De 2015 a agosto de 2018, 555 inquéritos haviam sido abertos no Ministério Púbico do Paraná apenas de assassinatos de mulheres pela condição de serem mulheres. Os dados foram apontados pela matéria da Gazeta do Povo "Preconceito e falta de apoio desafiam o combate ao feminicídio no Paraná", publicada ano passado.
Feminicídio é o termo utilizado para os assassinatos de mulheres apenas pelo fato de serem mulheres. Por ser uma tipificação recente, ainda há muito preconceito e desencontros sobre o seu real significado. De acordo com a promotora de justiça Mariana Dias “muitas pessoas ainda dizem que o fato de ser mulher não deve qualificar o crime. Realmente tem mais homicídios de homens, mas não ocorrem pelo fato de ser homem que está andando num lugar ermo, que não cumpriu as tarefas domésticas que deveria cumprir”, afirmou em entrevista à Gazeta.
O machismo arraigado e a falta de discussão sobre o papel da mulher na sociedade acabam contribuindo com esses índices. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é o quinto país com casos de feminicídio e esse número só aumenta. “A mulher ainda é tratada como objeto, vista como sujeito que não tem tantos direitos. O desejo da mulher não tem o mesmo valor do homem e isso leva a mulher a ser vítima de violência psicológica, física e que acaba resultando em casos mais graves”, afirma a advogada criminalista Mariel Muraro.
Importância
Nomear e definir o problema são passos importantes, mas não resolvem a situação caso não haja ações efetivas. Pensando nisso, os alunos do colégio SESI de Foz do Iguaçu realizaram diversas atividades em equipes, de maneira interdisciplinar. Foram abordados temas como feminismo, machismo, o papel da mulher na sociedade e respeito às minorias.
O projeto, que foi desenvolvido pelas professoras Djaneide (sociologia), Andreilcy (geografia) e Karina (história), conquistou o prêmio do Concurso Cultural Ler e Pensar 2018, na categoria exclusiva aos Colégios SESI de todo o Paraná. Veja mais sobre a prática, aqui.
Diversas frentes de trabalho
Como o trabalho foi interdisciplinar, foram desenvolvidas diversas atividades. Na disciplina de geografia, os alunos fizeram uma análise de várias notícias da Gazeta do Povo com os temas feminicídio, misoginia e machismo. Foram elaborados resumos e, posteriormente, postados nas redes sociais, em texto e vídeo, para difundir o tema.
Em sociologia, os alunos, com a ajuda da professora, falaram sobre questões de gênero, respeito às diferenças e sobre as diversas vertentes do feminismo e também sobre feminicídio. Além disso, eles fizeram uma oficina de cartazes sobre o tema, que foram exibidos em toda a escola e nas redes sociais. Já em história, houve um levantamento sobre o papel da mulher na sociedade, da pré-história até os dias atuais. Os alunos gravaram vídeos sobre o tema e disponibilizaram no Facebook.
Resultados
De acordo com as professoras, o envolvimento dos alunos foi expressivo e muito positivo, pois, além da análise das notícias e de dados estatísticos e históricos, os estudantes se envolveram com a comunidade e a família, realizando entrevistas.
Neste momento, eles puderam perceber como o machismo ainda persiste nas mais diversas ações e também que há grande desconhecimento sobre o verdadeiro sentido do feminismo, afinal muitas opiniões dos entrevistados foram baseadas no senso comum. Os dados das entrevistas ainda foram tabulados com a ajuda da professora de matemática.
A campanha do “Agosto Lilás” corroborou a relevância do projeto, reforçando informações pertinentes, o que estimulou os alunos a buscarem cartazes para divulgar o número 180, que é da central de atendimento à mulher em situação de violência. As professoras ficaram muito satisfeitas com o resultado e com o envolvimento dos alunos.
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