No final de 2023, o Senado aprovou o projeto que passa a criminalizar todo tipo de bullying – inclusive o virtual. A proposta, que ainda precisa passar pela aprovação do presidente da República, representa um importante passo no combate a essa prática, que tem se tornado cada vez mais frequente e abusiva. De acordo com recente pesquisa realizada pelo DataSenado, 6,7 milhões de estudantes sofreram algum tipo de violência na escola nos últimos doze meses, o que representa 11% dos quase 60 milhões de alunos matriculados, número que deixa em alerta educadores, gestores, pais e alunos. Segundo especialistas, a prevenção continua a ser o melhor antídoto contra o bullying, e campanhas de conscientização – como a desenvolvida pela Flávia Renata, professora da rede municipal de Curitiba, podem produzir resultados surpreendentes.
No início do ano, Flávia percebeu que um grupo de estudantes da educação especial com diversos níveis de aprendizagens e patologias (como TEA - Transtorno do Espectro Autista – TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade - e TOD - Transtorno Opositor Desafiador - dentre outras) estava sendo “excluído” de algumas atividades. Segundo a professora, vários colegas não queriam mais brincar com eles no recreio, porque acreditavam que seus amiguinhos eram portadores de alguma doença. Ficavam, até mesmo, com vergonha de dizer que eram seus amigos.
Flávia teve então a ideia de realizar um projeto, para que os alunos pudessem não só relatar seus sentimentos, como criar estratégias para resolver a situação.
“Foi muito emocionante ouvir o relato deles. O bullying fazia com que ficassem agressivos e com raiva, pois não sabiam como lidar com aquele sentimento. O trabalho que desenvolvemos fez com que se sentissem empoderados para falar sobre os direitos deles. Produzimos cartazes, gibis, folders sobre o assunto e organizamos até uma exposição na escola, com sugestões e ideias de ações para combater a violência. A prática desenvolveu nos alunos o senso de autonomia, de responsabilidade e de autoconhecimento, auxiliando a criação de um ambiente livre de transtornos”, conta.
Na elaboração do projeto, a professora utilizou a metodologia do Ler e Pensar (com-pela-para a mídia), e o Boletim de leitura orientada (BOLO) sobre alfabetização midiática e cidadania. Com o auxílio desses materiais, ela pôde trabalhar com diversas ferramentas, como reportagens da Gazeta do Povo, memes, gincanas com perguntas e respostas, apresentações teatrais, exposições de trabalhos, rodas de conversa e produções textuais. Para ela, utilizar o jornal e outras mídias ampliou o repertório de conhecimentos dos estudantes, colocando-os como protagonistas das atividades.
“Este foi meu último ano na Escola Cecília Maria Westphalen. Na minha despedida, muitos alunos ficaram tristes, choraram... Mas teve uma aluna que falou: “calma, gente, a 'profe' vai embora, mas agora nós sabemos os nossos direitos! É só a gente falar tudo o que a gente aprendeu com ela. Agora, ninguém vai mais nos desrespeitar”.
Foi muito gratificante ouvir isso. Estou certa de que deixo um legado, que eles vão levar para a vida deles”.
*A professora Flávia Renata participa da comunidade do Ler e Pensar há 13 anos e, em 2023, foi a vencedora do Prêmio Professor do ano, na categoria Fundamental 1.
** O Ler e Pensar é uma iniciativa do Instituto GRPCOM que oferece apoio a professores e profissionais da rede pública e educação básica de todo o Brasil, estimulando o uso da informação e das mídias em sala de aula para promover a leitura e a cidadania digital. Para saber mais e fazer parte, acesse: www.lerepensar.com.br
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia