• Carregando...
Vídeo | Reprodução/ParanáTV
Vídeo| Foto: Reprodução/ParanáTV

Há 314 anos, os primeiros colonizadores que chegaram a Curitiba em busca de ouro não imaginavam as proporções que as pequenas casas de madeira, construídas por eles, iriam tomar. Hoje, mais de três séculos depois, Curitiba impressiona pela beleza e diversidade de estilos em suas construções. Embora não tenha um padrão exclusivo, já que a cidade sofreu influência de várias correntes arquitetônicas ao longo dos anos, arquitetos e historiadores afirmam que a capital é repleta de conjuntos urbanos bem organizados, além do planejamento, que é referência mundial, e de vários tesouros arquitetônicos escondidos em meio à correria da metrópole – fruto do talento de arquitetos que por aqui passaram em diferentes períodos históricos. Confira a evolução da construção em Curitiba contada a partir de sua Arquitetura.

Caldeirão cultural

Preservação dos traços colonizadoresDe acordo com o arquiteto e historiador Iran Dudeque, a cidade ainda mostra traços de vários povos colonizadores. "Temos um pouco de construção polonesa, portuguesa e, principalmente, alemã. O setor histórico de Curitiba, no Largo da Ordem, é marcado por vários desses exemplos", conta. Segundo Dudeque, a maioria desses imóveis, construídos nos séculos 18 e 19, foram tombados como patrimônio histórico de Curitiba. Em novas construções, no entanto, essa arquitetura não tem sido utilizada. A troca maciça, para o historiador, se deu no século seguinte, devido principalmente ao modernismo, que substituiu a frágil madeira (marca da influência polonesa) na construção das casas, dando mais espaço livre aos moradores (acabando com um traço marcante alemão: imóveis sem quintais, ligados diretamente à rua).

Modernismo

Destaque para linhas retas e estrutura à vista

Unanimidade entre os arquitetos, os traços modernistas estão presentes nas obras de mais destaque da arquitetura curitibana. Entre os exemplos públicos estão o Teatro Guaíra e o Centro Cívico – este último referência nacional –, e entre os particulares grande parte do anel central da cidade. "Principalmente depois da Segunda Guerra, nas décadas de 50, 60 e 70, toda a produção, desde as obras públicas às residências, eram baseadas nas linhas retas, bem calculadas, com concreto e estruturas à vista, características do modernismo", detalha Key Imaguire Júnior, professor de Arquitetura Brasileira da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ele, o estilo que veio em substituição à arquitetura dos pioneiros é ainda hoje utilizada, mas em menor escala e com a influência de tecnologias mais avançadas.

Visual atualizado

Formas antigas com novos materiaisPara Fábio Duarte, arquiteto, mestre em gestão urbana e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a maioria das construções atuais apresenta um estilo neoclássico – com formas que lembram a arquitetura clássica (cheias de detalhes, enfeites e ornamentos), mas construídas com a ajuda da alta-tecnologia. É o que também acredita o professor Imaguire Júnior, da UFPR. "As formas são antigas, porém com novos materiais. O resultado acaba sendo um tom bem moderno e luxuoso de construção. Hoje, quem pensa em construir tem procurado um visual mais atualizado, e isso o modernismo já não podia oferecer", diz. De acordo com o historiador Iran Dudeque, no entanto, a arquitetura passará a ter influências ainda mais diversificadas nos próximos anos. "Estamos em um estágio que sabemos o que é produzido no Japão em tempo real. Curitiba e todo o resto do mundo caminham para uma diversidade de construções ainda maior", aponta o historiador.

Com a cara do curitibanoApesar de não ter um estilo arquitetônico predefinido, as construções de Curitiba abusam de um conjunto de elementos – por motivos climáticos, culturais ou simplesmente estéticos – que deixam os imóveis com a cara do curitibano. Conheça algumas dessas particularidades:

Paredes: além do tradicional tijolo de seis furos – o mais usado no Brasil -, grande parte dos arquitetos e construtores daqui optam pelos tijolos maciços. O motivo é a capacidade que o material apresenta em barrar a grande amplitude térmica da cidade, com variação constante das temperaturas altas e baixas.

Revestimentos: devido aos invernos rigorosos, grande parte dos imóveis da cidade apresenta revestimentos chamados de quentes. Foi assim durante muitos anos com o carpete e, continua sendo, mas agora com a madeira. Além de evitar o resfriamento do ambiente interno, ela é de fácil implantação e limpeza. Permite também acabamentos sofisticados. Janelas: sempre bem vedadas para evitar a perda de calor em dias frios e aquecimento do ambiente em dias quentes. Além disso, cresce a procura pelos vidros duplos, ainda como forma de proteção contra a amplitude térmica e também contra a poluição sonora, comum nas grandes cidades.

Sustentabilidade: questão que já começa a ser despertada nos lares curitibanos. Como a tecnologia de auto-sustentabilidade dos ambientes começou a ter seus custos reduzidos, os proprietários de imóveis passaram a utilizá-la em maior escala. Hoje, várias residências já têm sistemas de aquecimento de água e iluminação do ambiente pela luz solar.

Espaços: cada vez mais voltados para a família. Grandes dormitórios e salas de visitas deram lugar a áreas de lazer comum, como sala da família, churrasqueiras e lareiras. Embora esta seja uma tendência comum em todo o Brasil, Curitiba foi uma das pioneiras a adaptar seus espaços.

Paisagismo: os ambientes verdes, sempre tomados como grande característica da cidade, são mesmo motivo de preocupação para os curitibanos. Além dos simples jardins nos fundos de casa, presentes em grande número dos imóveis curitibanos, projetos paisagísticos altamente elaborados começam a ter lugar de destaque. Segundo arquitetos e construtores, esse é um dos maiores diferenciais da cidade.

Cores: nos últimos anos cresceu o uso de uma maior gama de cores. Entre elas, as que tendem para o quente, como certos tons do vermelho e do amarelo.

Fontes: Gustavo Selig, diretor da Hestia Construções e Empreendimentos e arquitetos Ana Maria Guinarte; Bóris Cunha (da Willer Arquitetos Associados); Kethlen Ribas Durski; Manoel Dória (da Dória Lopes Fiuza Arquitetos Associados).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]