Há quase dois anos, Aaron Persky, juiz do condado de Santa Clara (Califórnia), condenou um ex-nadador da equipe da Universidade de Stanford, considerado culpado de agressão sexual, a uma sentença de apenas seis meses – a pena poderia ter chegado a 14 anos.
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Lida antes do sentenciamento de Brock Turner, em junho de 2016, uma declaração em que a vítima relatava seu sofrimento durante a investigação e o julgamento capturou a atenção do país.
“Você me privou de meu valor, minha privacidade, minha energia, meu tempo, minha intimidade, minha confiança e minha voz, até hoje”, dizia o texto.
Poucos dias depois, uma professora de Stanford iniciou campanha pela deposição do juiz. Ela conseguiu cerca de 94 mil assinaturas de cidadãos insatisfeitos com o trabalho do magistrado. As rubricas foram validadas pelo condado de Santa Clara, que então colocou o “recall” na cédula de votação das primárias desta terça-feira (5).
Para conseguir levar um recall à votação, é preciso colher assinaturas de entre 10% e 30% dos votantes registrados em determinada jurisdição.
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Na terça-feira (5), os eleitores do condado de Santa Clara se pronunciaram e determinaram a deposição do juiz, depois de quase 15 anos de serviço no tribunal. Foram 59% de votos a favor, e 41% contra.
“A mensagem mais ampla dessa vitória é que a violência contra a mulher agora se tornou questão eleitoral importante”, disse Michele Dauber, ativista que lançou a campanha pela deposição do juiz.
O magistrado, que se recusou a comentar na terça, afirmou repetidamente que não discutiria o caso que resultou em sua exoneração porque Turner recorreu da condenação. Mas, em entrevista em maio, disse não lamentar sua decisão.