"Acho que em qualquer época eu teria amado a liberdade; mas na época em que vivemos, sinto-me propenso a idolatrá-la"
(Tocqueville)

Dez lições rápidas sobre inflação

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10 licoes inflacao

Poucos fenômenos tão comuns e próximos ao cidadão são tão mal compreendidos por ele como a inflação. Ele tende a tomar o efeito da inflação (o aumento dos preços), como se fosse sua própria essência.

Mas, na verdade, a inflação não é um aumento dos preços. A inflação é a expansão monetária, pela impressão de moeda ou aumento da oferta de crédito. É o aumento da quantidade de dinheiro disponível na economia acima do crescimento da produtividade.

Ou seja: num determinado momento há uma quantidade X de dinheiro e uma quantidade Y de bens e serviços disponíveis. Noutro momento posterior, passa, por exemplo, a haver 2X de dinheiro, mas permanece havendo Y de bens e serviços. Isso é inflação. Sua consequência será o progressivo aumento dos preços dos bens.

A grande mídia ajuda na confusão: ao retratar o aumento dos preços, em geral o faz de modo setorizado, retratando os tipos de produtos separadamente. Exemplos: “a inflação está disparada, pois o combustível aumentou X”; no dia seguinte, “o tomate aumentou Y”; no final de semana, o jornal volta a alertar: “a energia ficou mais cara em tantos por cento”. Assim, há a forte impressão de que a inflação é um aumento do valor dos bens.

Mas isso é um equívoco.

Entenda mais nas seguintes dez lições rápidas:

 

1ª Lição

A inflação não é um fenômeno de valorização dos bens. Não é que os bens passaram a valer mais.

10 licoes sobre inflacao

2ª Lição

A inflação é, pelo contrário, a desvalorização do seu dinheiro. É que o seu dinheiro passou a valer menos, razão pela qual você precisa de mais para comprar o mesmo.

valor moeda inflacao

3ª Lição

A inflação não é responsabilidade dos donos de negócios, por fixarem preços maiores.

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4ª Lição

A inflação é responsabilidade do emissor da moeda.

No caso brasileiro, o responsável é o governo federal que mantém o monopólio da atividade, por meio do Banco Central (art. 164 da Constituição), autarquia vinculada ao Poder Executivo da União.

Banco_Central_do_Brasil

 

5ª Lição

A inflação surge da emissão de moeda ou/e expansão do crédito em proporção maior do que a do crescimento da produção de bens e serviços.

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O valor da totalidade do dinheiro circulante corresponde, grosso modo, ao total da riqueza existente no país. Ou seja, ao total de bens produzidos e serviços prestados.

Se há incremento do crédito e da emissão de moeda em proporção maior que ao crescimento da produção de bens e serviços, as moedas passam a valer menos em face a eles.

 

6ª Lição

A inflação tem natureza de tributo.

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Se você achava que a carga tributária era alta, saiba que você paga tudo aquilo mais a inflação.

Os economistas chamam a inflação de tributo inflacionário.

De fato, cada nota nova emitida surge “no bolso” do Governo. E cada uma dessas notas retira seu valor da totalidade das notas já existentes, “nos bolsos” dos seus respectivos donos. A moeda emitida dilui o valor das anteriores, valor esse que – como já dito – corresponde, grosso modo, à riqueza existente no país.

Assim, o que a inflação faz não é tirar o seu dinheiro e passar para o Estado; mas tirar o valor do seu dinheiro e passar uma parte dele para as novas moedas que surgem “nas mãos” do Estado. A consequência é a mesma: transferência de riqueza dos proprietários atuais para o Governo.

7ª Lição

A inflação é o pior tipo de tributo existente.

inflacao tributo

8ª Lição

Primeiro, porque é extremamente regressivo. Quanto mais você ganha, menos você paga proporcionalmente. Em palavras simples: é um tributo que os ricos pagam menos que os pobres.

 

tributo regressivo inflacao

Quanto menos uma pessoa ganha, maior o percentual da renda que ela destina ao consumo. Como os bens estão custando cada vez mais, todo o percentual do patrimônio destinado ao consumo é atingido pelo tributo inflacionário.

Pelo contrário, quanto maiores os ganhos, maior o percentual destinado a investimentos capazes de salvaguardar a pessoa da inflação. Esse patrimônio investido em aplicações que retornam a inflação, é como um patrimônio isento do tributo inflacionário.

Logo, quanto mais rico; maior possibilidade de ter patrimônio investido; maior possibilidade de ter patrimônio isento.

9ª Lição

O tributo inflacionário também é o mais autoritário de todos.

Maduro inflacao

Toda a criação de tributo exige lei prévia, sujeita a uma pesada regulação constitucional (art. 150 e ss. da Constituição), consistente nas famosas “Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar”.

Você não pode estar sujeito a um tributo pelo qual não votou mediante seus representantes no Parlamento: “no taxation without representation“.

No tributo inflacionário não é assim. É o único em que você não vota, mas você paga. O Poder Executivo simplesmente libera crédito ou o Banco Central emite moeda… e pronto! Você já está pagando a conta.

Ademais, a criação de um tributo gera desgastes políticos prévios à sua criação; ao contrário, a inflação só gera desgaste depois que o Estado já usou o dinheiro novo, e com ele os governantes já obtiveram moeda política.

E tem mais: quando o Estado gasta, ela se apropria dos méritos; quando a inflação aparece, ele sempre tenta colocar a culpa no mercado ou em algum fator externo ao governo.

