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Laina Crisóstomo e Karol Carvalho, voluntárias do coletivo Tamo Juntas | Arquivo pessoal
Laina Crisóstomo e Karol Carvalho, voluntárias do coletivo Tamo Juntas| Foto: Arquivo pessoal

Em abril de 2016, Laina Crisóstomo não imaginava que uma postagem no Facebook ia mexer tanto com o seu cotidiano. Foi quando, participando da campanha #MaisAmorEntreNós, ofereceu assessoria jurídica para atender uma mulher vítima de violência doméstica por mês, gratuitamente. A ideia era levar adiante o propósito da campanha: criar uma rede de mulheres para ajudar a outras mulheres. 

A postagem fez sucesso, acumulou 6 mil curtidas e 5 mil compartilhamentos e o que começou com o apoio de só mais duas advogadas (Carolina Rola e Aline Nascimento), hoje é o Tamo Juntas: uma rede de 70 voluntárias, presente em todas as regiões do Brasil. A fanpage do grupo foi criada no mês seguinte e conta, atualmente, com 80 mil seguidores. Foi a partir da página que Laina, Carolina e Aline começaram a receber solicitações de atendimentos e a organizá-los. 

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A princípio, os atendimentos eram só no campo jurídico, mas atualmente, pela multiplicidade de profissionais envolvidas, o coletivo já pode fazer atendimentos sociais e psicológicos. Todos são gratuitos, mas são voltados apenas a mulheres que não têm condições financeiras de pagar por eles. Seguindo a determinação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quanto a atendimentos pro bono (gratuitos), a rede só atende a mulheres em situação de hipossuficiência (pobreza comprovada) e vulnerabilidade. 

O Tamo Juntas está presente em 23 estados e, pela dimensão que o grupo tomou e por sua natureza dinâmica, não é tão simples contar quantas pessoas já foram ajudadas pela rede de voluntárias. “A gente já atendeu muita mulher. Não só pessoalmente, acompanhando o caso, mas também tirando dúvidas pelo Facebook, WhatsApp, Instagram ou por e-mail. Aqui em Salvador a gente tem atualmente mais de 300 processos ativos. Mas, nesses dois anos, a gente já ultrapassou 6 mil atendimentos [no Brasil todo]”, relata a fundadora. 

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Informar para fortalecer 

Além de ter crescido em tamanho, o projeto também abriu as asas para abraçar mais competências e atividades. Por definição própria, virou uma “organização que presta assessoria multidisciplinar para mulheres em situação de violência” e inclui psicólogas, assistentes sociais, e, em alguns estados, pedagogas, médicas e dentistas. Na cartela de projetos estão palestras, mutirões de atendimentos da lei Maria da Penha, rodas de conversa sobre diversas dimensões da violência contra mulher, cursos online (sobre a lei Maria da Penha e sobre aspectos sociais e psicológicos da violência de gênero, que contou com a participação de quase 750 mulheres) e uma série especial de textos sobre mulheres negras, marcando o Dia da Mulher Negra, Afrolatina e Caribenha, 25 de julho. 

Tudo isso para colocar em pauta as bandeiras defendidas pelo grupo e ampliar o número de pessoas atendidas. “A gente decidiu ampliar as atividades porque entende a importância do fortalecimento a partir do conhecimento”, diz a fundadora. “Se eu não sei o meu direito, eu não vou conseguir reivindicá-lo”. 

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As palestras e entrevistas, por exemplo, são uma forma de fazer a mensagem chegar mais longe, atingindo pessoas que ainda não conhecem o projeto e podem estar precisando de ajuda. A voluntária Karol Carvalho, presidente da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB-MA e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do órgão, ficou marcada pelo momento em que viu pela primeira vez o poder do Tamo Juntas, quando conheceu Laina, que visitava o Maranhão. 

“Fomos a um programa de rádio muito ouvido aqui no estado e essa moça nos ouviu. No mesmo dia, íamos ao desfile de uma grife que foi criada dentro da cadeia feminina”, conta. Chegando ao desfile, foi avisada de que uma mulher estava procurando por elas. “Ela já chegou chorando, contando que estava indo trabalhar e tinha ouvido a gente na rádio”, lembra. 

Segundo Karol, Laina abraçou a mulher e a acalmou, explicando que o fato de ela não ter dinheiro para arcar com os honorários das advogadas não era um problema, já que o trabalho é gratuito, e que elas a ajudariam. O caso era que a mulher havia tido uma discussão com o cunhado, e ele a empurrou. “Ela só queria que o cunhado pedisse desculpas e nós fizemos a mediação na Vara de Família”, conta Karol. No final, o cunhado se desculpou e tudo foi resolvido. 

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“Marcou muito o fato de ela ter ido atrás, de ter acreditado na gente”, diz a advogada maranhense, que faz parte do Tamo Juntas há um ano. “A gente acolhe, abraça, cuida. Ela estava precisando ser cuidada naquele momento”. 

Rede de apoio 

E não são só as atendidas pelo projeto que saem mais fortalecidas e confortadas do encontro com o Tamo Juntas. As voluntárias também descobrem na sororidade (palavra que vem do latim “soror”, que significa “irmã”) do grupo novas formas de ocupar o seu lugar no mundo. 

“O Tamo Juntas tem sido um espaço de autocura, compartilhamento, acolhimento e amparo, não somente para as assistidas, mas também para as voluntárias, que todos os dias têm que ouvir histórias terríveis de violência e entendem que isso poderia acontecer com qualquer uma de nós”, relata Laina. 

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Karol, que atua na área prisional e em ambientes extremamente masculinos, diz que entrar para o grupo foi uma revolução na sua vida. Além da forte amizade com Laina, sobre quem não poupa elogios, a união do grupo tem lhe dado novas forças na busca pelo seu espaço. “O Tamo Juntas tem trazido uma bagagem pessoal muito importante para mim. São mulheres do país inteiro e todo mundo se ajuda. Eu cresci vendo mulheres competindo umas com as outras e agora estou vendo mulheres ajudando mulheres”, conta. 

Laina traz na bagagem uma história que resume bem o propósito que move o projeto. Em um dos casos que considera mais memoráveis, a ex-mulher de um agressor testemunhou a favor da, à época, atual esposa dele, vítima de violência doméstica e assistida pelo Tamo Juntas. “Para nós isso foi muito importante porque é justamente o sentido do que é o Tamo Juntas. A gente sempre diz para as mulheres que se ouçam mais. Nós precisamos nos ouvir mais”. 

Mulheres que forem vítimas de violência e precisarem da assistência do grupo podem entrar em contato pelas seguintes maneiras: 

E-mail: contato@tamojuntas.org.br 

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