
Quase 3 mil pessoas vivem no residencial Parque Fazendinha, em Curitiba, no bairro de mesmo nome. Com 32 torres, que abrigam 640 apartamentos, o condomínio tem movimentação similar à de um pequeno bairro e traz um desafio: como administrar tantos moradores?
Mesmo em uma época em que informações são geridas por computador, o famoso "livro preto" mantém seu lugar cativo no residencial. Com a ajuda dele, síndicos tomam conhecimento da rotina das famílias e de seus problemas e podem tomar decisões para colocar ordem na comunidade.
O registro dos moradores no livro é à moda antiga, à base de papel e caneta. O sistema funciona com boletins de ocorrência e não são poucos. Em média, cinco vezes por dia alguém procura a secretaria do condomínio e pede uma folha do livro para registrar sua reclamação.
"Cada bloco do condomínio tem uma pasta. O morador escreve a queixa, explicando o que está acontecendo. Avaliamos todos os registros, um por um", explica a conselheira do condomínio, Siomara Katowski. O preenchimento das folhas requer a descrição completa do caso, além de data, hora, nome dos envolvidos e identificação da unidade que está fazendo a reclamação.
Siomara conta que os principais geradores de ocorrências são danos causados nos carros, barulho de vizinhos durantes festas ou reuniões, crianças em férias circulando pelo condomínio e o ruído dos pets.
"Cada queixa é recebida pela secretaria, que passa o caso para a administração. A partir daí, o prazo é de 48 horas para que os administradores apresentem uma solução", explica Siomara, que foi síndica do condomínio por 10 anos. A resolução é , então, descrita e arquivada junto com o boletim de reclamação.
O livro de ocorrência é fundamental, salienta a experiente conselheira. Nele o condômino leva ao conhecimento do síndico fatos que requerem medidas administrativas, como o carro riscado, a festa barulhenta do vizinho que avançou a madrugada ou o comportamento inadequado de funcionários do residencial.
Espaço necessário
Boletim, livro ou online: independente do formato, é recomendável que todo condomínio ofereça um espaço para que os moradores registrem o que acharem relevante. "Dessa forma, o condomínio não poderá se eximir da responsabilidade. Muitas vezes, os administradores não sabem o que está acontecendo até que a reclamação seja formalizada", explica o vice-presidente de condomínios do Sindicato da Habitação (Secovi-PR), Dirceu Jarenko.
No entanto, essa ferramenta precisa ser utilizada com moderação e cautela e quem faz esse filtro é o síndico. "Nem tudo que acontece merece ser registrado. O síndico deve avaliar quais situações podem ser resolvidas com uma conversa", avalia Jarenko. "Há casos em que não cabe dar publicidade a um fato. Alguns não dizem respeito aos demais moradores e podem ser resolvidos apenas entre os condôminos envolvidos", aponta Jarenko.
Ele dá uma dica para fazer essa avaliação. "Se o problema só atinge um condômino, é provável que um bom papo seja suficiente. Se uma pessoa chega todo dia tarde, usando salto alto, pode estar incomodando o vizinho do andar de baixo sem saber. A melhor atitude nesse caso é propor uma conversa, sem expor a situação", explica.
Cursos e especializações para atuar como síndico
A responsabilidade de mediar conflitos e gerenciar condomínios não é para amadores. Cada vez mais, quem atua como síndico deve buscar qualificação. Em Curitiba, o Secovi-PR e o Centro Europeu oferecem cursos específicos.
"Administrar o livro de ocorrências é uma das funções do síndico, que exige imparcialidade, bom senso e técnicas de mediação. O responsável não deve expor situações críticas, que podem inclusive gerar ações judiciais ", exemplifica Dirceu Jarenko, vice-presidente de condomínios do Secovi-PR. Nos cursos, os síndicos aprendem como enfrentar situações delicadas, reclamações entre os condôminos e outros detalhes da administração.
O Secovi-PR oferece cursos todos os meses. Sempre é abordado um tema diferente, inclusive o gerenciamento de conflitos entre vizinhos. Com duração entre três e nove horas de duração, os cursos custam de R$ 50 a R$ 150. Para síndicos de condomínios filiados ao Secovi, não há custos. No Centro Europeu, o curso de síndico tem carga horária de 24 horas. A próxima turma começa em maio. Serão três encontros, todo sábado, entre 11 e 25 de maio.




