Recentemente, após o massacre de Suzano, onde dois jovens invadiram uma escola e almejaram tiros contra colegas e professores, cometendo suicídio logo após o ato, a discussão em torno da educação emocional dos nossos jovens se reacendeu. Mas, a preocupação já vinha crescendo no cenário nacional. Segundo a pesquisa divulgada no mês de setembro de 2018 pelo Ministério Público, o suicídio é hoje a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos. Somente em 2016 foram registradas 11.433 mortes por essa causa, um número 2,3% maior em relação ao ano anterior.
Os dados fazem sentido, quando relacionamos a outra pesquisa realizada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a organização, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% nos últimos 10 anos. No Brasil, o índice chega a 5,8% dos habitantes do país, a maior taxa no continente latino-americano.
Segundo Fátima Marinho, diretora da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o risco de suicídio diminui 14% em cidades que possuem Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), uma evidência de que as políticas públicas tem um papel relevante na reversão desse quadro.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nova diretriz da Educação Brasileira, prevê o desenvolvimento das habilidades sócio emocionais, ressaltando também o papel das instituições escolares nesse processo que deve envolver toda a sociedade. O documento contempla, na oitava Competência Geral, que o aluno deve “conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. ”
Enquanto isso, na escola...
A matéria “Por que é preciso ensinar às crianças que humildade não é uma fraqueza” publicada pelo Sempre Família, site vinculado à Gazeta do Povo, destaca a importância do desenvolvimento sócio emocional durante toda a vida e a importância do diálogo nessa construção e foi escolhida pela professora Cristina Zane Perussolo, da Escola Municipal Nivaldo Braga, de Curitiba, para ser trabalhada com seus alunos, dentro do projeto de educação emocional que já vem sendo desenvolvido na escola.
Segundo Cristina, o texto foi lido e debatido com a turma, levando a uma reflexão sobre os comportamentos sociais e como a forma que cada um se porta pode afetar o todo. Além da matéria, a professora também trabalha em cima de obras literárias e outros gêneros textuais e ainda envolve as famílias na discussão: “[as famílias participam] através da leitura de textos relacionados ao tema no ‘Caderno de Leitura’, nas mensagens enviadas através da ‘Escola de Pais’, no ‘Guia de Gentilezas’, iniciado com a turma e alimentado pelas demais pessoas com quem convivem, e no ‘Caderno de Elogios’, disponibilizado a todos da escola e aos pais nos dias de reuniões”, explica.
Para permitir que os alunos possam se expressar, desabafar ou simplesmente se sentirem ouvidos, a professora ainda elaborou a ‘caixa dos sentimentos’, onde os alunos podem escrever sobre suas vivências ou emoções, desabafando e algumas vezes até mesmo pedindo ajuda.
A professora ainda esclarece que o projeto não é desenvolvido pontualmente, mas durante o ano todo, envolvendo diferentes áreas do currículo e os resultados já podem ser observados. “Os alunos têm mais facilidade de se expressar quando estamos analisando textos ou situações de vivência. Com a leitura da matéria e de outros links, sugeridos ao longo do texto, pudemos explorar comportamentos que interferem diretamente no cotidiano da turma e que algumas vezes causam desconforto, tumulto e até revolta em alguns alunos por se tratarem de atitudes semelhantes as que são relatadas nas reportagens e vídeos. Assim podemos refletir e debater coletivamente, a respeito de atitudes que precisamos melhorar para termos uma convivência saudável em qualquer ambiente que frequentamos”, relata Cristina, orgulhosa.