Projeto sobre educação alimentar auxilia desenvolvimento infantil
Recente pesquisa do Ministério da Saúde aponta que 12% das crianças brasileiras de até cinco anos têm problemas de atraso no desenvolvimento, percentual que pode ser ainda maior entre as crianças que se encontram em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. Estudos comprovam ainda que a má nutrição pode afetar diretamente não só o crescimento físico como também a formação cognitiva, emocional e social infantil. Não é à toa que uma das competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a importância dos hábitos alimentares saudáveis para o desenvolvimento da identidade e interação social.
Foi com base nessa competência que a professora Eliana Martelli* desenvolveu o projeto “Eu me alimento! Mas será que eu me alimento corretamente?” voltado para crianças entre 3 e 4 anos, do Centro Municipal de Educação Infantil Menino Davi, de Paranavaí (PR). Segundo a professora, a ideia para a atividade surgiu a partir de uma dica pedagógica publicada no site do Ler e Pensar, que trazia sugestões de atividades e reflexões sobre o tema.
“Eu pedi que os pais dos alunos enviassem as embalagens dos alimentos mais consumidos em casa e depois, quando colocamos esse material recolhido em cartazes da escola – contendo 90% de rótulos de chips e bolachas – eles ficaram realmente impressionados com o que viram. Acho que, a partir dali, conseguimos provocar alguma mudança”, relata.
O desafio de trabalhar com esse tema foi ainda maior devido à faixa etária das crianças. Segundo a professora, as atividades precisaram realmente entrar no cotidiano, para que elas pudessem se interessar e compreender o que estava sendo ensinado. A professora descobriu que muitos dos alunos sequer tinham experimentado alguns alimentos e desconheciam a existência de muitas frutas. A abordagem através da ludicidade favoreceu não só a exploração e o entendimento sobre o assunto como o encantamento sobre a importância de uma boa alimentação.
“A gente confeccionou “monstrinhos da alimentação”, para que os alunos pudessem aprender a alimentá-los corretamente. Contamos histórias, convidamos uma nutricionista para conversar com elas, produzimos um podcast sobre nutrição e colocamos até vendas nos olhos das crianças, para que pudessem reconhecer os alimentos pelo sabor – acabando com o bloqueio de que não gostavam de uma determinada comida pela sua aparência.
Elas passaram realmente a experimentar de tudo, e isso trouxe reflexos extremamente positivos também em casa. Houve relatos de pais, falando que seus filhos passaram a impedir que eles tomassem refrigerantes, porque a tia não deixava”.
Além da mudança de hábitos alimentares, o projeto provocou também uma maior interação social entre as crianças. Eliana destaca que, em sua turma, um dos alunos era autista e possuía muita seletividade para comer. A própria turminha, percebendo essa dificuldade, decidiu se engajar para ajudá-lo, muitas vezes, dando comida em sua boca.
“Foi muito bonito perceber essa união, de eles mesmos perceberem que, se alguém não estava se alimentando corretamente, precisavam ajudar. Passamos, então, a ir mais cedo para o refeitório, para que o colega tivesse mais tempo para comer. Eu acredito muito nas metodologias ativas na educação, nessa forma de participação dos estudantes no processo de aprendizagem e acredito que atividades desse tipo podem render ainda mais frutos, promovendo a autonomia e reflexão crítica dos estudantes. Ano que vem, eu quero me aprofundar ainda mais em projetos assim”.
*A professora Eliana Martelli foi eleita Professora do Ano pelo Ler e Pensar/2023, na categoria Educação Infantil.
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