"Acho que em qualquer época eu teria amado a liberdade; mas na época em que vivemos, sinto-me propenso a idolatrá-la"
(Tocqueville)
Já ouviu aquele papo de que antes de Chávez a Venezuela era pior do que agora e profundamente desigual? É mentira.
“Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade” – Joseph Goebbels
A frase acima é atribuída ao ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
Infelizmente, ela encerra um risco real: narrativas são extremamente poderosas. Contadas repetidamente, sem um contraponto, acabam por virar a versão corrente, por mais enganosas que sejam.
Ademais, ainda que uma narrativa não consiga impedir a percepção de fatos óbvios, ela pode alterar o modo como reagimos diante deles.
O caso da Venezuela
Dificilmente alguém dirá hoje que a Venezuela tem uma boa gestão pública:
- Ela tem um dos governos mais corruptos do mundo e o mais corrupto do continente;
- O país encerrou 2016 como o 2º mais violento do mundo com 3 vezes mais homicídios do que o Brasil, proporcionalmente: naquele ano o Brasil teve cerca de 29,9 homicídios a cada 100 mil habitantes, enquanto o vizinho bolivariano 91,8;
- O governo gerou uma gravíssima crise alimentar: cerca de 87% dos venezuelanos não têm dinheiro suficiente para alimentação;
- País passa por uma alarmante crise inflacionária: a moeda venezuelana vale menos do que um guardanapo e o governo têm dificuldades financeiras até para conseguir imprimir o próprio dinheiro;
- A Venezuela passa por crise humanitária com deterioração completa de sua democracia: são contabilizados inúmeros casos de desrespeito a direitos básicos dos cidadãos, tendo o governo tornado-se já totalmente despótico, tirânico e antidemocrático;
- Crise atingiu em cheio a educação: cerca de 40% dos professores perdem aulas para enfrentar as filas para compras de bens básicos; percentual idêntico de alunos perdem aulas com constância e inúmeros dias letivos têm sido cancelados em razão do racionamento de energia.
De todo modo, uma narrativa pode determinar o modo como se reage diante desses fatos.
Uma versão de que antes de Hugo Chávez a Venezuela seria ainda pior, um país profundamente desigual e miserável, pode convencer pessoas de que não se deve remover o governo atual precipitadamente, correndo o risco de que outro aos moldes do anterior – ainda pior – retorne. Seria necessário aguardar pacientemente, até que Maduro conseguisse resolver a crise, ou que surgisse um governo que desse continuidade “ao que ele teria feito de bom”.
Essa é a versão que os apoiadores do regime tentam emplacar. Só tem um problema: ela é mentirosa.
A desigualdade na Venezuela
O gráfico abaixo mostra quase todos os países da América Latina analisando-os segundo o coeficiente GINI, o índice mais usado para averiguar a igualdade de renda numa região.
A Venezuela corresponde à linha vermelha na parte inferior do gráfico. Quanto mais baixo no gráfico, menor o coeficiente GINI e, portanto, mais igualitário o país.
Percebam que a Venezuela historicamente é um dos países mais igualitários da América Latina (senão o mais igualitário, com pequenos períodos em que ultrapassada pela Costa Rica). Isso já bem antes de Chávez.
Vejam a imagem isolada do desenvolvimento histórico do índice GINI da Venezuela:
Aliás, o período de maior igualdade de renda na série histórica vai de 1989 a 1992. Entre 92 e 95 há uma queda, mas permanece à frente do continente, de modo geral.
E após a vitória de Chávez, em 1998, o país não experimentou uma melhora significativa e contínua, mas uma oscilação medíocre.
Atualmente, a Venezuela já foi ultrapassada por outros países em termos de igualdade de renda.
A pobreza na Venezuela
A pobreza extrema na Venezuela é hoje quase três vezes maior do que antes de o regime de Hugo Chávez assumir: anteriormente ao regime, em 1998, a pobreza extrema alcançava menos de um quinto da população. Em 2015 chegava a quase 50%.
E o país historicamente costumava ter um PIB per capita alto para os padrões latino-americanos.
Por fim, no ano citado (2015), o país estava em seu recorde histórico negativo: 75,6% da população estava submetida à pobreza. Esses números vêm piorando: em 2016, a pobreza já alcançava 81,8% das pessoas.
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