Um patrimônio da cultura alemã em Curitiba. Esta é a Sociedade Thalia. Fundado no século 19, o clube é um símbolo da preservação e divulgação da memória dos imigrantes germânicos. Sua sede social, localizada na Rua Comendador Araújo, pode até passar despercebida pelos mais desavisados, mas basta um olhar mais atento para perceber que o prédio preserva uma parte da história da cidade.
Tempos de guerra e paz
Até 1918, todas as atas de reuniões de diretoria e dos conselhos da Sociedade Thalia eram escritas em alemão, língua nativa dos imigrantes que fundaram o clube. Com a Primeira Guerra Mundial, no entanto, a sociedade foi obrigada por força de lei a redigir seus documentos em português e ser presidida somente por brasileiros natos. Os tempos de conflito ainda impuseram outras medidas duras sobre as instituições como o Thalia, que teve muitos de seus documentos queimados. Outras destruições de arquivos ocorreram durante o período ditatorial de Getúlio Vargas. Alguns poucos registros, como a Ata de Fundação da sociedade, foram escondidos por muitos anos e resistiram à destruição.
Paz no esporte
Vivendo tempos de paz, a Sociedade Thalia vem se consolidando no meio esportivo como um dos principais centros de formação de atletas do estado. Prova disso é a liberação concedida pela Confederação Brasileira de Clubes (CBC) para a formação de jovens para os jogos olímpicos e paralímpicos com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte, a Lei Pelé. “São três modalidades: natação paralímpica, basquetebol e esgrima”, conta o presidente Vilmar Anildo Schultz.
O início das atividades da sociedade, em 1882, foi resultado do desejo de 19 famílias vindas da Alemanha de se reunirem com os seus conterrâneos para matar a saudade da terra natal. Os primeiros encontros eram realizados no antigo Teatro Hauer, na Rua Mateus Leme. Depois, passaram pela Praça Tiradentes e a Rua XV de Novembro, sempre em endereços alugados.
Ao público
A Sociedade Thalia oferece alguns serviços abertos à comunidade externa, além das atividades direcionadas exclusivamente aos sócios. Os dois restaurantes e a academia – natação, hidroginástica, musculação – estão entre elas. O clube também aluga seus dois salões, com capacidades para 600 e 250 pessoas, para a realização de eventos sociais e corporativos.
Endereço: Rua Comendador Araújo, 338 - Centro
Informações: (41) 3320-7900
“As famílias que se estabeleceram em Curitiba eram mais intelectualizadas, por isso o objetivo da sociedade estava mais voltado à cultura. Como a cidade não contava com iluminação pública, os encontros eram realizados aos sábados de lua cheia, para que as famílias pudessem retornar às suas casas”, conta o presidente do Thalia, Vilmar Anildo Schultz.
A mudança para o prédio próprio, que abriga a sede social do Thalia, ocorreu em meados da década de 1940. O terreno foi adquirido pelo clube em 1938 e o prédio, construído pelos Irmãos Thá, inaugurado quatro anos depois.
Na época, a novidade movimentou Curitiba e o clube passou a receber eventos memoráveis, como os bailes dos Estados e das Nações, além do Carnaval Bossa Nova. “Naquele tempo, as pessoas esperavam o Carnaval com ansiedade. Eram dias de festa que terminavam no chafariz da Praça Osório”, lembra Schultz. Quando a prefeitura proibiu o encerramento da festa nas águas da praça, o banho se transformou no “Banho de Cinzas”, na piscina do clube.
Com traços ecléticos, o prédio tem nos vitrais um dos destaques de sua fachada, simbolizando o prenúncio dos tempos modernos.
Expansão
Para responder a demanda e ampliar a oferta de lazer para seus associados, o Thalia iniciou seu processo de expansão primeiramente para o campo, em 1967, com a fundação da Sede Fazenda, no município de Balsa Nova.
Cinco anos depois, nascia a Sede Praia, com uma área de 2 mil m² construídos na Ponta de Caieiras, em Guaratuba. Em 1988, foi lançada a pedra fundamental da Sede Olímpica, quarto espaço do clube localizada no Tarumã. Com 5 mil m² construídos e 105 mil m² de terreno, o espaço deverá receber ainda neste ano as obras do novo ginásio de esportes.
Hoje, o Thalia reúne 11 mil associados – entre sócios e dependentes – e tem suas atividades baseadas no tripé cultura, recreação e esporte. Segundo o presidente, uma das maiores dificuldades do clube tem sido investir na preservação do prédio, que depende da liberação do município para a venda do potencial construtivo do empreendimento. “Estamos há quatro anos buscando a liberação para a comercialização de cerca de 6 mil m² de potencial. Mesmo provando que estes recursos seriam direcionados para manter a construção, ainda não tivemos a liberação”, pontua.
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