Desde 2020, o “Chama Violeta”, movimento protagonizado pelas alunas da Escola Municipal Saint Hilaire e coordenado pela professora Maria Gabriela de Souza, promove encontros semanais com estudantes, para discutir a violência sexual. Como reconhecer um caso de abuso, como evitar uma situação violenta, como - e a quem - pedir ajuda?
Foi através da literatura e de recortes de jornais que a professora traçou estratégias para abordar o tema – considerado ainda um tabu - com crianças e adolescentes, de diversas faixas etárias. Com o público infantil, ela optou por trabalhar com a ludicidade das histórias infantis, presente em livros como “Leila” e “Meu Corpo, meu corpinho!”, que ensinam a importância do cuidado com o corpo e o poder de dizer não. Já com os adolescentes, a professora preferiu trazer notícias, com relatos e dados sobre o abuso no Brasil.
Recente pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Instituto Liberta, mostrou que um em cada três brasileiros diz ter sofrido violência sexual na infância ou adolescência. A pesquisa corrobora ainda dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que aponta as crianças como o grupo mais vulnerável a esse tipo de violência - 61,3% dos registros policiais de 2021 foram de estupros contra menores de 13 anos de idade.
“A Saint Hilaire fica na Lomba do Pinheiro, na periferia de Porto Alegre, um bairro com altos índices de violência contra mulheres e crianças. A iniciativa do projeto veio das próprias alunas, que estavam com medo de andar sozinhas pelas ruas. Partiu delas a ideia de trazer o assunto para o nosso coletivo de leitura”, conta Maria. O projeto ganhou corpo e, além das rodas de leitura, o grupo criou um “Kit” contendo apitos, folders informativos e uma fitinha com os dizeres “Lute como uma guria”.
“As alunas queriam criar um dispositivo, um alarme que pudessem acionar em caso de emergência, mas não tínhamos recursos financeiros para isso. Então, surgiu a ideia do apito, que já é utilizado em diversas outras cidades e capitais brasileiras para combater o assédio no transporte público, constrangendo o agressor com o barulho do apito”, comenta Maria.
Hoje, o “Chama Violeta” atua em parceria com o Serviço de Orientação da escola, acolhendo, buscando ajuda e encaminhando ao Conselho Tutelar e demais órgãos competentes os estudantes que desejem denunciar casos de abuso. Segundo a professora Maria Gabriela, desde que o Projeto começou, houve um aumento no número de denúncias, reforçando o papel da escola como um espaço seguro, para que as crianças possam sentir-se encorajadas a falar.
“A ideia é ampliar essa discussão. Já levamos nossas palestras para diversas outras escolas da região, distribuímos kits e estamos desdobrando os conteúdos do “Chama Violeta” para debate de outras questões que envolvem violências de gênero como, por exemplo, a pobreza menstrual. É preciso falar para prevenir”, finaliza.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Deixe sua opinião