luciano D’Agostini, doutor em Economia pela UFPR, avalia que o momento difícil da economia deverá ser um limitador para a adoção das medidas de incentivo. “Neste momento, o governo pode avaliar que os fundos da poupança e do FGTS serão necessários para outras finalidades”, projeta. Isso porque o governo e os bancos precisariam destes recursos para “pagar” os saques da poupança e os resgates do FGTS, que devem crescer com o desemprego em alta.