Uma das fachadas da Casa Tingui, em Curitiba: projeto publicado na revista Architectural Digest do mês de abril| Foto: Ricardo Almeida/Divulgação

Com mais de 25 anos de expe­riência em arquitetura e paisagismo, Marcos Bertoldi foi recentemente apontado como um dos arquitetos contemporâneos mais importantes no Brasil. Foi o único brasileiro citado este ano no Top 100 dos arquitetos e designers de interiores, da revista norte-americana Architectural Digest, uma das publicações mais in­­fluen­­tes da área. Bertoldi, que é também professor de graduação e pós-graduação do Centro Univer­sitário Positivo, atribui esse reconhecimento ao projeto da Casa Vertical, ainda inédito e que será publicado na Architectural Digest. Confira a seguir os principais trechos da entrevista. Qual foi a sensação de estar no Top 100 da Architetural Digest?Uma surpresa bacana. Acredito que a eleição tenha ocorrido pelo feeling dos editores, do que eles sabem que tem por vir do profissional. Venho de alguma exposição internacional, porque alguns trabalhos meus têm sido publicados na Alemanha, Xangai e Líba­no. A própria Architectural Digest publicou em um ano dois trabalhos – duas casas projetadas em Curitiba. Provavelmente se basearam nessas publicações, além da expectativa de novas publicações, de material ainda inédito, mas que já conhecem.

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Por que a Casa Vertical chamou tanto a atenção dos editores da Architectural Digest?

O projeto é uma residência de cinco pavimentos, em concreto ar­­mado, em fase final de acabamento. Ela se beneficia das vistas para o campo de golfe do Graciosa Country Club, além de ter uma galeria particular de arte contemporânea e um heliponto. No se­­gundo, terceiro e quarto pisos estão as partes mais nobres da ca­­sa. Quem a vê não a percebe como residência. Tem a impressão de ser, talvez, um museu de arte contemporânea ou um prédio público, devido às proporções.

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Por que a opção em construir com concreto armado?

Esse material vigorou em Curitiba nos anos 1970, mas, nos últimos dez, 20 anos, foi um pouco abandonado como maneira de construir residências. A Casa Vertical resgata essa tradição construtiva, só que, claro, de uma forma mais avançada, com novas tecnologias. É uma das primeiras em Curitiba em concreto armado com esse critério construtivo avançado. É um material muito contemporâneo, plástico, moldável e presente em toda a arquitetura internacional e brasileira. É a origem da nossa arquitetura moderna. Brasília foi construída assim, Niemeyer constrói assim o tempo inteiro.

Como aplica o conceito de casa coletiva em seus projetos?

Minha forma de ver arquitetura não é para atender apenas os desejos de um cliente. Vejo como uma manifestação artística, como pintura, música, teatro, que deve, obrigatoriamente, representar uma determinada época. Para isso, tem de se levar em conta o contexto em que está sendo criada, as técnicas construtivas disponíveis e o modo de vida da época. Quando se consegue isso, o projeto passa a ser de uma comunidade inteira, que percebe o que nossa cultura conseguiu produzir, o quanto estava afinada com o que de melhor se produzia no mundo naquele momento. É um registro histórico.

Na sua opinião, o que é essencial para que um projeto dê certo e se destaque?

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É preciso ter inspirações internas e externas ao mesmo tempo. Se estiver só em contato com o mundo, corre-se o risco de criar algo alienígena. Por outro lado, se ficar preso apenas no seu local, acaba desperdiçando todo um conceito mundial. O campo é muito rico e um modo de perceber isso é viajando. Viajo muito e nos meus roteiros sempre incluo lugares específicos. Programo visitas a prédios importantes, não somente contemporâneos, mas dos anos 1910, 1920, que geram referências ao meu trabalho. Tudo isso me influencia, assim como um olhar para outras artes. Até porque a arquitetura nunca foi desconectada delas. É muito bacana olhar lateralmente para outras áreas que caminham em paralelo e desenvolvem as mesmas teorias com outras manifestações. Cultura local, cidade, terreno, geografia, tudo é estimulante para projetar. O modo como se atua em um terreno, as necessidades que ele coloca, como insolação, vento, vizinhos, relevo e vegetação, tudo é motor para funcionar o projeto, a ideia.