Grande parte das iniciativas de construções sustentáveis no Paraná ainda está concentrada nos prédios para uso corporativo, analisa Hamilton Pinheiro Franck, presidente do Sinduscon-PR. "As empresas utilizam o fato de estarem instaladas em um prédio verde como ferramenta de marketing", diz.Mas há algumas incorporadoras que já incluem itens sustentáveis em seus projetos. "O reaproveitamento de água de chuva, o aquecimento solar e os materiais de construção e acabamento com melhor aproveitamento e certificados, além dos projetos com iluminação natural privilegiada são uma realidade no nosso mercado", aponta. Entre os exemplos no estado está a Hestia, construtora que aplica um plano de gerenciamento de resíduos formalizado desde 2002. Gustavo Selig, presidente da empresa, acredita que a conscientização da população para a sustentabilidade começa a se manifestar. "Espero que o processo seja mais ágil. Por enquanto, a sustentabilidade não é um dos principais fatores para a compra de um imóvel. É um item que pode definir entre dois empreendimentos do mesmo valor", afirma.A principal iniciativa da Hestia é a reciclagem de materiais. "Não achamos destino apenas para a madeira suja, a cerâmica e o gesso. Os materiais que não são reutilizados na obra, mas têm potencial de reaproveitamento, são destinados a usinas de reciclagem especializadas", comenta Selig.
Para o reaproveitamento da caliça (resto de tijolo, telha, etc) a Hestia adquiriu um moinho que transforma o material em pó para posteriormente ser utilizado como argamassa para o assentamento de alvenaria. Desde junho do ano passado, todas as construtoras que atuam em Curitiba precisam seguir o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos (Lei 11.682/ 2006), que prevê a necessidade de aprovação junto à prefeitura de um plano de gerenciamento dos entulhos das obras a partir de três mil metros quadrados, propondo um sistema de separação de restos e especificando o destino de cada tipo de material utilizado na construção.
A Conceito & Moradia, do empresário Eurico Borges dos Reis, também iniciou a construção de empreendimentos utilizando técnicas menos agressivas ao meio ambiente e mais inclusivas em relação à acessibilidade de portadores de necessidades especiais.
Contrapartida
Selig explica que a inclusão de outros itens sustentáveis, além da reciclagem de resíduos, dos projetos adaptados para melhor aproveitamento de luz e da captação de água da chuva, encareceria em até 20% o valor final de um apartamento. "Defendo a desoneração de impostos para os empresários que investem na sustentabilidade. Para importar uma mini-estação de tratamento de esgoto, preciso pagar 32% em imposto", exemplifica.
Maurício Araújo, presidente do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea), ressalta que a primeira iniciativa de porte do governo federal foi a criação do programa "Minha Casa, Minha Vida" no qual se prevê a aplicação de construções sustentáveis. "Contudo, apenas o uso de madeira legal é compulsório, sendo que a instalação de painéis solares para aquecimento de água será apenas estimulada.", diz. "Poderiam aproveitar muito esse programa para incluir na população com menos poder aquisitivo a necessidade e a urgência da sustentabilidade", avalia Luiz Fernando Lucho do Valle, presidente da Ecoesfera.
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