Imagem gerada por meio da plataforma Dall-E (OpenAI)| Foto:
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No dia 13 de janeiro de 2025, entrou em vigor a lei 15.100, sancionada pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que dispõe sobre a utilização de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais nos estabelecimentos públicos e privados de ensino da Educação Básica por parte dos estudantes, com o objetivo de salvaguardar a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes, inclusive durante o recreio e intervalos entre as aulas. Essa lei permite o uso apenas para a garantia de acessibilidade, inclusão e os direitos fundamentais dos discentes. 

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Observamos que, em alguns casos, o uso de tecnologia e seus dispositivos nas escolas foi prejudicado pela falta de orientação e formação por parte das instituições e das famílias dos discentes, que utilizam os equipamentos para fins diversos, menos os pedagógicos. Poucas instituições buscaram capacitar seus professores a orientarem a comunidade escolar sobre esse tema, transformando essas ferramentas de aliadas em vilãs na sala de aula. 

Como, então, unir o uso da tecnologia para incentivar a leitura na escola a partir de sua proibição? Primeiramente, devemos entender que dispositivos tecnológicos não desaparecerão das escolas; ao contrário, devem ser usados intencionalmente nas práticas pedagógicas. Para citar um exemplo de união entre a literatura e a tecnologia, mais especificamente com os games, o professor poderia criar uma atividade envolvendo Minecraft e a criação de mundos literários, onde, após a leitura do trecho de uma obra, os estudantes pudessem recriar esse fragmento no mundo virtual de forma colaborativa. Outro exemplo seria a criação de um clube de leitura virtual, no qual poderiam postar suas leituras, dicas, opiniões e resenhas, de forma gamificada, em que o nível de interação e produção gere pontos, fomentando o aprendizado e engajamento dos estudantes. Essas boas práticas acima citadas foram realizadas com estudantes de 2º a 5° ano no Colégio Sesi Portão, nos anos de 2022 a 2024. 

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PISA e SAEB comprovam defasagem?  

Dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) indicam que em uma escala de 1 a 5, cerca de 50% dos brasileiros atingem apenas o nível 1 em leitura. Esse público enfrenta dificuldades na compreensão de frases longas e literais, refletindo nos índices de avaliação dos estudantes da Educação Básica. Segundo dados do SAEB de 2021, 60,5% dos estudantes do 9º ano estão nos quatro primeiros níveis da escala de proficiência, evidenciando que muitos não dominam as habilidades básicas esperadas ao final dos anos iniciais do Ensino Fundamental. 

Tecnologia e leitura como aliadas 

Os dados demonstram a necessidade de aproximar os estudantes da Educação Básica da leitura e sugerem que o uso de ferramentas tecnológicas pode constituir o elo para diminuir essa lacuna. É crucial ressaltar a importância do incentivo à formação continuada dos professores que desejam empregar essas tecnologias em sala de aula. A criação de programas e propostas pedagógicas sem a devida formação dos educadores, frequentemente resulta no fracasso desses projetos, assim como no uso inadequado das ferramentas. Outro ponto que merece destaque é a conscientização da comunidade escolar sobre o uso desses recursos, evitando ruídos de comunicação e possíveis mal-entendidos sobre a aplicação destes por parte de estudantes e professores. 

Segundo dados do Instituto Pró-Livro, na pesquisa "Retratos da Leitura do Brasil" de 2020, cerca de 26% da população de Curitiba já leu algum livro digital e 23% já ouviu algum tipo de audiolivro ou audiobook, isso demonstra que a tecnologia faz parte da realidade da população e, consequentemente, também dos estudantes.  

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Uma ação realizada com estudantes do Ensino Fundamental, anos iniciais, no Colégio Sesi Portão, exemplifica a conexão entre tecnologia e incentivo à leitura. O projeto "Biblioteca Viva! - explorando o potencial do podcast como ferramenta de incentivo à leitura" propôs a criação de um podcast voltado para a divulgação de conteúdos literários no ambiente escolar, acompanhado pela implementação de uma biblioteca móvel, proporcionando acesso físico aos materiais discutidos nos episódios. Com o auxílio do professor, os estudantes realizaram um levantamento sobre o interesse dos colegas pela leitura e trocaram dicas de obras com os professores. Em seguida, criaram um roteiro de apresentação, organizando os episódios por tema ou nível de ensino. Para a gravação, utilizaram celulares e tablets, sempre orientados pelo professor, que acompanhou todo o processo. Após a gravação, os episódios foram editados e enviados aos demais estudantes e suas famílias pela Agenda Virtual da escola, além de inscritos na plataforma SoundCloud.  

Essa iniciativa trouxe à tona a discussão sobre a importância do acesso à leitura para os estudantes do Ensino Fundamental. A utilização da biblioteca e das ferramentas tecnológicas mostrou-se eficaz nessa ação, revelando que, em alguns casos, apenas o uso do tablet e o acesso à internet aumentam o engajamento dos estudantes nas atividades escolares. 

Em função dessa prática, o projeto recebeu o “Prêmio Destaque em Promoção da Leitura” na IX FEBIC – Feira Brasileira de Iniciação Científica, realizada na cidade de Pomerode, Santa Catarina, em setembro de 2024.

Marcio Roberto da Silva Garcia é pedagogo, especialista em literatura e autor de livros voltados à infância, foi finalista dos Prêmios Ângelo Agostini e HQmix por duas vezes por suas obras em quadrinhos. Atualmente, é Analista de Educação e Negócios do Departamento Regional da Coordenação de Educação Básica e Formação Continuada do Sistema Fiep.