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Nakao: aventura pelo mundo do design de produtos rendeu a criação do minirefrigerador Brastemp Pla | Divulgação
Nakao: aventura pelo mundo do design de produtos rendeu a criação do minirefrigerador Brastemp Pla| Foto: Divulgação

Com um jeito simples, voz calma, em um estilo quase zen, o estilista Jum Nakao dispara sem papas na língua: "a arquitetura brasileira perdeu sua identidade". Um dos mais reconhecidos profissionais de moda do Brasil, Nakao tem uma visão crítica da produção brasileira nas diversas áreas do design, como moda, arquitetura e decoração. Na semana passada, ele esteve em Curitiba para discutir com arquitetos e designers o processo criativo e a interligação entre moda e arquitetura. O evento foi promovido pela Docol Metais Sanitários em parceria com a Balaroti Design.

Dono de uma trajetória invejável no mundo da moda, Nakao já foi diretor de estilo da marca Zoomp, teve linha assinada para a Nike e expôs suas criações em diversos museus do país. Em sua carreira, também já se aventurou pelos caminhos do design de produtos. O momento mais marcante, no entanto, foi a apresentação de sua coleção no São Paulo Fashion Week de 2004. O estilista criou roupas feitas de papel e, ao final do desfile, os modelos rasgaram suas peças, em uma analogia ao rompimento com a produção de moda brasileira, que ele considera "mera cópia do que vem de fora do país."

E quanto à arquitetura? Não é diferente. O profissional não poupa críticas ao que chama de "emburrecimento" dessa área do design. Segundo ele, após o modernismo – estilo arquitetônico que busca linhas mais retas e cruas, sem ornamentos, e que imortalizou arquitetos como Oscar Niemeyer –, o Brasil entrou em um retrocesso criativo. "A arquitetura moderna foi a mais evidente, a mais poderosa que o Brasil já criou. Só que a partir dos anos 1980, caiu um pouco no esquecimento. Aí começou a se produzir um monte de coisas ruins", diz. "Os grandes arquitetos hoje já não têm tanto espaço."

Para Nakao, assim como na moda, a arquitetura atual esbarra em se espelhar excessivamente no que é produzido fora do país. O estilista defende dosar influência com personalidade. "Tem de estar atento às mudanças. Devemos olhar para fora, mas ao mesmo tempo ter um centro", diz. "Na arquitetura já tivemos esse centro, uma identidade muito forte com o modernismo. Mas perdemos isso. Até pelo fato de o movimento ter coincidido com a época do regime militar, que foi muito prejudicial para o desenvolvimento do estilo", lamenta. "Mas agora é a hora da retomada."

Mais do que construções

A importância de se criar uma identidade tanto para moda quanto arquitetura vai além de simplesmente vestir ou construir. As duas áreas estão interligadas por uma finalidade comum: definem e são reflexos do comportamento da sociedade. "Tanto na moda, quanto na arquitetura, o que se modela não são os objetos. Não é o pano. Não é o tecido. Não é o tijolo. O que se modela é a percepção das pessoas. Como queremos que as pessoas percebam o que está acontecendo ao redor. Quem elas são. Queremos que elas tenham um estilo de acordo com a sua vida."

Nakao alerta que a moda e a arquitetura não podem ser tratadas com leviandade. "Existe uma necessidade de se criar uma cultura própria. Se você não cria uma cultura, você vai passar o tempo todo cultuando o que vem de fora", diz. O único caminho para isso, diz ele, passa por esforços dos profissionais, mas também do governo. O principal meio é a educação. "Não há como escrever para analfabetos, assim como não há como falar de arquitetura e estética para pessoas insensíveis e sem percepção. É necessário cultura urgente nesse país para que as pessoas possam entender a real função e a importância do trabalho de um arquiteto."

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