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Pego o ônibus e chego à Tiradentes. Tomo um pingado, escuto o sino da catedral e corro para o trabalho. Na praça, de relance, vejo uma pedra gravada com uma cruz e a palavra "Rey". No domingo, quem sabe, paro para olhar. Hora de correr...

No dia-a-dia, dificilmente alguém se dá ao luxo de olhar para os lados na Tiradentes e perceber coisas como o marco de pedra que um dia indicou o poder português sobre Curitiba. Pudera: há 313 anos, é a praça de quem corre. Já abrigava 90 famílias de pioneiros em 1693, quando da instalação da vila. Por dois séculos foi o centro do poder temporal e religioso, até que, há pouco mais de 100 anos, a erva-mate e o trem geraram novos eixos de desenvolvimento. Ainda assim, a Tiradentes seguiu como centro da cidade. Para lá acorriam os fiéis nas festas da Matriz e também lá os operários se reuniam nas greves. Nela estavam lojas sofisticadas, a principal parada dos bondes, lotações e ônibus. Em 1936, foi ponto de observação do dirigível, em 1959, palco da estranha "Guerra do Pente".

O tempo passou e, nas últimas décadas, o velho Largo da Matriz ganhou outros ares: muitos pontos de ônibus, lanchonetes, pequenas lojas. O comércio mais sofisticado mudou de endereço, assim como a Câmara. A praça ficou pequena diante da metrópole e de uma população que supera um milhão e meio de habitantes. Transformou-se em "Centro Velho", que muitos consideram decadente. Decadente? Mais vivo do que nunca! Basta olhar para os lados e – por que não – examinar a velha pedra gravada com a cruz e a palavra "Rey".

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