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Richter contou com 25 mil euros de para desenvolver o protótipo de um abrigo temporário para refugiados de catástrofes, que pode ser montado em seis horas e reutilizado sempre que necessário | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Richter contou com 25 mil euros de para desenvolver o protótipo de um abrigo temporário para refugiados de catástrofes, que pode ser montado em seis horas e reutilizado sempre que necessário| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
  • Em seis horas é possível montar uma casa, contando com o trabalho de duas pessoas e ferramentas simples – os módulos de madeiras são encaixados

Direcionar o conhecimento acadêmico a soluções para po­­pulações em situação de emergência tem sido o desafio na recente carreira do arquiteto curitibano Bernardo Richter, de 28 anos. Formado em 2007 pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e um dos sócios do escritório Arquea Arquitetos, ele foi co­­ordenador do projeto de um abrigo para refugiados pós-catástrofes na Finlândia, du­­rante mestrado de Arquitetura em Madeira pela Aalto Uni­­versity School of Science and Technology, em 2010. O sistema construtivo, ideia de Ri­­chter abraçada por outros 14 mestrandos de vários países, agora é uma das apostas da Or­­ganização das Nações Unidas (ONU).

Em parceria com os arquitetos e sócios Fernando Caldeira de Lacerda e Pedro Amin Tava­res, Richter também criou o projeto "Uma Escola para Gui­­né Bissau", um país africano de 1,5 milhão de habitantes e de regiões que passam constantemente por enchentes. Os dois projetos estiveram em exposição na 9.ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, que aconteceu em no­­vembro de 2011. Em entrevista para a Gazeta do Povo, Richter deu detalhes sobre o projeto do mestrado. Confira os principais trechos da entrevista.

O desafio

Richter e equipe tiveram em 2010 o desafio de desenvolver o projeto de um abrigo, com proposta de ser uma construção pa­­ra refugiados pós-catástrofe, concluída rapidamente. A ideia foi ter uma habitação transitória, com durabilidade de até cinco anos, enquanto as moradias definitivas são construídas. "Es­­tá­­vamos na Finlândia, um país frio, então tinha de ser um abrigo que resistisse a temperaturas extremas e que fosse resistente a terremotos e outras situações do gênero." Segundo ele, Precisava estar dentro dos padrões que a ONU exige, como a área mínima de 3,5 metros quadrados por pessoa para uma residência. Além de ser maleável, ou seja, que pu­­desse ser ampliado e compactado a qualquer hora. No Brasil, funcionaria bem nos casos de desabrigados por deslizamentos de terra.

Sistema de montagem

O arquiteto explica que o sistema de montagem é simples. Em seis horas fica pronta, com duas pessoas montando. São módulos de madeira (o protótipo é de bétula, muito usada pa­­ra mó­­veis na Finlândia, mas pode ser qualquer outra) encaixadas no sistema macho fêmea, sem na­­da que prendesse os módulos (por exigência da universidade). "Para manter a forma usamos fitas de náilon, da­­quelas usadas em ca­­minhão, para pressionar a carga e deixar segura. Ado­­tamos o mes­­mo princípio do barril de vi­­nho, que é feito de várias peças de madeira, uma ao lado da ou­­tra, com anéis me­­tálicos colocados quentes e dilatados, que, quando esfriam, com­­primem e man­­­­têm as peças de madeira uni­­das e o barril firme. A fita de náilon fez a função dos anéis metálicos."

Testes

Antes de finalizar o protótipo os alunos realizaram vários testes, como de vento e força. Segundo Richter, a casa foi considerada resistente à ação de um furacão de classe 3, ou seja, ventos de até 100 quilômetros por hora. "Tam­­bém fizemos teste de terremoto e concluímos que o sistema funciona muito bem. Como não tem conexões metálicas e nada fixo, ela balança junto com o terremoto de uma maneira que se mantém estável", explica. Como foi toda feita em painéis de madeira, um tecido impermeável serviu de proteção contra ação da água, por exemplo, inimiga da madeira.

Financiamento

A universidade finlandesa bancou o projeto, conta o arquiteto. "Diferentemente do ensino no Brasil, tinhamos 25 mil euros para desenvolvê-lo. E como eles foram os financiadores, patentearam e poderão vender, claro, sem deixar de reconhecer os autores. A ONU está interessada. Agora se houver alguma mudança ou melhoria para comercializar será uma equipe da universidade que desenvolverá.

Reuso

A estrutura poderia ser reciclada, desmontada e usada como quiser. Ou poderia passar por reparos e poderia desmontar e montar de novo em qualquer lugar. Poderia ficar 3 anos na Turquia, ser desmontada de­­pois que as pessoas fossem para suas moradias definitivas, e levada para outro lugar que precise, para ser usado por mais dois, três anos.

Guiné Bissau

O escritório tem um projeto em Guiné Bissau (África), desenvolvido para um concurso do Instituto de Arquitetos do Brasil em parceria com o governo brasileiro. Os autores ficaram em terceiro lugar. "Uma Escola para Guiné Bissau" foi toda desenvolvida com materiais locais. "O telhado foi feito com um tipo específico de palmeira e construída em adobe (tijolos feitos da mistura de argila e terra). Foi um presente do governo brasileiro para o país. Lá tem muita enchente e os pais dos alunos teriam que ajudar a construir em regime de mutirão."

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