• Carregando...
Kavanaugh faz juramento antes do início de sua sabatina no Senado nos EUA. A foto é do dia 4 de setembro de 2018. | Andrew Harrer/Bloomberg
Kavanaugh faz juramento antes do início de sua sabatina no Senado nos EUA. A foto é do dia 4 de setembro de 2018.| Foto: Andrew Harrer/Bloomberg

Na próxima segunda-feira (24), quando o indicado à Suprema Corte dos Estados Unidos Brett Kavanaugh confrontar as acusações de abuso sexual feitas por Christine Blasey Ford, não será apenas o futuro do magistrado que estará em jogo. O futuro do movimento #MeToo (#EuTambém, em português) também estará em julgamento.

O cenário pode se apresentar de diferentes formas: 

1) Ford pode fornecer evidências suficientes para provar suas alegações, e o #MeToo será tanto justificado quanto validado; 

2) Ela pode se recusar a testemunhar e/ou dar provas insuficientes para respaldar suas reivindicações. Ao fazê-lo, não impediria Kavanaugh de chegar à Suprema Corte. Isso mostraria que o devido processo legal e um julgamento justo ainda são possíveis no tribunal da opinião pública; 

3) Ford pode se recusar a testemunhar e/ou dar provas insuficientes para respaldar suas reivindicações, mas, mesmo assim, impedir a chegada de Kavanaugh ao mais alto tribunal dos EUA. Desta forma, estabeleceria um perigoso precedente de que o #MeToo pode arruinar a vida de um homem mesmo quando não há evidências sólidas; 

4) Poderíamos descobrir que as alegações de Ford são completamente falsas e/ou motivadas por questões políticas, causando um dano irreparável ao #MeToo; 

5) Finalmente, é possível, pensam alguns, que Ford se lembre de detalhes de um ataque que ocorreu quando ela tinha 15 anos, mas do qual Kavanaugh não foi o agressor, deixando o futuro do movimento no ar. 

Feitas as considerações, esse é o grande momento do #MeToo, sendo que os próximos dias vão determinar se o grupo é capaz de se manter como um movimento imparcial e de busca pela verdade. Muito está em jogo. Mas, de qualquer forma, grande parcela dos americanos não apoia o movimento. 

De acordo com uma pesquisa do YouGov/HuffPost, publicada em agosto, apenas 23% dos americanos enxergam o #MeToo como “muito favorável”. Há também um levantamento da CBS/Refinery29, divulgado no mesmo mês, mostrou que apenas metade das mulheres millennials acreditam no movimento. 37% delas respondeu que o #MeToo “não vai mudar muito as coisas”, e 13% falaram que ele vai, na realidade, tornar as coisas “piores para as mulheres”. 

Leia também: Acusações contra indicado de Trump para a Suprema Corte não são sólidas (pelo menos, por enquanto)

Se descobrirmos que o Partido Democrata está usando as alegações de Ford contra Kavanaugh como uma arma política, esses números tendem a dobrar ou triplicar da noite para o dia. 

É preocupante que muitos já estejam desconfiados de um movimento que deteve homens poderosos como Harvey Weinstein, Matt Lauer, Charlie Rose e inúmeros outros. Mas eles têm um bom motivo. 

Muitos desses céticos, com quem venho interagindo, há muito suspeitavam que o #MeToo seria corrompido, utilizado para uma espécie de caça às bruxas contra homens dos quais o movimento não gostava. Eles notaram que o devido processo legal é ignorado e que os sexos foram colocados um contra o outro. Causas progressistas são defendidas e tenta-se derrubar homens por uma situação que a maioria descreveria apenas como um encontro ruim. 

Agora, o que se vê é uma causa ser usada para deter um, até onde se sabe, íntegro, marido, pai, juiz, técnico esportivo, mentor e indicado à Suprema Corte. Espera-se que o processo tenha uma aparência de justiça sendo feita, mas até agora a resposta é “não”. 

Muitos democratas já decidiram que homens acusados de comportamentos impróprios são culpados – e todos devem “calar a boca” e aceitar. 

“Adivinhem quem está perpetrando esse tipo de ato?”, perguntou a senadora democrata Mazie Hirono, do Havaí, a repórteres. “São os homens deste país. Eu só quero dizer aos homens deste país para calarem a boca. Avancem. Façam a coisa certa, só para variar”. 

Se a alegação é verdadeira ou não, o que importa é como o acusado lida com a dor do acusador, dizem eles. 

“É preciso julgar Brett Kavanaugh, não apenas pelo o que ele pode ou não ter feito, mas pela forma com que trata a dor de uma mulher”, disse a fundadora da revista Wonkette, Ana Marie Cox, ao MSNBC. “Estarei prestando atenção a isso na segunda-feira (24). Como ele lida com o que está acontecendo? Concordando ou não com as alegações dela [Ford], ele leva sua dor a sério? As pessoas que estão a interrogando levam a dor dela a sério? Agora, alerta de spoiler, eu não acredito que Brett Kavanaugh leve a dor das mulheres muito a sério, e eu sei disso por conta das decisões que ele tomou enquanto juiz”. 

É de se perguntar se alguma dessas mulheres está ajudando a criar meninos. Como seria se um dia eles tivessem que enfrentar acusações não muito claras sem ter a capacidade de se defender? 

Confira: O papelão democrata na sabatina de Brett Kavanaugh

Para ser clara, é possível que Ford esteja dizendo a verdade. Se ela disse e Kavanaugh está mentindo sobre seu envolvimento no abuso, ele não merece um lugar na Suprema Corte. Nesse caso, o legado do #MeToo está a salvo. Agora, se o que ela relatou não for verdade – ou se faltarem evidências que provem que Kavanaugh está mentindo quando diz que a violência nunca aconteceu –, o #MeToo mudará para sempre. 

Os conservadores que apoiam a indicação de Kavanaugh ficarão, na melhor das hipóteses, céticos e, na pior delas, rejeitarão o movimento, resultando numa tentativa unilateral de combater o assédio e a agressão sexual. 

Os democratas sabem que eles têm tudo a ganhar ao usar o #MeToo para impedir Kavanaugh de chegar à Suprema Corte. As mulheres, por outro lato, têm um movimento inteiro a perder. 

Muito será decidido nos próximos dias. Esperemos que os democratas e suas aliadas feministas percebam tudo o que está em jogo. 

* Kelsey Harkness é produtora de notícias sênior no The Daily Signal e co-apresentadora do “Mulheres Problemáticas”, um podcast e programa transmitido via Facebook.

©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]