Construtoras e incorporadoras que têm como foco de seus lançamentos a região central frequentemente se deparam com terrenos onde há construções de interesse histórico: patrimônios tombados pelo Estado ou Unidades de Interesse de Preservação (UIPs), um tipo de tombamento feito pelo município. Mais 600 imóveis possuem essa característica em Curitiba. Como não são permitidas intervenções que descaracterizem as construções, que por vezes estão em estado precário de conservação, a saída é a restauração e incorporação do espaço ao novo empreendimento. "O centro de Curitiba é guardião da maior parte das edificações que enriquecem, dão vida e atuam de forma cronológica para a história e a cultura da cidade", afirma a gerente de Gestão de Projetos da Invespark Empreendimentos Imobiliários, Michelle Beber. A empresa tem dois projetos com essa característica na região central.
Para o supervisor de planejamento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Ricardo Bindo, Curitiba é uma capital com loteamentos antigos consideravelmente profundos ou largos. Mesmo que haja um imóvel histórico é possível aproveitar o terreno para uma nova obra junto à edificação antiga.
Vantagens
A Lei Municipal 6.337 de 1982 trata dos incentivos construtivos quando da preservação de imóveis históricos. "As UIPs e os imóveis tombados têm descontos no Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), que variam de acordo com seu estado de conservação e pode chegar a 100%, apenas para a área do prédio preservado", diz Bindo.
Outra vantagem são os parâmetros especiais de ocupação. O prédio histórico não conta como área construída e nem como taxa de ocupação. "Isso é feito para não limitar as possibilidades do novo empreendimento. Mas é importante lembrar que o ideal é que a UIP fique de certa forma isolada da nova construção. A ligação entre os imóveis pode acontecer com elementos arquitetônicos, como corredores ou passarelas", comenta.
Antes da construção é preciso obter aprovação do poder público para incorporar um imóvel tombado pelo patrimônio a uma obra nova e é preciso assumir o compromisso da restauração, considerando a história do edifício e levando em consideração desde o tipo de pintura à conservação dos pisos e portas.
Para Michelle, na nova construção deve ser observada a coerência entre o novo e o antigo, seguindo parâmetros que não apaguem a visualização da UIP.
Entre os projetos incorporados pela Invespark está o Lifespace Estação, que será construído na rua Barão do Rio Branco. Uma casa datada de 1890, em frente à Praça Eufrásio Correia, será preservada e servirá como hall e área de convívio para os condôminos. O imóvel é um patrimônio tombado pelo Estado e, segundo Michelle, houve a exigência para que o espaço não fosse explorado comercialmente.
O projeto arquitetônico, feito pelo escritório Dória Lopes Fiuza, definiu a torre em formato escalonado, para não impedir a visualização do complexo histórico do entorno.
A arquiteta responsável pelo projeto de interiores, Mônica Thá, conta que particularidades do imóvel histórico serão aproveitadas para destacar o novo. "No piso do hall do prédio novo utilizaremos paginação igual a do piso que será preservado no hall da casa", explica.
Outro exemplo da empresa é o edifício Le Parc, em obras na rua Emiliano Perneta, entre a Visconde do Rio Branco e a Visconde de Nácar. À frente do edifício há um casarão, considerado uma UIP, que, após a restauração, será locado para uma livraria ou café.
O arquiteto responsável pelo projeto, Orlando Busarello, conta que as intervenções no imóvel histórico respeitam e valorizam as características do estilo arquitetônico, além dos materiais e sistemas construtivos da casa antiga. "A infraestrutura elétrica, hidráulica e de telefonia foi feita com tecnologia para atender as necessidades de uso de uma construção contemporânea. Foram feitos reforços estruturais e fabricadas novas esquadrias, de acordo com o modelo e materiais originais", detalha.
Michelle afirma que a incorporadora, por trabalhar com foco em apartamentos compactos, precisa de áreas centrais, onde há mais demanda por esse tipo de imóvel. "Com a possibilidade de usar áreas onde estão instalados imóveis históricos, há um ganho tanto para empresa, quanto para a cidade", avalia.
Obras concluídas juntam passado e presente
Entre os empreendimentos concluídos no centro de Curitiba que cumpriram com o propósito que as obras da Invespark estão buscandoestá a antiga sede do Clube Rio Branco, na esquina das ruas Doutor Carlos de Carvalho e Visconde do Rio Branco.
A construção do final do século 19 é um bem tombado pelo Estado e a restauração se deu durante a construção do prédio anexo. Ambos estão alugados e abrigam o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. "Acredito que o restauro nesses casos deve manter o máximo possível de características e adequar as instalações (elétricas, hidráulica e de ar condicionado) propiciando segurança, funcionalidade e conforto para os usuários", diz o arquiteto Thiago Florenzano, que assinou o projeto. Entre as adaptações estão os vidros duplos colocados nas esquadrias iguais às originais para minizar o barulho .
O novo prédio possui pé-direto duplo na área térrea e grandes janelas de vidro, através dos quais é possível visualizar uma das faces da casa antiga.
Florenzano diz que a negociação com a Comissão de Avaliação de Patrimônio de Curitiba é flexível. "Há uma exigência grande com relação a pesquisa histórica e de materiais, mas algumas coisas são concedidas", comenta o arquiteto, que conseguiu autorização para que o estacionamento do prédio anexo passasse por baixo da casa restaurada.
Bem próximo dali, no número 499 da Comendador Araújo, está instalado o Hotel Pestana, parte do complexo Evolution Towers, que tem outras duas torres, e é integrado pela antiga residência do professor e historiador David Carneiro, uma construção do início do século 20. "A solução para esse projeto foi trabalhar com a identidade moderna do empreendimento de forma harmônica, levando em consideração a preservação da casa histórica", explica o arquiteto Flávio Schiavon, do escritório Baggio Pereira & Schiavon, um dos responsáveis pelo projeto.
Hoje, a casa abriga um espaço cultural onde estão livros, textos, fotos, objetos e documentos pessoais da vida de Carneiro administrado em parceria com a Fundação Cutlural de Curitiba.
Outro hotel que ocupa um imóvel antigo é o Johnscher, da rede San Juan, na Barão do Rio Branco. O prédio que abrigou, desde 1917, o hotel da família Johnscher, foi doado à Prefeitura em 1995 e recuperado a partir do projeto dos arquitetos Humberto Fogassa e Carlos Lobo. A rede de hotéis tem a concessão de uso por 25 anos, de acordo a administradora da unidade, Cláudia Belloni Passerino.
Neste caso, em que não houve a construção de um anexo, as características contemporâneas estão na decoração dos quartos e do hall, com detalhes como uma intervenção moderna do artista plástico Cleverson de Oliveira.
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