O aniversário de 69 anos do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR) contou com uma participação especial. Edson Yabiku, formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFPR em 1988, foi o palestrante convidado para o evento na sede do sindicato, terça-feira. Conectado com as tendências atuais de urbanismo, arquitetura e sustentabilidade, Yabiku falou sobre esses temas e sua decepção ao perceber que "a Rua das Flores não tem tantas flores como antes".
Há anos atuando fora do Brasil, ele salienta as inovações que projetos arquitetônicos estão levando para centros urbanos. O planejamento de espaços para uso público, dentro e também nos arredores das edificações, deixam a cidade mais viva e segura, garante o especialista.
Yabiku cita a Trafalgar Square, em Londres, como exemplo: circundada por ruas com tráfego intenso de veículos, que intimidavam os pedestres, a praça era "morta". A retirada das vias para carros ao redor do espaço, que abriga um museu de arte, aumentou em 200% a circulação de pessoas a pé. "Quando os cidadãos adotam um espaço público ele passa a ser bem cuidado", afirma o arquiteto.
Responsabilidade
O recado para o setor privado é sobre a responsabilidade de incorporadores e empreendedores pela melhoria da qualidade de vida nas cidades. "A repetição de atos se transforma em hábitos, que se transforma em caráter, e por fim vira destino. Se ninguém inova, não haverá como saber se a novidade terá sucesso, inclusive comercial", lembrou Yabiku. "O papel dos arquitetos é disseminar a mudança".
Uma das atribuições dos profissionais é defender o custo da sustentabilidade na obra. Se a possibilidade de aumento de gastos na construção assusta construtores, Yabiku mostra que é preciso entender o projeto integralmente: o terreno e o custo da obra são a ponta de um iceberg, superficiais e visíveis. O que a empresa deve planejar é o pós quanto se vai gastar para manter, ao longo dos anos, o consumo de energia, o bem estar e a produtividade de moradores e usuários do prédio. Redução de demanda é a base dessa economia. "Mais caro é não planejar", salienta.
Renda
A cidade funciona da mesma forma, diz Yabiku. Quando bem planejada, atrai investidores e gera renda. Ele sugere uma análise das áreas de interesse dos moradores de Curitiba para aumentar a permeabilidade de pedestres e defende a revitalização do centro como forma de iniciar outras mudanças. "Adensar o centro da cidade e incentivar seu uso, levando mais moradores, serviços e investimentos de qualidade, pode ser o primeiro passo para muitas outras ações. Administração pública e empreendedores devem agir juntos".
Dependência quase integral do carro, morar em casas em bairros distantes e construir shoppings são ideias superadas para o arquiteto. "Já ficou claro que, quando é exagerado, isso traz consequências negativas e drásticas para a cidade".
Presente ao debate ocorrido após a palestra de Yabiku, o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Sérgio Povoa Pires, disse que é preciso pensar em maneiras para que a capital "volte a ser uma cidade pequena".
Pires afirmou que Curitiba "foi inovadora", mas o sistema de transporte integrado, estações tubo e separação do lixo não são mais suficientes. O secretário de Meio Ambiente, Renato Lima, também participou do debate.
ExemploEscritório inglês assina projetos icônicos como o prédio em espiral
Edson Yabiku ganhou o mundo: há 24 anos vive fora do Brasil. O arquiteto iniciou a carreira no Japão, onde atuou na Obayashi Corporation e desde 1992 é sócio do Foster + Partners, em Londres, para onde foi como convidado. Pelo escritório, desenvolveu projetos em diversos países, entre eles, o Century Tower e a Kamakura House no Japão, o Jiushi Headquarters e o Bund Global Financial na China, e outros em Cingapura e Emirados Árabes.
O Foster + Partners é um dos escritórios de arquitetura mais famosos do mundo. Os conceitos sustentáveis são base dos projetos da companhia. Entre as obras mais conhecidas está o 30 St Mary Axe (foto), construído entre 2001 e 2004 um arranha-céu no centro financeiro de Londres. O projeto inovou ao propor um edifício de 40 andares no formato de bala de revólver. Era uma forma de reduzir a quantidade de pisos na ponta da edificação. "A princípio foi visto como perda de espaço. A ideia era amenizar o impacto visual do prédio, cravado em uma área muito antiga e baixa", explica Yabiku. A sustentabilidade também influiu no desenho: o prédio consome cerca de 30% menos energia do que outros do mesmo porte. Análises das correntes de vento levaram os arquitetos a"virar" cada piso em grau de 5% . "O formato em espiral força constante ventilação natural.", diz o arquiteto.
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