Por volta das dez horas da noite toca o interfone. Do outro lado da linha, o morador reclama que o vizinho de cima está pisando com muita força ou ainda que o bebê do segundo andar não pára de chorar. Quando não acontece de chegarem pedidos como pagar a encomenda da farmácia ou guardar a chave por uns instantes até que o irmão chegue para apanhá-la. Entre uma e outra solicitação, pessoas entram e saem, pegam as correspondências e algumas questionam: por que o porteiro não abriu a porta do elevador para mim hoje?
Ouvir todo tipo de solicitação e reclamações faz parte da rotina destes profissionais, mas não deveria ser assim. O instrutor do curso de qualificação para porteiros do Senac Marlon Guerreiro de Oliveira considera que a idéia de que a portaria é o lugar para serem atendidos todos os pedidos dos moradores mais atrapalha do que ajuda. "O porteiro não é funcionário dos condôminos, mas sim do condomínio. Tem como funções básicas e primordiais recepcionar os moradores, visitantes e prestadores de serviços, além de zelar pela segurança do edifício. Por isso não deve aceitar que moradores deixem objetos pessoais na recepção", explica.
Na prática, porém, estas instruções muitas vezes estão bem longe da realidade dos porteiros. Monica Kachel Martins, síndica de um condomínio residencial, afirma que é muito difícil acabar com essa informalidade. "É comum, por exemplo, que o porteiro fique com a chave do apartamento para receber um móvel que está para chegar, ou ainda que um morador saia de casa com um pedaço de bolo para agradar o profissional."
Que o diga Arlei Ferreira dos Santos. Enquanto concedia a entrevista, um dos moradores deixou dinheiro para que ele pagasse uma encomenda que estava por chegar. "Aqui é assim, atendemos ao pedido de todos e fazemos de tudo para que a convivência entre os profissionais e moradores seja harmoniosa", conta Santos, que trabalha há cinco anos na área e é responsável por atender os 42 apartamentos do condomínio.
As reclamações, segundo ele, são imprevisíveis. "Uma vez um morador pediu para que eu fosse até o outro lado da rua do condomínio para solicitar que adolescentes baixassem o volume do som do carro. É claro que esse tipo de pedido não pode ser atendido, já que está fora da minha área de serviço e conseqüentemente das minhas obrigações", afirma. Santos conta também de reclamações que são mais difíceis de compreender. "Não gostam quando o elevador estraga, mas também reclamam quando o técnico faz a manutenção", diz.
Para a porteira Janete Machado, que tem 16 anos de portaria, na maioria das vezes a relação com os moradores é muito boa. "Temos no condomínio muitas pessoas idosas que gostam de avisar se vão demorar ou não para voltar. Caso não cheguem no horário, costumamos ligar para ver se está tudo certo. Eles se sentem mais seguros", argumenta. Janete conta que já houve a tentativa de acabar com a informalidade. "Já proibiram o profissional de conversar com os moradores, mas não deu certo. Eles já estão acostumados que nos preocupemos com eles."
Serviço: Curso de aperfeiçoamento para porteiro do Senac, mais informações no fone (41) 3219-4781. A Universidade Livre do Mercado Imobiliário e Condominial (Unihab) também oferece capacitação para profissionais do setor. Contato pelo (41) 3225-5458.
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