Destino
Médico trocou a profissão pelo ramo imobiliário
Em 1975, Waldemir Bezerra foi aprovado no vestibular de Medicina com o louvor da família. Para conseguir pagar as contas e os materiais que a faculdade exigia, ele começou a fazer "bicos" na área de corretagem de imóveis. "Era uma maneira de sobreviver. Tinha dois expedientes todos os dias", conta o hoje vice-presidente para assuntos internacionais do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci).
Passados os primeiros meses, o futuro doutor começou a organizar o próprio escritório com outros colegas em Natal (RN). Deu tão certo que o negócio comemorará 35 anos e a Medicina acabou ficando de lado. Quando formou-se, em 1981, fez a opção pelo seu escritório. "Já estava bem posicionado no mercado, realizado profissionalmente e com um padrão de vida e salário que demoraria para alcançar novamente se seguisse para Medicina".
No entanto, para o corretor, as áreas que são tão diferentes se parecem, e muito. "O corretor também trabalha muito com o ser humano, assim como os médicos. Isso sempre me fascinou e talvez é o fator que mais me atraiu. É uma satisfação poder vender o primeiro imóvel para uma família e participar deste momento de felicidade". Hoje, aos 59 anos, é Bezerra quem passa a vocação aos filhos três já estão envolvidos no ramo. "Não me arrependo de nada. Se acontecesse a mesma situação hoje, faria tudo de novo".
O aquecimento do mercado imobiliário nos últimos anos fez crescer também o número de corretores de imóveis no Paraná. Em menos de cinco anos, o número quase dobrou: em 2005, eram 5.800 corretores no estado; no final de 2010 devem ser 10 mil profissionais, de acordo com o Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (Creci-PR). Somente neste ano, dois mil corretores serão capacitados e o número deve crescer, pelo menos, em 20% para suprir a demanda o cenário ideal de corretores para atender os compradores deveria ser de, em média, 13 mil profissionais. Além do acréscimo, o perfil do corretor de imóveis mudou. Muitos têm curso superior, falam uma língua estrangeira e trocaram uma profissão estável principalmente por conta dos ganhos o porcentual médio da comissão é de 6% do valor do imóvel comercializado, dividido entre corretor e imobiliária. Segundo o presidente do Creci-PR, Alfredo Canezin, a média de rendimento no Paraná é de no mínimo R$ 1.800 mensais podendo variar conforme a pró-atividade do profissional."A profissão ganhou notoriedade diante da sociedade, o que valorizou a área. Porém, é necessário que o corretor busque novos conhecimentos a cada dia", ressalta o presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), João Teodoro da Silva. Segundo ele, além de o profissional se manter atualizado com leituras sobre o assunto, deve ficar atento aos cursos específicos (como de locação, legislação, entre outros) e palestras oferecidas nos conselhos regionais. No Paraná, por exemplo, os corretores têm na segunda quarta-feira de cada mês palestras gratuitas no Creci sobre um assunto relacionado ao segmento, tanto na sede de Curitiba quanto nas delegacias no interior do estado.
Independentemente da formação superior, a pessoa deve cursar, obrigatoriamente, o técnico em transações imobiliárias ou o superior em gestão imobiliária (ambos disponíveis na UFPR ou em cursos a distância) para tirar a inscrição no Creci. "Trabalhar sem inscrição é ilegal. Quem compra um imóvel deve pedir sempre o número ou acessar o site do conselho para obter a informação", alerta Canezin.
Logo que começou a pensar em migrar para o ramo, o corretor João Carlos Hoeffling Ribas, de 47 anos, fez o curso técnico na área. Depois de trabalhar 25 anos em uma indústria metalúrgica e chegar no topo da carreira, resolveu se desligar da empresa e viu na corretagem de imóveis uma oportunidade promissora. Com apenas oito meses de imobiliária, ele já gerencia a equipe da área de lançamentos. "A profissão impõe desafios diários. Quem tem perfil pode crescer muito na carreira", acredita.
A corretora Ordália da Silva Gaspar, de 49 anos, encontrou na área um caminho para voltar ao mercado de trabalho. Depois de dez anos como dona-de-casa e muitos cursos na área de vendas e marketing, trabalha em uma imobiliária há dois anos. "Desde que comecei, vejo que as vendas melhoram a cada mês. Gosto de trabalhar com o público e de lidar com o sonho das pessoas".
Flexibilidade e a não-imposição de horário de trabalho fixo é outro fator que leva cada vez mais gente procurar a corretagem. É o caso do corretor Edison Moreira, de 42 anos. Formado em administração de empresas, ele trocou, há dois anos, a profissão de gerente de logística em uma multinacional. "Na indústria eu precisava estar 24 horas atuando, já que eram muitos profissionais sob a minha responsabilidade. Chegou em um nível de estresse em que resolvi buscar um setor mais atraente. Como corretor, posso administrar a minha agenda e ter uma qualidade de vida melhor".
Jovens
Outra característica do novo perfil de corretores de imóveis é a idade. Jovens como Odair José dos Santos, de 21 anos, que trabalha há quatro meses no ramo, são profissionais cada vez mais comuns na área. Antes de procurar o setor, ele já havia trabalhado como representante comercial em uma fábrica. "Mandei currículo e vim fazer entrevista. Meu gerente disse que tenho potencial", conta.
Apesar de trabalhar há pouco tempo, o corretor já conseguiu realizar três vendas e busca driblar a desconfiança por conta da idade demonstrando conhecimento no assunto. "Preciso sempre saber sobre o valor do metro quadrado e outras características dos imóveis dos bairros em que atuo. Para engrenar é preciso dominar bem o assunto", enfatiza Santos, que busca na internet informações sobre legislação e sempre está em contato com os corretores mais experientes da imobiliária. "A prática ensina muito e na dúvida pergunto para o meu gerente e para os colegas. O corretor não vende só uma casa ou terreno, vende informação. É nisso que o cliente sente segurança".
Segundo Alfredo Canezin, jovens se sentem mais atraídos pela profissão porque ela deixou de ser uma segunda opção de trabalho. "Antes, a pessoa tinha uma outra ocupação, se aposentava e vinha para a corretagem. Era uma alternativa. Hoje profissionais mais novos buscam essa área por conta do dinamismo e pela possibilidade de crescer profissionalmente e financeiramente. Temos visto o ingresso deste perfil com bons olhos".
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