Curitiba, a capital do Paraná, é vista por muitos como a “Europa Brasileira”. Suas ruas e calçadas arborizadas, limpas e bem cuidadas são motivo de orgulho para os curitibanos, verdadeiros fãs dos parques e praças espalhados pela cidade. Porém, longe das ruas do centro e dos bairros nobres, a realidade que se vê pode ser bem diferente: ruas sem asfalto, bairros sem rede de esgoto e ocupações irregulares também fazem parte da realidade da capital.
Segundo a matéria "Moradias em falta e ocupações irregulares: o desafio da habitação em Curitiba e região", publicada em abril deste ano, na Gazeta do Povo, é muito difícil mensurar com certeza quantas famílias vivem nessas situações. Os dados mais recentes são relativos ao ano de 2015 e estimam que cerca de 80 mil moradias precisariam ser construídas para acabar, o ao menos amenizar, o déficit habitacional.
A Companhia de Habitação Popular de Curitiba (COHAB) trabalha para ajudar a diminuir esses índices e atua em diversos bairros da capital, construindo espaços adequados para moradia e implementando novos espaços públicos de lazer, como bosques ou praças. A Vila Nori, localizada no grande bairro do Pilarzinho, é uma das regiões que vêm recebendo a intervenção da COHAB. A região vai ganhar um grande parque, onde antes abrigava uma zona de moradias irregulares, que passavam por constantes riscos.
Colocando a mão na...terra
As mudanças que vêm acontecendo na região chamaram a atenção dos alunos da Professora Geruza Canton Fonseca Silva, da Escola Municipal Pilarzinho. Ao questionar os alunos sobre qual seria o problema a resolver na comunidade, a docente ficou espantada com as respostas que surgiram. "Pude perceber o quanto os estudantes têm a percepção da realidade e como os seus apontamentos foram coerentes com a situação local [...] Falta de rede de esgoto, sinalização de trânsito, calçadas, árvores e excesso de lixo, foram as [respostas] mais apontadas. Pichações, som alto e excesso de barulho causado por motos, também incomodam os estudantes”, contou ela.
Foi a partir dessa conversa que a turma realizou pesquisas na Gazeta do Povo e encontrou várias matérias que traziam a realidade da região. A escolhida foi "Risco de desabamento preocupa moradores do bairro Pilarzinho". A partir dessa discussão e do texto lido, Geruza buscou a colaboração da COHAB. Os agentes levaram as crianças para um trabalho de reconhecimento do local, onde foram feitas as melhorias, e os estudantes tiveram a oportunidade de relembrar como eram esses espaços e o que já está sendo transformado.
A solução encontrada pela turma, com ajuda da técnica ambiental Gabriela Ono, foi o plantio de árvores. Segundo Gabriela, devem ser plantadas 1.400 mudas de árvores nativas em um espaço de aproximadamente 13 mil m² até o fim das obras, e os alunos tiveram a oportunidade de colaborar com esse feito e colocar a mão na massa, ou melhor, na terra.
A organização Missão Caleb também foi chamada para contribuir. Geruza conta que, como as espécies plantadas pelas crianças estavam catalogadas, todas ficaram muito curiosas em saber mais sobre cada uma delas, despertando também o interesse cientifico e pela leitura. O envolvimento da comunidade também foi notável. “Na semana em que estávamos fazendo o plantio das árvores e a limpeza das calçadas, os moradores se ofereceram para ajudar”, relatou a professora que ainda afirmou que as famílias de alguns estudantes participaram dos momentos de plantio e os vizinhos foram até buscar ferramentas mais adequadas colaborar.
Com certeza, será gratificante para todos os alunos ver as árvores que plantaram crescerem junto a eles, principalmente no entorno da escola, e fazendo desse um lugar mais agradável. Como disse Augusto Cury, “todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las”. Podemos dizer que a professora Geruza e todos os alunos da Escola Municipal Pilarzinho, poderão ter muito orgulho da sombra e do ar fresco que ajudaram a cultivar na sua comunidade.
A docente foi uma das 10 melhores professoras do Ler e Pensar em 2019 e conseguiu a 4ª colocação na votação popular, resultado que a enche de orgulho. “Foi um 4º lugar com gostinho de 1º, pois a nossa escola ainda é nova na região e tem menos de 150 alunos”, contou orgulhosa.