Material novo
Desconhecimento gera mal-entendido
Por desconhecer um termo que era pouco divulgado, o empresário Milton Steyer adquiriu um apartamento sem saber que as paredes internas não seriam de alvenaria. "Quando comprei, na planta, a construtora informou que usaria drywall, mas eu não sabia o que era isso, e também não perguntei." A surpresa veio na entrega do imóvel. "Amigos disseram que eu não podia pendurar quadros nem instalar móveis", recorda. Há 15 anos, o drywall era pouco usado no Brasil. "Só depois que o apartamento estava pronto fui me informar. Há algumas limitações, mas também muitas vantagens. Quando fiz reforma para integrar sala e cozinha, a obra foi muito fácil."
Relato
Perdido no emaranhado de fios, pontos e tomadas
João Pedro Schonarth, é repórter da Gazeta do Povo
Não é fácil ser uma pessoa "comum" e comprar um apartamento. Digo isso porque nós, consumidores, não conhecemos termos técnicos que podem fazer toda a diferença. Adquiri meu apartamento na planta em 2009, para recebê-lo pronto em 2012. Foram três anos de espera e ansiedade, com muitos vaivéns ao escritório da arquiteta (terceirizada pela construtora) para escolher itens de acabamento. Entre outras decisões sobre pisos e revestimentos eu podia acrescentar pontos de tomada, dentro de um limite definido pela construtora. Pedi para colocar o máximo possível, por pensar que tomadas nunca são demais.
Em uma das visitas, recebi uma planta técnica com as indicações de pontos de tomadas, antenas e rede de telefonia no apartamento. Achei que tinha entendido era uma planta simples. Ledo engano. Primeiro, porque não perguntei onde estariam as tomadas extras. Em segundo lugar, não estava claro, para mim, nem mesmo onde estariam as tomadas previamente contratadas.
Na primeira visita, surpresa: as tomadas estavam em pontos diferentes, inclusive, dos apontados na planta inicial do imóvel. Por sorte, eu não havia encomendado móveis planejados antes da vistoria, pois teria que adaptar o projeto à realidade que encontrei na hora da entrega do apartamento.
Na busca por um apartamento, as primeiras decisões passam pelos fatores preço e localização. Feitas as contas, é hora de checar itens sobre a obra e questões específicas do empreendimento antes de fechar a compra. Há detalhes importantes que farão toda a diferença.
Plantas, projetos, materiais e termos específicos podem soar complicados para o comprador, mas ele não deve se intimidar. "É preciso perguntar de qual material são as paredes, por exemplo", diz Jussara Specian, arquiteta do escritório Casacinco.
"Uma situação comum é a pessoa olhar a planta do imóvel e achar que entende o que está desenhado ali, mas só depois, ao visitar um apartamento modelo, ou quando recebe o seu, percebe que os tamanhos dos cômodos e a posição das portas e janelas são diferentes do que imaginava", aponta.
Os cuidados se aplicam a imóveis comprados na planta, aos novos e prontos, e também aos usados. "O comprador precisa saber quais divisórias podem ser alteradas, a qualidade das tubulações, como foi feita a fiação elétrica e o encanamento, como funciona o sistema de gás e onde é possível furar a parede", enumera a arquiteta Rosiana Sant´Ana.
O check-list do imóvel usado tem demandas específicas. Em geral, os compradores querem fazer reformas. Nesses casos, além de buscar informações sobre estrutura do prédio, instalações elétricas e hidráulicas e possíveis restrições do condomínio, vale a pena conversar com vizinhos, síndico e a administradora do condomínio.
Consultoria
É possível, ainda, contar com a ajuda de um especialista. "Um profissional de arquitetura ou engenharia pode ser contratado para prestar consultoria nesse momento de verificações", diz Jussara.
Além da atenção com olho profissional, o arquiteto ou engenheiro deve solicitar cópias dos projetos e plantas do empreendimento. Também pode pedir documentos e projetos elétricos, de acabamentos e topografia.
Sol e barulho
"Recomendo prestar muita atenção à insolação. Em imóvel com dormitórios na face Sul, é quase certo ter de lidar com mofo e umidade", explica Rosiana. Visitar o apartamento em dias e horários diferentes é uma dica preciosa. "Ao ver um apartamento no domingo está tudo tranquilo. Você está relaxado, almoçou com a família e tem tempo livre. Então, volte em um dia de semana, com horário apertado e movimento de trabalho, para avaliar localização e vizinhança", diz Jussara.
Além de consultas e pesquisas, o consumidor tem à sua disposição dois documentos fundamentais. Um deles é o memorial descritivo, para quem adquire apartamento na planta. "O memorial traz especificações técnicas de todos os materiais e acabamentos que serão usados na construção", ressalta Luciano Tomazini, vice-presidente de Vendas do Secovi-PR, o sindicato das imobiliárias do estado.
Manual
Na entrega do apartamento, o comprador recebe o manual do proprietário. Muita gente não o lê até o fim. O documento traz a descrição do imóvel: composição estrutural, revestimentos, indicação dos espaços para alterações, como instalação de ar-condicionado, e localização de tubulações, além de instruções de uso como abrir e fechar um registro, desligar e ligar a rede elétrica interna e manutenção.
"O manual é muito importante, pois orienta sobre o uso do imóvel no dia a dia. É preciso ler com atenção e guardar", recomenda Tomazini.
Check list
Confira dicas de verificação antes da compra e da entrega do imóvel:
Ao comprar apartamento na planta leia com atenção o memorial descritivo da obra. Ali devem constar especificações sobre todos os produtos e acabamentos que serão usados na construção, como tipo de tinta, pisos, portas, metais, louças, janelas, acabamentos e revestimentos.
Estude e conheça a planta baixa pergunte sobre medidas, posição de portas e janelas, possibilidades de alterações no imóvel. Se for preciso, conte com a consultoria de um arquiteto para entender o layout de cada ambiente e como será possível mobiliar e instalar equipamentos.
Ao visitar um apartamento decorado pergunte sobre medidas, materiais e acabamentos. Se puder, meça móveis e paredes.
Não contrate mão-de-obra sem qualificação para obras, mobiliário, instalações ou troca de pisos e revestimentos. Serviços devem ser executados por profissionais qualificados.
Não contrate marceneiro sem ter o projeto para o mobiliário.
Não faça reformas de nenhum tipo: sem contratar arquiteto ou engenheiro para estudar viabilidade de obras e assinar o projeto.
Peça as plantas do imóvel para a construtora ou para o condomínio, antes de de reformas, instalações de móveis e equipamentos ou qualquer alteração.
Em apartamento usado preste especial atenção às instalações elétricas e hidráulicas, que costumam ser antigas, e converse com síndico e vizinhos para saber se o prédio vai passar ou já passou por reformas.
No imóvel pronto ou usado observe atentamente se há manchas de umidade nas paredes ou piso para detectar infiltrações. Mesmo em imóveis novos ou recém-pintados, a umidade deixa nódoas.
Observe a vedação das janelas teste o fechamento e a abertura de todas elas e também das portas.
Verifique a pressão da água cheque o funcionamento de todas as torneiras, privadas e chuveiros.
Leia atentamente o Manual do Proprietário siga as orientações para bom uso do imóvel e guarde esse documento.
Fonte: arquitetas Jussara Specian e Rosiana Sant´Ana e Luciano Tomazini, vice-presidente de Vendas do Secovi-PR.
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