Expansão
Verticalização já chegou aos bairros mais sossegados
Os empreendimentos verticais já são uma realidade em algumas das regiões consideradas mais tranquilas para se morar na cidade. Um dos bairros que viu a paisagem bucólica de grandes áreas verdes ganhar ares de urbanização nos últimos anos foi o Campo Comprido. Só da Living Construtora, empresa do grupo Cyrela Brazil Realty, foram três empreendimentos entregues às margens da Rua José Alencar Guimarães, nas proximidades do Pequeno Cotolengo. Patrick Vieira, arquiteto de produto da Cyrela, explica que a oferta de terrenos maiores, que comportaram a implantação de empreendimentos com maior número de torres e mais áreas de lazer, no estilo condomínio clube, foi um dos principais chamarizes para os investimentos da construtora no bairro. "A região também conta com uma infraestrutura com escolas, supermercados e transporte público, que é importante para esse tipo de produto", acrescenta.
A menor concentração de prédios e a presença de grandes áreas verdes, que permitem aos moradores terem um maior contato com a natureza, são outras vantagens da região apontadas pelo arquiteto de produto. "Até então o mercado não tinha prestado atenção nessas áreas. Depois dos primeiros lançamentos, elas valorizaram. Os clientes, por sua vez, estão satisfeitos, pois moram numa região mais afastada, com infraestrutura e condições de acesso por um preço que cabe no bolso", avalia.
Mesmo com a crescente verticalização, percebida por todos os cantos da cidade, Curitiba ainda possui regiões mais tranquilas e repletas de áreas verdes para quem busca sossego para morar. Bairros como o Umbará, Santa Felicidade e Campina do Siqueira, que há pouco tempo eram semirrurais, se transformaram em verdadeiros refúgios urbanos, onde a oferta imobiliária ainda se concentra, em grande parte, nos condomínios horizontais e loteamentos.
Henrique Penteado Teixeira, diretor comercial e de marketing da Paysage Empreendimentos especializada em condomínios horizontais , aponta que o próprio crescimento da cidade fez com que a oferta deste tipo de empreendimento fosse maior em bairros mais afastados do Centro. "O condomínio horizontal demanda uma área maior do que a utilizada para se construir um prédio, e só conseguimos essas áreas nessas regiões", diz.
A presença de grandes maciços vegetais, que possibilita aos moradores manterem um contato mais próximo à natureza, é outro ponto destacado pelas empresas que investem no segmento. São eles que garantem a sensação de tranquilidade da região, sendo trabalhados, inclusive, como um atrativo de mercado. "Nessas regiões, os condomínios permitem aos pais darem a seus filhos a infância que tiveram, escutando o som dos pássaros, subindo em árvores ou andando de bicicleta no quintal", afirma Jacirlei Soares Santos, diretor de marketing da Construtora Casteval, que tem quatro condomínios em comercialização em Santa Felicidade.
A infraestrutura presente nesses bairros completa a lista dos itens que atraem o investimento das construtoras e a atenção dos clientes, que veem nessas regiões a oportunidade de ter mais qualidade de vida sem abrir mão da comodidade de ter à disposição opções de comércio e serviços.
Clientela fiel
O mercado de condomínios horizontais mantém um público cativo, composto tanto por quem deseja morar quanto por quem busca investir. Um fato que ilustra a procura expressiva por este tipo de empreendimento é o retorno obtido pela Paysage com o La Ville, no Umbará, que teve 80% dos lotes comercializados no primeiro dia do lançamento.
Isto estimula os investimentos das construtoras, mas também faz com que a oferta de áreas fique cada vez mais escassa. Santos conta que, em Santa Felicidade, por exemplo, quase não existem mais terrenos disponíveis para a construção de grandes condomínios, o que fez com que a construtora começasse a olhar para outros bairros, como Pinheirinho e Xaxim. "Tínhamos um estoque que está acabando. Sabemos que daqui a pouco não teremos mais áreas que comportem este tipo de empreendimento", afirma.
Oferta de condomínios interfere na rotina dos bairros
A oferta dos condomínios horizontais e loteamentos costuma adensar e interferir na rotina dos bairros, resultado da chegada das novas famílias às regiões que ainda são as mais tranquilas da cidade para se morar.
O maior fluxo de pessoas e, consequentemente, de carros circulando pelas ruas é um dos principais reflexos do aumento populacional de Santa Felicidade percebido pela pensionista Maria Velasques. Moradora do bairro há 35 anos, ela conta que agora precisa prestar mais atenção no trânsito na hora de realizar as tarefas do dia a dia. Maria também passou a utilizar mais o ônibus para trechos que antes percorria a pé. "Antigamente, até as crianças podiam atravessar as ruas sozinhas, agora não dá mais", lembra.
Apesar desses contratempos, os moradores vêm a expansão do bairro de forma bastante positiva e acreditam que ela ainda não tirou a tranquilidade da região. A dona de casa Maria Machado, que mora em Santa Felicidade há 40 anos, diz que a chegada dos novos vizinhos trouxe mais segurança ao bairro, além de valorizar os imóveis.
Oportunidade
A oferta de comércios e serviços também foi incentivada para atender à crescente demanda. Morador da região Eduardo Hohmann, proprietário da Panettiere Pães e Confeitos, conta que abriu a padaria há uma década e precisou dobrar o espaço do estabelecimento para atender o volume de clientes, que triplicou nos últimos anos.
Para os moradores, a chegada dos novos comércios fez de Santa Felicidade uma espécie de microcidade, já que não é preciso sair do bairro para encontrar opções de serviços. "Quando comprei minha casa não imaginava que existia esta tranquilidade. Foi uma surpresa positiva saber que a região supre todas as minhas necessidades. É um grande bairro para se morar", avalia a empresária Elena Ramalho, que mora em um condomínio fechado em Santa Felicidade.
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