10ª Lição

Por fim, a inflação corrói o valor da moeda; diminui os investimentos no setor produtivo e, consequentemente, a oferta de empregos e os salários reais, isto é, o patamar de poder de compra dos salários; consome a poupança atual e, com isso, desincentiva a futura; gera um clima de insegurança econômica, prejudicando a confiança no país e a capacidade de planejamento de longo prazo; por fim, para seu combate é necessária uma recessão e, em soma à já mencionada perda dos níveis de poupança, aumento da taxa de juros.

Joaquim_Levy_

 

Um exemplo hipotético…

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A inflação pode ser mais bem compreendida com uma ilustração simples: imagine que numa economia há 100 bens. E também há 100 unidades monetárias. Suponhamos que cada bem vale exatamente o mesmo: cada bem custará, então, 1 unidade monetária. Suponhamos ainda que haja 10 pessoas dentro dessa economia, com patrimônios idênticos. Por conseguinte, cada um possuirá 10 unidades monetárias, podendo comprar 10 bens.

Agora digamos que surja um Estado. Ele terá de fazer frente a seus gastos. Como ele não produz, terá de expropriar parte da riqueza dos particulares.

Agora digamos que ele não consiga instituir um tributo: ou porque não há apoio parlamentar suficiente, ou porque o impacto sobre a popularidade do governante seria muito grande. O que ele faria?

Ele poderia simplesmente se endividar. Mas caso ele se endividasse demais, haveria um momento em que credor algum lhe emprestaria mais dinheiro, porque sua solvabilidade seria duvidosa; ou até mesmo poderia chegar a ser patentemente insolvente.

Nesse caso, o que poderia fazer o Estado?

Alternativas para o governo

Alternativas inflacao

O que ele poderia fazer, então…?

Ele irá simplesmente falir, ou emitir mais moeda.

Vejamos como seria a dinâmica da emissão de moeda.

Voltemos àquela mesma economia em que havia 100 unidades monetárias, 100 bens e 10 pessoas, cada uma com uma riqueza correspondente a 10 bens.
Bom. Digamos que o Estado emita 100 novas unidades monetárias. O que terá ocorrido? Haverá agora 200 unidades monetárias para 100 bens. Suponhamos que os valores monetários continuam perfeitamente divididos entre os bens. Cada bem agora passou a custar 2 unidades monetárias.

Passamos a ter o seguinte quadro: cada cidadão continuará a ter 10 unidades monetárias. Mas agora elas só corresponderão a 5 bens. E o Estado terá 100 unidades monetárias, correspondentes aos outros 50 bens. O Estado reduziu pela metade seu patrimônio, e se tornou 5 vezes mais rico do que qualquer particular… sem produzir nada… nem tributar qualquer pessoa.imagem-3

Os cidadãos continuaram com a mesma quantidade de dinheiro; mas seu dinheiro passou a valer menos. Por esse motivo eles já não têm a mesma quantidade de riqueza, embora permaneçam com a mesma quantia de moedas.

 

Dinâmica inflacionária na vida real

inflacao na vida real

Todavia, nas economias reais a dinâmica não é exatamente aquela.

Isso porque não há uma correspondência perfeita entre a quantidade de moeda e os preços. A produção de um determinado volume de moedas pelo Estado não se reflete automaticamente num aumento uniforme dos preços de todas as mercadorias.

Na verdade, o processo inflacionário se inicia naqueles setores da economia em que o Estado efetuará os gastos com as novas moedas ou em que ele estimulará o crédito.

Nesses setores que sofreram inicialmente a injeção de moeda ou crédito, os bens e serviços sofrerão forte valorização. Os proprietários desses bens e serviços serão os primeiros beneficiados.

Após, as pessoas que receberam esses valores, passarão a gastá-los em outros ramos da economia, gerando novo aumento dos preços. E assim por diante. De modo que a inflação vai penetrando na economia e causando aumento generalizado dos preços em círculos concêntricos, como as pequenas ondas decorrentes de uma pedra lançada na água. Até alcançar toda a economia.

Em consequência, aqueles que estão no início da cadeia inflacionária, enriquecem em detrimento daqueles que estão no final dela.

 

Expectativas também contam…

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É importante perceber, no entanto, que os efeitos da inflação não decorrem somente da efetiva expansão monetária.

O valor da moeda não é só determinado por sua disponibilidade atual. Mas também pela expectativa de sua disponibilidade futura. Assim, a simples tomada de políticas inflacionárias pelo governo já desencadeiam suas consequências. Do mesmo modo, a simples tomada de políticas aptas a contrair a oferta monetária arrefecem os efeitos da inflação.

Por isso, a simples sinalização de um governo de estabelecer limites de gastos públicos já gera impactos positivos sobre o comportamento monetário.

O Leviatã…

Leviatã

Por derradeiro, é importante dizer que a inflação está ligada a mais um tema, caro aos grupos liberais e conservadores: o gigantismo expansionista do Estado-Leviatã.

A inflação permite ao Estado um domínio enorme sobre a economia, uma capacidade de expropriação de riqueza quase ilimitada e uma expansão de seu tamanho quase que para além de qualquer controle.

Como o uso do processo inflacionário é interessante para os políticos e demais membros do estamento burocrático, ou seja, para os donos do poder, só instituições sérias e fortes, aptas a controlar o comportamento fiscal dos governantes e responsabilizá-los em caso de infração, são capazes de minimizar os risco da inflação.

Todavia, há mecanismos para suprimir do Estado a capacidade de expropriar riqueza mediante tributos inflacionários. Quer saber quais são? Esse será o tema de um futuro post… em breve!

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