Imagem ilustrativa.| Foto: Reprodução/ Pixabay

Apenas três pessoas sabem, com certeza, o que aconteceu nos últimos segundos da vida de Gregory Hill Jr.: ele próprio e os dois policiais que, em um dia de 2014, foram até sua casa. Um deles matou Hill.

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Os policiais afirmaram que Hill, então com 30 anos, apontou-lhes uma arma. Apesar dos pedidos para largar o revólver, o homem não o fez. Os policiais atiraram contra ele, e a arma, então, teria caído das mãos de Hill. Acontece que a pistola, que não estava municiada, foi encontrada no bolso de trás dos jeans que ele usava. 

A mãe de Hill processou os xerifes do Condado de St. Lucie, no estado norte-americano da Flórida, Ken Mascara e Christopher Newman, que disparou os tiros fatais contra o jovem, por homicídio culposo. Depois de, aproximadamente, duas semanas de julgamento e 10 horas de deliberação, no último mês de maio, o júri considerou que Newman não cometera nenhum delito. Para os oito jurados, Mascara teve 1% de culpa no ocorrido, enquanto Hill foi culpado em 99% por sua própria morte, vez que estava bêbado quando os policiais foram à sua casa. 

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Apesar disso, o júri considerou que a parte vencida deveria ser indenizada. O valor? US$ 4 (cerca de R$ 14) – um para os custos do funeral, que ultrapassou os US$ 11 mil, e um dólar para cada um dos três filhos de Hill, que têm 13, 10 e 7 anos. Pelo fato de os policiais terem sido considerados apenas 1% culpados, no entanto, a família de Hill teria direito a apenas 1% da indenização. No caso, 4 centavos. Foi o que informou John Phillips, representante da mãe do jovem morto, Viola Bryant. 

‘Eu nunca vi algo assim. Se você perde um caso, o certo é ganhar zero dólares. Mas se você ganha, deve receber um valor justo’, afirmou Phillips. ‘Foi aí que ficamos confusos. Os jurados tentaram nos punir por, basicamente, termos entrado com o processo, daí o dólar? Ou nos disseram que o verdadeiro valor dessas crianças [filhas de Hill] era um dólar?’, questionou o advogado, que comparou a situação com dar gorjeta a garçons que prestaram um mau serviço. 

Sem gorjeta, “eles podem pensar que eu simplesmente me esqueci ou que estava sem dinheiro. Mas se deixo um dólar, vão saber que eu tive a intenção de dar a gorjeta e insultá-los”. 

Em comunicado logo após o veredito, no último dia 24 de maio, Mascara disse que: 

“Nós estamos satisfeitos por ver que esse trágico e difícil incidente teve uma conclusão. O xerife Newman se viu em uma situação muito difícil e, assim como tantos outros colegas policiais enfrentam todos os dias, ele tomou a melhor decisão que pôde para a segurança de seu parceiro, dele próprio e da sociedade. Agradecemos ao júri pelo tempo despendido e pela compreensão, e desejamos o melhor a todos os envolvidos nessa história, para que seja possível seguir em frente”. 

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Hill foi morto na tarde do dia 14 de janeiro de 2014. Então com 30 anos de idade, o funcionário da Coca-Cola passara a maior parte do seu dia de folga no “reduto masculino” que construíra na garagem de sua casa em Fort Pierce, na Flórida. Ele estava bêbado quando os policiais apareceram. 

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Pais que buscavam seus filhos na escola primária em frente à casa de Hill chamaram a polícia para fazer uma queixa de perturbação ao sossego. Eles não queriam que as crianças ouvissem a música carregada de palavrões que vinha da garagem de Hill. Primeiramente, Newman e outro policial, Edward Lopez, bateram à porta da casa. Como não obtiveram resposta, foram até a garagem. Segundo os advogados da família de Hill, ele começou a abrir o portão da garagem, viu os policiais, e fechou novamente quando Newman atirou. 

Já os policiais afirmam que Hill segurava uma arma com a mão direita quando abriu a porta. Eles ordenaram que o jovem largasse o revólver, mas, em vez disso, ele teria apontado a arma na direção de Lopez enquanto fechava a porta. 

“O xerife Newman, temendo por sua vida e a de seu companheiro, disparou quatro vezes contra Hill”, traz o processo. “Enquanto o portão da garagem estava em processo de ser fechado, as balas acabaram atingindo Hill”. 

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Testemunhas afirmaram que a confusão começou e acabou de forma muito rápida. Hill foi encontrado deitado de barriga para baixo, numa verdadeira “piscina de sangue”. Ele foi baleado na cabeça, abdômen e virilha. A ponta de uma Kel-Tec 9mm saía do bolso traseiro da calça de Hill. 

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John Phillips, advogado da família do jovem morto, conta que uma das filhas de Hill, com 9 anos à época, estudava na escola primária do outro lado da rua e presenciou tudo. Segundo a garota, hoje com 13 anos, seu pai não estava com nenhuma arma em mãos. Se estivesse segurando uma pistola, ele teria derrubado o objeto, diz Phillips. A arma ainda teria algum vestígio de pele, sangue ou suor, mas testes de DNA deram negativo para todas as hipóteses. 

“Pensamos que tínhamos um caso vencedor... Com a arma no bolso de Hill durante todo o tempo, então se trataria de uma violação aos direitos civis”, afirma o advogado. 

Após o veredito ser lido, em 24 de maio, a noiva de Hill à época do crime, Monique Davis, deixou o tribunal. “Meu coração despencou. Eu só conseguia pensar ‘vocês estão falando sério?’”, contou à rede de tevê NBC. 

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Phillips disse que vai ser ajuizado um recurso para que o caso seja julgado novamente. Como se trata de um processo de âmbito federal, há uma chance de se apelar à Suprema Corte dos EUA. Um fundo foi criado em prol da família de Hill. Já foram arrecadados cerca de US$ 45 mil. 

De 2015 a 2017, em cada ano, cerca de 981 pessoas foram mortas pela polícia nos Estados Unidos, de acordo com levantamento do Washington Post. Em 2018, foram 425 até o momento.